sexta-feira, 15 de novembro de 2013

MEDO E PRECONCEITO



Crônica científica

 

Estamos em frente a um quadro assustador, nas Filipinas, como tem ocorrido natural e eventualmente, aqui e ali, em todo o planeta, sucessivamente. Quem se tem perguntado como seria o tão temido "fim do mundo" pode fazer uma imagem próxima da real, apenas juntando eventos desse porte, admitindo que ocorram simultaneamente, um tufão aqui, um grande terremoto ali, um vulcão importante acolá. Felizmente, é pequena, pequeníssima, a probabilidade de que tal tragédia, de âmbito mundial, nos atinja, aos que estão vivos neste momento, mas já ocorreu algumas vezes e certamente ocorrerá em outras tantas. Inclusive por causas externas, como a queda de um grande asteroide ou por uma chuva deles, pequenos, tão pequenos que não os podemos detectar a tempo de se tomar alguma providência, com os atuais aparelhos que dispomos na Terra e em órbita. Há um grosso livro do imortal Isaac Asimov, cujo título - Escolha a Catástrofe - nos indica incontável número de possibilidades de tais ocorrências. Não estraguemos o nosso feriado de hoje, contudo, com esse medo em nosso cardápio. O medo, sabemos todos, é filho da ignorância e parente da impotência que limita nossas ações em determinadas situações. É salutar estar com ele - não devemos morrer por imprevidência - mas é doença cultivá-lo e sempre que possamos, cabe-nos afastá-lo com a poderosa arma da informação. O ignorante morre na véspera.

 

Assim, o medo só deve ser usado como alarme, sempre ligado, associado à previdência, que só existe, com informação, muita informação, cada vez mais informação, que costuma ser negligenciada por uma atividade social intensa e até irresponsavelmente divergente, quando se dedica todo o tempo fora do trabalho, à diversão. Dias atrás, vendo e ouvindo o principal noticiário matutino de Salvador, numa sexta-feira como hoje, foi-me dada, como agenda, a programação cultural da nossa cidade para o fim de semana. Todos os eventos estavam associados, de alguma forma, a movimentos de pés e de nádegas. Nada mais. É o caso de perguntar: e no cérebro, não vai nada? O condicionamento nessa direção é tal, que, qualquer tentativa em conduzir uma pessoa para algum tipo de informação e análise, é afastada sumariamente. Isso me faz lembrar outros tempos, quando na minha primeira juventude - já se foram seis décadas, desde então - tínhamos a opção, nas manhãs de domingo, de uma sessão promovida pelo clube de cinema no Cine Liceu, com o privilégio de ouvir antes da projeção do filme, um comentário crítico do grande Walter da Silveira, a chamar a atenção para o movimento da câmera em determinadas cenas e a iluminação em outras, entre tantas possibilidades de "ver" o que os desinformados sequer desconfiam que existe em um filme de bom diretor.

 

A verdade é que nossa sociedade caminha para transformar indivíduos potencialmente cultos em massa disforme de pessoas que valem apenas como números estatísticos. Na educação, por exemplo, o que vale hoje não é a capacidade de ler e interpretar, por exemplo. Muito menos ainda, a de fazer cálculos mais avançados que os meramente aritméticos. O que vale são as estatísticas que apresentam números crescentes de concluintes em diversos cursos, ainda que se saia da escola sem saber nada, porque a ordem do sistema aos professores é uma só: aprovar todos os matriculados, porque se precisa de salas e cadeiras para outras turmas no ano seguinte... Isto também é fim do mundo! O que se colhe com o aumento desenfreado da população, porque se precisa de cada vez mais corpos humanos para as "almas" (de anima, movimento) dos animais que morreram - cães de apartamentos, por exemplo - e que, assim, voltam como gente. Falando (ou escrevendo) coisas tais, colhe-se o patrulhamento dos "intelectuais" de plantão que adoram a palavra "preconceito" e a carimbam em todas as testas disponíveis à sua frente. Quem vê um ser humano latindo na rua e diz que ele é um cão em sua primeira encarnação como homem, para atender o aumento de corpos humanos na Terra, pode ser processado por preconceito, por alguém que tem algum medo cravado em seu cérebro e teme ser atingido por alguma observação desse tipo. Hoje, é muito difícil fazer ciência, porque esta não se faz sem ter hipóteses antes das teses. Há sociólogos (políticos ideológicos) que fazem sua ciência apenas com emoção, paixão, não raramente cultivada num jardim de traumas de infância. São estes, sempre de plantão nas esquinas, prontos para assustar quem as dobra, os que pregam a palavra "preconceito" em tudo que é contrário à sua própria visão, por medo de ligar a luz. Costumam ser os mesmos que querem ainda mais gente no mundo, porque é na ignorância e no caos que conseguem cultivar sua política barata e demagógica, baseada no ódio, num cérebro cheio de preconceitos, isto é, de afirmações baseadas apenas na paixão, sem qualquer hipótese científica a sustenta-las. Como se pode deduzir, há muitas possibilidades de se ter uma catástrofe. Quanto ao mundo, cientificamente, pode mudar o seu cenário e seus ocupantes, mas nunca se acaba.

 

Adinoel Motta Maia

 









sexta-feira, 8 de novembro de 2013

A ARTE DE FECHAR OS OLHOS


Crônica Científica

A notícia de ontem, na televisão, dizendo que a Terra está sofrendo um bombardeio de pequenos asteroides, é sem dúvida, assustadora, Nenhum de nós está livre, na Terra, de ter um deles a explodir em nossa atmosfera, chovendo pedra e/ou ferro em nosso quintal. Ou, o que pode ser pior, do choque de um deles, inteiro, no centro de uma cidade grande, por exemplo. A notícia acima referida fala de mais de mil mortos na Rússia, dias atrás, quando ocorreu tal explosão sobre uma pequena comunidade. Os grandes asteroides estão sendo monitorados pela ciência telúrica, de modo que, catástrofes como a do desaparecimento dos dinossauros e por um tempo, de todas as demais espécies animais, na superfície de nosso planeta, ocorrida há dezenas de milhões de anos, sendo hoje possíveis, talvez possam ser evitadas, se tivermos tempo de mandar algo ao seu encontro, capaz de desviar sua trajetória. Os demais, de relativamente pequeno porte, não são monitorados, porque são muitos e não facilmente detectáveis a tempo de se tomar qualquer providência. Estamos, portanto, ao sabor do azar.

Dir-se-á que cada um de nós pode morrer a qualquer momento na rua violenta das cidades brasileiras, com muito maior probabilidade do que com a chegada de um asteroide. Pura verdade, que leva muita gente a preferir as novelas do que os noticiários de televisão, fechando os próprios olhos para tudo e vivendo na ignorância. Por outro lado, há a verdade também muito verdadeira de que um dia será o último de todo indivíduo animal na Terra, por razões naturais, inclusive com limite que nos é dado pela glândula pituitária, responsável pelo controle da reprodução celular, que só seria garantida até os 144 anos de vida, no homem. A boa notícia é que após uma vida há outra, mas muitos de nós não acreditam nisso porque estão condicionados por igrejas que confundem tudo, afirmando o que não deve ser afirmado, que só temos uma vida, após o qual o destino é definitivo para a nossa "alma" (seria mais correto dizer "ego", porque alma vem de anima, que significa movimento e corresponde à força que dá movimento aos animais, os únicos seres que se movem). Este é um dos maiores fatores que estimulam a corrupção, entre tantas formas de criminalidade, porque há idiotas que dizem: "Se só tenho uma vida, vou gozá-la da melhor forma possível". Isso não justifica, mas explica porque vivem como se estivessem numa luta de "vale tudo", contra todos. Ao contrário do que dizem essas igrejas, não há perdão para quem não sabe o que faz, justamente porque não se sabe o que se faz por causa de sua própria ignorância, por preferir a diversão à informação.

Sem ciência, não há salvação.

Não nos esqueçamos jamais, que o hoje é o amanhã do ontem, como é o ontem do amanhã. Algo tão óbvio costuma não ser considerado pela maioria das pessoas, que não constroem hoje o seu amanhã, esperando que tudo caia do céu ou do programa "bolsa-família", obra de governo que estimula a preguiça, a acomodação e  pobreza, mantendo os ignorantes sob o controle dos políticos. Tem gente que se orgulha de receber essa esmola. Fala-se que isso é amor do governo pelos pobres. As igrejas também costumam confundir o que é amor, trocando causa com efeito. Mais uma vez, falta de ciência e estímulo à ignorância, porque todo gado precisa de vaqueiros. Depois que os poetas perderam a Lua para os astronautas e as estrelas para os telescópios em órbita da Terra, é a vez de aceitar o amor como força de atração entre as partículas subatômicas (na Física isso tem o nome de força fraca ou, como diz o físico Jean Charon, "espírito") que formam não só os átomos como todos os corpos. Vê-se que o mundo está cada vez mais excitante para os cientistas e perdendo a graça para os artistas. O que é mais uma razão para trocar o samba-de-roda pelo Google, como atividade de cultura e lazer. Mais estímulo para o cérebro, que comanda, do que para as nádegas, que obedecem.

Adinoel Motta Maia

sexta-feira, 1 de novembro de 2013

A BTS E O GOLFO DA BAHIA


Crônica científica

Alguém pode estranhar a ocorrência de uma missa a encerrar um evento científico, porque há um preconceito de que não se mistura Ciência com Religião, isto é, Razão e Fé. Preconceito, sim, porque se faz um conceito sem examinar cientificamente - esgotando todas as abordagens possíveis - o que se entende por Fé ou Religião. Diga-se que a culpa disso é apenas dos religiosos que preferem impor suas afirmações sem submetê-las à investigação científica, mas, por outro lado, há uma postura dos cientistas em menosprezar a paixão como algo totalmente fora do escopo da investigação objetiva dos laboratórios, restringindo-a aos limites da subjetividade, isto é, das construções da mente. Este divórcio pré-estabelecido por conveniências, digamos, burocráticas, ao longo dos milênios de cristianismo e islamismo derivados do judaísmo é responsável pela recusa digamos puramente dogmática da ressurreição contínua do ego eterno - alma, para uns; espírito, para outros - em sucessivas ligações com diferentes corpos animais, em permanente evolução. Nesse contexto, observe-se que cresce bastante uma outra postura, de intelectuais independentes, de origem familiar cristã, na direção do ateísmo ou do chamado espiritismo não cristão, que tangencia religiões mais antigas, como o hinduísmo e o budismo, entre outras, onde se exercita uma prática experimental - científica, portanto - de projeção da mente objetiva (do cérebro), fora do corpo.

Estas palavras introdutórias se devem à realização de uma missa, hoje, dia de Todos os Santos, às 8 horas da manhã, na Igreja de São Pedro, no Largo da Piedade - com o competente sermão do Padre Aderbal - como tem ocorrido desde 2010, comemorando os 512 anos da descoberta da Baía de Todos os Santos, assim denominada pela expedição do português Gonçalo Coelho, com três naus - as duas outras com Gaspar de Lemos e Amerigo Vespucci, vinda de Portugal com missão exploratória desde o Rio Grande do Norte até onde terminassem as terras dessa costa que já sabemos irem até a Patagônia, no extremo sul da Argentina. Não há no Brasil uma popularização de "Todos os Santos", conforme instituídos pela Igreja Católica e festejados em países como Portugal e Itália, onde existem paróquias a eles dedicadas - o próprio Vespucci teria sido batizado numa delas, em Florença - nesta data de 1º de novembro, aquela em que a frota portuguesa aqui chegou, em 1501. Essa missa encerra a Semana da Baía de Todos os Santos, realizada anualmente pelo Gabinete Português de Leitura, com uma exposição e três palestras em sua sede, desde 2010, a partir de 26 de outubro. Um evento científico, como dissemos, que se encerra com um ritual religioso, católico, na paróquia de São Pedro, onde se situa a sede do Gabinete Português de Leitura.

Neste ano, a exposição foi realizada pelo geólogo Rubens Antônio da Silva Filho, dando notícias, já, de um trabalho que realiza com modelos reduzidos em três dimensões, reproduzindo o relevo de Salvador, sua geomorfologia. Atuando no Museu Geológico da Bahia, esse cientista experimenta esse modo para o aprendizado de pessoas com deficiência visual, que andam pela cidade e a vêm com os próprios pés, podendo agora senti-la na ponta dos seus dedos, percorrendo vales e colinas feitos em escala dupla - horizontal e vertical - assim "vendo" a cidade como se fosse em um mapa. Ainda em desenvolvimento, esse trabalho parece ser inédito e é científico, mas o seu alcance social o faz merecer todo o apoio, principalmente de divulgação, contra a cegueira dos que tratam os deficientes visuais apenas politicamente.  As três palestras realizadas - também científicas - foram programadas para mostrar como a geologia fez a geografia e nesta ocorreram os fatos históricos, particularmente os relacionados com os transportes, na Baía de Todos os Santos. A primeira delas, a cargo do Prof. Dr. José Maria Landim Dominguez, do Instituto de Geociências da UFBA, mostrou como surgiu e evoluiu a Baía de Todos os Santos, geologicamente. Referência nacional em sua área científica, o Prof. Landim encheu os olhos e os cérebros de um auditório lotado, que viu as imagens projetadas e ouviu suas palavras reveladoras de um passado de eventos assustadores que formaram a belíssima baía que pode ser a maior do mundo e não sabemos disso, nem a conhecemos, unicamente por preguiça crônica. Só é pobre quem quer...

Na segunda palestra, do geólogo Rubens Antônio, este deitou e rolou com o seu magnífico trabalho de reprodução em três dimensões da cidade de Salvador, projetando imagens desta com seus prédios e suas vias, mas logo desnudando-a, sem eles, como foram encontrados seus vales e colinas, apenas com a vegetação a revesti-los. Autor de um livro, que logo ganhará segunda edição, sobre a história da geologia na Bahia, esse cientista mostrou essa história que os baianos lamentavelmente não conhecem porque não querem. A terceira palestra, sob nossa responsabilidade, montou nesse palco geológico e geográfico da Baía de Todos os Santos, a história dos seus meios e vias de transporte, com ênfase na sua travessia e na contribuição para sua economia, desde os saveiros até o ferry-boat, desde os anos 50 do século passado, quando se começou a sofrer as pressões do poder econômico do petróleo e da indústria automobilística, desmontando a infraestrutura ferroviária e o transporte marítimo em benefício do automóvel. Mais que isso, no entanto, pudemos revelar, com base na ciência geológica confirmada pelos palestrantes anteriores, uma omissão dos geógrafos, que até hoje não descobriram o Golfo da Bahia, que temos em nosso litoral e que é formado pelas baías de Todos os Santos, de Cairu e de Camamu, num único conjunto geológico revelado nesta IV Semana da BTS e que não é outra coisa, se não um golfo. Estamos pedindo um congresso brasileiro que nos permita mostrar esta descoberta assim tardia e exibir para o mundo, nos mapas oficiais, sua presença na costa brasileira, oficializando-a. Sobre este assunto, remeto os interessados para o meu blog http://adinoel-blogart.blogspot.com, onde se encontra um primeiro artigo pequeno, mas completo, sobre essa descoberta.
 
Adinoel Motta Maia


sábado, 26 de outubro de 2013

IV SEMANA DA BTS


Notícia científica

Na manhã deste sábado, foi aberta, no Gabinete Português de Leitura, no Largo da Piedade, a IV Semana da Baía de Todos os Santos e nela, uma exposição de pequenos modelos reduzidos em três dimensões que mostram a geomorfologia da cidade de Salvador, da Baía de Todos os Santos e do Estado da Bahia, resultantes do estudo e do trabalho do geólogo Rubens Antônio, do Museu Geológico da Bahia. Essas peças estarão ali durante toda a próxima semana, no horário comercial, com acesso livre e gratuito, sendo permitido aos interessados tocar nos modelos, acompanhando com o tato, na ponta do dedo, as elevações e depressões, de modo que, por exemplo, poder-se-á ver e sentir o fundo do mar na baía, os vales dos rios na cidade e as cumeadas onde andam, vivem e trabalham os moradores dos diversos bairros.

Esse trabalho, ainda em desenvolvimento pelo referido geólogo, já pode ser mostrado num primeiro momento, de modo que tende a crescer com o tempo e ganhar escalas ampliadas, havendo estímulo e sustentação nesse sentido. É esta uma ação inovadora, que o Rubens Antônio explicará em uma palestra que acontecerá no mesmo local, na terça-feira, às 17 horas, também com acesso livre, discutindo questões como as modificações do relevo da cidade desde sua ocupação pelos portugueses no século XVI e pelos seus invasores holandeses no século XVII. Uma rara oportunidade para se discutir cientificamente essas ocupações e melhor compreender a distribuição comunitária nesse espaço.

No dia anterior, na segunda-feira, no mesmo local e horário, outro geólogo, o Prof. José Maria Landim Dominguez, do Instituto de Geociências da Universidade Federal da Bahia, falará sobre a geologia da Baía de Todos os Santos. Essa abordagem é fundamental para compreender a geografia da costa baiana nesse segmento e como esta influiu na história produzida pelos mesmos colonizadores e invasores. Não se pode compreender a História, sem conhecer a Geografia e nem se saber das causas formadoras desta sem o estudo da sua Geologia. Também esta é uma realidade a ser conhecida em rara oportunidade, devendo os interessados estar no local rigorosamente no início da palestra, às 17 horas.

Finalmente, na quarta-feira, estaremos também ali, no mesmo horário, mostrando como tudo isso contribui para um posicionamento da Baía de Todos os Santos no panorama mundial e de como esta, ao lado das baías de Cairu e Camamu formam o que devemos começar a chamar de Golfo da Bahia. Faremos, então, essa proposta com base científica, de modo que possamos ter um local de pesquisa, estudo e memória dos transportes não só nas baías propriamente ditas, como nas suas zonas de influência, isto é, nos municípios do seu recôncavo, servidos pelos rios que nelas desaguam.

Esperamos que com tais abordagens possamos estimular ações públicas e privadas no sentido de que elas sejam promovidas para o desenvolvimento turístico, social e econômico nesse complexo geográfico.

Adinoel Motta Maia

sexta-feira, 18 de outubro de 2013

FAVELA É VERGONHA


Crônica científica

Todos nós sabemos o que é uma favela, habitualmente formada pela invasão de terrenos baldios, públicos ou privados - estes abandonados ou tomados de assalto - por pessoas miseráveis que precisam de abrigo e o constroem de modo improvisado, com materiais disponíveis, sem qualquer cuidado estrutural e com nenhuma preocupação estética. Caprichosamente, não havendo oposição ou impedimento, nessa ação, esse abrigado vai melhorando a estrutura e o aspecto do seu chamado "barraco", que ganha alvenarias de tijolo cerâmico, teto de zinco ou cimento - telha ou laje - e esquadrias de madeira. Não raramente, sua ação é imitada e paulatinamente outros fazem junto daquele primeiro abrigo, outros casebres, sem qualquer planejamento do espaço circundante, com olhos fechados do poder público, interessado político em votos daquela gente que não deve ser contrariada, enquanto comerciantes de materiais de construção facilitam e até patrocinam a aquisição de tudo o que precisam esses construtores improvisados, não raramente financiando-os com "suaves prestações mensais".

Todos nós sabemos que o nome "favela" foi empregado com essa conotação, pela primeira vez, no Rio de Janeiro, espalhando-se por todo o Brasil, nessa prática que atesta sobretudo o abandono da coisa pública, ainda que em terreno privado, faltando o que se chamaria de "planejamento urbano", se existisse, dentro do que chamamos de "administração municipal" e ainda, se quisermos, de uma terceira entidade quase sempre ignorada, que é a "cidadania". Em outras palavras, essa omissão, tem um só nome: vergonha nacional. Mostra que não somos civilizados, porque aceitamos a prática selvagem de cada um fazer o que quer onde quer, como quer. Exatamente como procedem os animais, na floresta. Aceitamos o "animal urbano" como se isso fosse caridade. Na realidade é um "lavar as mãos", deixando o miserável ao sabor de sua ignorância e aprendendo com sua experiência, imitando o vizinho e buscando de alguma forma o dinheiro que o sustenta naquela estrutura absurda, como se fosse folclore.

Procuro hoje, uma abordagem científica - não passional, portanto - para o que já está gerando manchetes em outros países, na medida em que o Brasil vai atraindo atenção, seja porque a violência aqui está na vitrina em todo o mundo, seja porque vamos fazer uma competição mundial de futebol ou seja ainda porque a corrupção se mostra avassaladora na administração pública, em todos os níveis: municipal, estadual e federal. Evidentemente, escrevo para leitores racionais, intelectuais, capazes de encarar tudo sem os desvios da paixão, que pretende justificar a injustiça do tratamento equânime para os bandidos e suas vítimas, que dá direito às feras de comer os incautos. Como ocorre na floresta, isto é, no mundo animal, em ambiente vegetal, onde ninguém está preocupado com as causas dos fenômenos climáticos ou quaisquer outros, aceitando tudo como vontade divina.

A palavra mágica que muda tudo isso é planejamento. Houve época em que não se planejava nada no Brasil. Pouca gente sabe que o planejamento começou no mundo, entre os homens, em suas ações militares, nas batalhas que envolviam dezenas de milhares de soldados. Por isso, quando os militares assumiram o poder no Brasil, os políticos foram obrigados a fazer planejamento, a começar por se criar um Ministério do Planejamento. Hoje, tirando-se os militares do poder, temos dezenas de ministérios que planejam, mas não executam e ainda assim, falta planejamento. A maior causa de favelas no nosso país é a migração da agricultura para a indústria e consequentemente, do campo para as cidades e das pequenas para as grandes cidades, em volta das quais estão as fábricas. Os que procuram emprego nestas, não os encontrando, ficam por ali mesmo, fazendo barracos e criando favelas, que são politicamente chamadas de comunidades, com seus líderes, que levam votos para... (vamos ficar por aqui). Já temos mais partidos políticos no Brasil do que clubes de futebol no campeonato brasileiro. Enquanto isso nossas grandes cidades vão ficando maiores e as pequenas cidades do Interior vão sumindo, até que tudo vire um deserto. Somos uma só anedota, para o riso internacional, nos lugares civilizados.

Em síntese, precisamos deslocar a Capital do Estado - cada Estado - para pequenas cidades do interior, como acontece, por exemplo, nos Estados Unidos, levando para outras cidades pequenas, a população que está nas grandes cidades. Como se faz isso? Com planejamento e leis que sejam cumpridas. É preciso não confundir: o direito de ir e vir não significa o direito de ficar onde não há lugar. Não se pode entrar e ficar numa sala de cinema, quando ela já está lotada. Por que se pode entrar e ficar numa cidade, quando ela já está lotada? Porque não se faz ciência, não se faz estatística ou se faz apenas para publicar em jornal. A política não deve ser conduzida com paixão partidária. Não se governa um país como se faz um campeonato de futebol. Os políticos não apoiam a ciência porque não a querem. Querem a bagunça. Querem o caos. Como os micróbios, é nele que sobrevivem...

Adinoel Motta Maia

sexta-feira, 11 de outubro de 2013

AMAR AO PRÓXIMO


Crônica científica

Nada desperta mais interesse no ser humano, do que outro ser humano. O outro. O próximo, que se ama como a si mesmo. O que chamamos de "amor" nada mais é do que a atração universal que um exerce sobre o outro. Isto vale para as estrelas e os planetas, como vale para nós, como vale para os átomos entre si e neles, para prótons e elétrons; também para estruturas de consciência mais velozes que a luz e finalmente, na base de tudo, para consciências pontuais - "existo aqui e agora" - que ocupam posição no espaço infinito - o "Nada" - atraídas por essa força universal que as une e as coloca tão próximas, que, se estivessem mais próximas seriam elas mesmas, separadas por intervalo tão pequeno que se fosse menor não existiria, no universo que o matemático e filósofo alemão Leibniz disse ser o dos entes infinitesimais. Por isso, estamos tão interessados em nossos familiares, em nossos vizinhos, em nossos amigos, em outros seres humanos, assim como em gatos e cachorros, e daí por diante. Por isso as novelas de televisão exploram o relacionamento entre as pessoas e os homens sofrem pelos seus times de futebol ou pelos que morrem na guerra e nas catástrofes naturais. Porque amamos aos outros, como a nós mesmos e não há quem impeça isso, mesmo quando se odeia por ter um interesse próprio contrariado por esse outro, justamente porque aumenta sua velocidade e se afasta, deixando de ser "o próximo". Como um planeta sairia de órbita, em volta de sua estrela, se aumentasse sua velocidade de translação. Tudo isso está na Física, mas igualmente na Psíquica e é a base da construção do Universo e da própria Consciência de Deus.

Aí, alguém diz: "Eu não odeio o outro porque estou em alta velocidade, em volta dele!" Em seguida, pode vir a explicação: "Eu odeio meu vizinho porque não me deixa dormir com o som que ele põe em alto volume, em sua casa!" Em verdade, podemos ter duas pessoas paradas, sentadas, uma em frente à outra, olhando-se e trocando faíscas de ódio, que é a força de repulsão, contrária à força de atração, que é amor. O que temos de ver com toda a clareza é que, neste caso, não são os dois corpos físicos, assim tão próximos e parados, que se odeiam, que se repelem. Se colocamos os dois a dormir, ali, um em frente ao outro, não haverá ódio. O amor, como o ódio - a atração, como a repulsão - são forças psíquicas, que só existem quando há consciência, que pode estar parada e pode mover-se. Quando dormimos, nossa consciência está parada. Há quem acorde lerdo, recusando-se a pensar, pensando apenas em sair da cama ou em ficar mais um pouquinho sob as cobertas, porque está muito frio fora delas, assim mantendo-se psiquicamente quase parado, sem preocupações, sem agenda a cumprir porque é domingo e sem pressão externa a obriga-lo a pensar. Essa pessoa está psiquicamente em baixa velocidade, rigorosamente atraída a manter-se na cama, mas podendo levantar-se, vestir sua bermuda e calçar seu tênis, pulando para fora de casa a correr no seu exercício matinal cotidiano, mantendo-se psiquicamente em baixa velocidade, acenando para os vizinhos, olhando a paisagem e pensando apenas em sua respiração. Nessa pessoa, só há amor, atração. Pode estar fisicamente em alta velocidade, mas psiquicamente parada ou quase parada.

Numa outra situação, há quem acorde excitado porque foi dormir tarde, o caminhão que recolhe o lixo ficou dez minutos em frente à sua casa fazendo barulho às 3 horas da madrugada e sendo domingo, o vizinho o acordou às 7 horas, com um som alto a executar o hino do Bahia, por exemplo. Essa pessoa rolará lentamente na cama, insistindo em dormir, mas o seu cérebro - a sua consciência - estará a mil quilômetros por segundo, lamentando tudo, odiando todos ao mesmo tempo, assim psiquicamente em alta velocidade, apesar de estar fisicamente parado, deitado. O sofrimento, a paixão, é um estado psíquico de alta velocidade, num cérebro que pode estar em um corpo parado ou em movimento. Isto compreendido, podemos aceitar duas pessoas paradas a se odiarem, olhando uma para a outra, cada uma com a própria consciência explodindo de tanto pensamento em altíssima velocidade, querendo sair de órbita, em repulsão. Evidentemente - aproveitemos para dizer - não são apenas os seres humanos ou animais, que têm consciência de sua posição e do seu movimento.

Também, não são apenas os corpos físicos que reagem à ação do outro, como a pedra reage ao ácido que a corrói, porque tem consciência do ataque que sofre. As reações químicas são frutos da consciência que um elemento químico tem do contato com o outro. A dificuldade que o homem tem em frente a esse tipo de informação se deve à sua "crença" científica de que só há consciência no cérebro. Quando o homem compreender que a consciência é universal e se encontra num simples ponto geométrico, sem dimensão, mas com posição própria no espaço infinito, não mais precisará de religião ou de qualquer "crença", porque saberá tudo, inclusive que sua própria consciência é eterna e tanto maior, quanto mais conhecimento tiver. Além da Física, limitada à velocidade da luz, é necessário conhecer a Psíquica, porque o pensamento é mais veloz que esta e pode estar em todos os lugares ao mesmo tempo. Tudo isto está em nossa Teoria Unificada do Universo, já publicada desde 2007 e disponível gratuitamente no Google.

Adinoel Motta Maia



sexta-feira, 4 de outubro de 2013

CIÊNCIA E DESPORTO


Crônica científica

Primeiros dias de primavera, vejo agora da minha janela, nesta linda manhã de céu alvi-azul. a juventude colorida do colégio estadual Manoel Novais nas ruas, desta vez não para fazer os necessários e justos protestos que são parte do jogo político formador da cidadania, mas justamente para saudar sonora e visualmente a Primavera, a partir da data do equinócio que nos leva para a parte do ano em que o Sol - criador da vida - é mais atuante em nosso habitat. Isto nos leva a dias da nossa juventude, nos anos em que a Primavera era recebida com os jogos olímpicos intercolegiais, abertos com grandioso desfile no Estádio Octávio Mangabeira, na Fonte Nova e realizados amplamente nas semanas seguintes, com jovens de todos os colégios em campos, quadras, pistas e arquibancadas cheias e vibrantes. Sabia-se, então, que o desporto dignifica o homem na prática do fair-play e sobretudo cria líderes sadios para todos os setores da vida, na política, na administração pública e na atividade empresarial. Quando iremos recuperar a sanidade mental e física de um desgoverno que abandonou tudo isso?

Hoje, para começar este discurso, temos de lamentar a ação danosa, que destruiu todas as instalações olímpicas do complexo desportivo da Fonte Nova, onde tínhamos um ginásio de modalidades praticadas por equipes - voleibol, basquetebol, futebol de salão, etc. - além de uma piscina olímpica e uma pista de atletismo em torno do campo de futebol. Abandonou-se essas instalações e tais modalidades desportivas e depois destruiu-se tudo isso para fazer uma arena para eventos de interesses econômicos - o futebol profissional e os espetáculos de música popular - cometendo-se um erro digno de muares: a retirada do nome de um dos maiores homens que a Bahia preserva - Octávio Mangabeira - para colocar o de uma cerveja, num estádio que, assim, virou circo e recebeu nome adequado a quem perde a consciência com o álcool. Consciência que, de fato, está faltando a governantes que valorizam mais  bebida alcoólica do que a atividade física, em nosso Brasil. Assim, paradoxalmente, quando o País se mete a realizar jogos olímpicos mundiais, a Bahia fica sem onde praticar o desporto olímpico. Hoje, em toda a cidade de Salvador, não há uma única piscina olímpica.

Não é só o Desporto baiano que está de luto. No outro lado da moeda, a Ciência é simplesmente esquecida. Naquela época em que se tinha as olimpíadas da primavera, nós usávamos as páginas do Jornal da Bahia para promover a  fundação de clubes de ciência e encher o auditório daquele jornal com jovens interessados em astronomia, arqueologia e até - imaginem! - malacologia, que não direi o que é para obrigar os leitores a irem ao dicionário. Não por pirraça, mas para mostrar que os jovens respondiam aos estímulos científicos até em áreas jamais divulgadas anteriormente. Também isso se perdeu. Nossa juventude foi jogada às feras, isso é, ao marketing das empresas cervejeiras e das indústrias de objetos de consumo, que dominam as atividades sociais como o carnaval e outras festas, colocando as pessoas a se dedicarem às suas capacidades animais - de movimento (anima) - e escondendo suas potencialidades intelectuais - da mente (intellectu).

Lamento trazer uma visão negativa para a espécie humana, digna de ficção científica hoje, mas provavelmente sem ficção no futuro. Ao invés de forçar o desenvolvimento de nosso cérebro biológico para uma evolução que aumente esse cérebro, unicamente por conforto, estamos transferindo nossas atividades mentais para a máquina dotada de cérebro eletrônico. Chegará o dia, assim, em que essa máquina se reproduzirá por fabricação determinada por ela própria, sem as limitações da vida biológica, podendo espalhar-se por todo o sistema solar. Quando isso for possível, ninguém duvide - pasmem, todos! - os seres biológicos serão inferiores e os egos sapienciais, que hoje já se ligam a cérebros neurais em seres humanos, poderão ligar-se a cérebros eletrônicos em robôs. Os sapienciais nos tratarão, no futuro, como nós, intelectuais, tratamos hoje os animais. A boa notícia é que os intelectuais de hoje poderão ser os sapienciais do futuro, porque, em verdade, nós somos eternos em nossos egos externos. É o que diz a Psíquica.

Adinoel Motta Maia