sexta-feira, 23 de abril de 2010

AVES E NAVES 07

Os documentos que comprovam a estada do padre Bartholomeu Lourenço em Lisboa no ano de 1709 e as suas demonstrações públicas, notadamente a de 5 de agosto, naquele ano, são suficientes para dar a ele a primazia do vôo do primeiro aparelho feito pelo homem, a subir livremente na atmosfera com recursos próprios.
Há um, no entanto, que, além disso, constitui o único texto que afirma ter ele promovido vôos desse aparelho (uma esfera de ar quente com fonte de calor própria) quando ainda se encontrava na Bahia.
Paradoxalmente, esse texto não é científico, mas artístico: um poema. Seu autor, o poeta português Tomás Pinto Brandão, fora companheiro de Gregório de Matos, vivendo em Salvador entre 1682 e 1694, saindo deportado desta cidade, portanto, antes do menino Bartholomeu sair de Santos - onde nasceu - para o seminário de Belém da Cachoeira.
Assim, quando encontrou o padre Bartholomeu Lourenço em Lisboa, em 1709, este já era um homem de 23 anos, famoso por fazer voar suas esferas de ar quente. Era natural que os poetas, como os cronistas, fossem os repórteres e os críticos dos feitos públicos, numa época em que ainda não existia a profissão de jornalista.

Em um dos poemas nos quais tratou do invento desse padre português do Brasil, assim também brasileiro, estão quatro versos que provam ter, tais esferas, voado pela primeira vez na Bahia.

OS SEUS VÕOS NA BAHIA
ALGUM PRINCÍPIO TIVERAM
QUE POR ISTO NÃO O QUISERAM
OS PADRES DA COMPANHIA

As demonstrações feitas com as esferas de ar quente em Lisboa foram necessárias para a obtenção do privilégio que o inventor pedia ao Rei de Portugal. O “alvará de mercê” com o qual o rei concedia esse privilégio está datado de 19 de abril de 1709, o que faz da demonstração realizada para a corte em 5 de agosto do mesmo ano apenas um ato oficial com testemunhas importantes, como o núncio apostólico, Cardeal Michelangelo Conti, doze anos depois Papa Inocêncio XIII.

Evidentemente, uma ou mais ascensões foi ou foram feitas(s) particularmente para o rei, antes deste conceder o privilégio e tanto isso é verdade, que já se sabia do pequeno espaço necessário para ela, programando-se sua demonstração para o ambiente fechado do salão das audiências, no palácio real, a Casa das Índias.
Ora, está muito claro que o 5 de agosto não é a data do primeiro vôo do aeróstato no mundo e muito menos a da invenção, que certamente ocorreu em Belém da Cachoeira, na Bahia, como conseqüência natural dos trabalhos de Bartholomeu com o vapor d’água, degrau do qual passou para o ar quente, como já vimos nesta série de textos.

Das palavras acima, do poeta, podemos tirar outras verdades.
Ele conhecia a Bahia e certamente teve alguma conversa com o Bartholomeu em Lisboa sobre a cidade de Salvador. Deve ter ouvido deste um depoimento sobre os seus inventos em Belém e dos vôos feitos pelo seu aparelho esférico, assim como sobre o porquê de ter saído da Companhia de Jesus ainda como noviço, em 1701, com 15 anos (o Catálogo da Companhia de Jesus de 1705 o dá como ”DIMISSUS” EM 1701), daí concluindo o poeta que “por isso não o quiseram os padres da Companhia”).

Está, portanto, provado e comprovado, que o aeróstato (ainda sem esse nome ou o de “balão”) foi inventado na Bahia, evidentemente em Belém da Cachoeira, por Bartholomeu Lourenço, ainda noviço, anos antes de sua demonstração para o rei em 1709.
Por estas e outras provas, que ainda serão mostradas neste blog.