quinta-feira, 1 de abril de 2010

ONDE E QUANDO 04

Há muitos anos, provoquei a Associação de Arqueologia e Pré-História da Bahia a realizar uma exposição em Salvador sobre o Antigo Egito, pensando na quantidade de pessoas interessadas nessa civilização, tantos eram os livros sobre o assunto em nossas livrarias e os filmes com esse cenário em nossos cinemas. A resposta foi negativa, sob o argumento de que a AAPHBa priorizava divulgar os achados arqueológicos em território baiano, o que aliás foi tão bem feito que se criou o Museu Arqueológico até então proposto pelo Prof. Valentin Calderon na UFBa, mas nunca por ele realizado.
Este blog voltará a tal assunto, tendo entrado nele aqui e hoje apenas para mostrar um viés da Cultura Baiana: o de ACHAR que tudo o que é universal não nos interessa (as livrarias e os cinemas contradizem isso). Assim, pensa-se que editora baiana só deve publicar livro de autor baiano sobre cenário e gente baiana, pesquisadores baianos só devem estudar e analisar a gente e os fatos da Bahia, museus baianos só devem mostrar a arte feita nesta terra e assim por diante, com algumas exceções, da iniciativa de uns poucos intelectuais considerados um tanto deslocados da nossa realidade, às vezes considerados sonhadores, ou coisa parecida.
Outro clube de ciência que surgiu pelo trabalho feito no “Jornal da Bahia”, quando ali escrevia aos domingos a página “Ficção e Realidade”, nos anos 1970, é a Associação de Astrônomos Amadores da Bahia, que foi fundada por seis pessoas com o testemunho de muita gente, sob o entusiasmo da chegada do cometa Kohoutek, mas nunca teve muitos sócios. Se pensar no Egito já era (ainda é) uma atitude preconceituosamente exótica, imaginem observar estrelas e estudar galáxias.
Os sempre poucos e dedicados amantes do céu, no entanto, ainda se reunem, enquanto, com a fundação do Museu acima referido, os amantes da arqueologia foram por este absorvidos e aquela associação desapareceu. Hoje, a AAAB promove eventos bastante interessantes, tendo levado todo o ano passado acoplada às comemorações do Ano Internacional da Astronomia. É pena que a mídia mostre mais interesse em dar espaço para os assassinos de crianças, os embriagados que matam no trânsito, os maridos que espancam mulheres, os traficantes de drogas e os políticos corruptos, do que aos cientistas, amadores ou profissionais, desta terra.
Querem um exemplo? Vamos ver qual o espaço que será dado na imprensa e na televisão para a I Semana de Meteorítica na Bahia, que visa popularizar o estudo, a pesquisa e o achado de meteoritos – as populares “estrelas cadentes” – nome este, que prova a ignorância do povo sobre o assunto.
O esforço que está sendo feito por uma plêiade de idealistas para dar aos baianos uma programação científica de estudo e entretenimento, proporcionará um conjunto de vinte horas de palestras e uma exposição (acesso gratuito) no Museu Geológico da Bahia (Corredor da Vitória) assim como uma excursão guiada ao Observatório Astronômico Antares de Feira de Santana. Acontecerá entre 23 e 30 de abril (programa e outras informações pelo e-mail crosato@ufba.br ou pelo telefone 3283-8558). A realização é do Laboratório de Petrologia Aplicada a Pesquisa Mineral, da UFBA, com a provocação e o apoio da referida associação de astrônomos.

Este é um dos muitos indícios de que se pensa errado sobre o interesse popular.
É uma falsidade a afirmação de que baiano só gosta de tocar tambor, imagem estereotipada e feita justamente pelo muito que se divulga dessa arte (ou apenas prática) musical, cotidianamente. Na Bahia, até os jornais informativos da televisão têm músicos frequentemente compondo o cenário, sob o argumento de que se não o tiver, ninguém sintoniza o programa para obter informação. Maldade! Nós gostamos de música, mas também de ciência. O problema é que ninguém diz “quando” e “onde” acontecem os eventos científicos. Principalmente os programados para o gosto popular.