sexta-feira, 4 de outubro de 2013

CIÊNCIA E DESPORTO


Crônica científica

Primeiros dias de primavera, vejo agora da minha janela, nesta linda manhã de céu alvi-azul. a juventude colorida do colégio estadual Manoel Novais nas ruas, desta vez não para fazer os necessários e justos protestos que são parte do jogo político formador da cidadania, mas justamente para saudar sonora e visualmente a Primavera, a partir da data do equinócio que nos leva para a parte do ano em que o Sol - criador da vida - é mais atuante em nosso habitat. Isto nos leva a dias da nossa juventude, nos anos em que a Primavera era recebida com os jogos olímpicos intercolegiais, abertos com grandioso desfile no Estádio Octávio Mangabeira, na Fonte Nova e realizados amplamente nas semanas seguintes, com jovens de todos os colégios em campos, quadras, pistas e arquibancadas cheias e vibrantes. Sabia-se, então, que o desporto dignifica o homem na prática do fair-play e sobretudo cria líderes sadios para todos os setores da vida, na política, na administração pública e na atividade empresarial. Quando iremos recuperar a sanidade mental e física de um desgoverno que abandonou tudo isso?

Hoje, para começar este discurso, temos de lamentar a ação danosa, que destruiu todas as instalações olímpicas do complexo desportivo da Fonte Nova, onde tínhamos um ginásio de modalidades praticadas por equipes - voleibol, basquetebol, futebol de salão, etc. - além de uma piscina olímpica e uma pista de atletismo em torno do campo de futebol. Abandonou-se essas instalações e tais modalidades desportivas e depois destruiu-se tudo isso para fazer uma arena para eventos de interesses econômicos - o futebol profissional e os espetáculos de música popular - cometendo-se um erro digno de muares: a retirada do nome de um dos maiores homens que a Bahia preserva - Octávio Mangabeira - para colocar o de uma cerveja, num estádio que, assim, virou circo e recebeu nome adequado a quem perde a consciência com o álcool. Consciência que, de fato, está faltando a governantes que valorizam mais  bebida alcoólica do que a atividade física, em nosso Brasil. Assim, paradoxalmente, quando o País se mete a realizar jogos olímpicos mundiais, a Bahia fica sem onde praticar o desporto olímpico. Hoje, em toda a cidade de Salvador, não há uma única piscina olímpica.

Não é só o Desporto baiano que está de luto. No outro lado da moeda, a Ciência é simplesmente esquecida. Naquela época em que se tinha as olimpíadas da primavera, nós usávamos as páginas do Jornal da Bahia para promover a  fundação de clubes de ciência e encher o auditório daquele jornal com jovens interessados em astronomia, arqueologia e até - imaginem! - malacologia, que não direi o que é para obrigar os leitores a irem ao dicionário. Não por pirraça, mas para mostrar que os jovens respondiam aos estímulos científicos até em áreas jamais divulgadas anteriormente. Também isso se perdeu. Nossa juventude foi jogada às feras, isso é, ao marketing das empresas cervejeiras e das indústrias de objetos de consumo, que dominam as atividades sociais como o carnaval e outras festas, colocando as pessoas a se dedicarem às suas capacidades animais - de movimento (anima) - e escondendo suas potencialidades intelectuais - da mente (intellectu).

Lamento trazer uma visão negativa para a espécie humana, digna de ficção científica hoje, mas provavelmente sem ficção no futuro. Ao invés de forçar o desenvolvimento de nosso cérebro biológico para uma evolução que aumente esse cérebro, unicamente por conforto, estamos transferindo nossas atividades mentais para a máquina dotada de cérebro eletrônico. Chegará o dia, assim, em que essa máquina se reproduzirá por fabricação determinada por ela própria, sem as limitações da vida biológica, podendo espalhar-se por todo o sistema solar. Quando isso for possível, ninguém duvide - pasmem, todos! - os seres biológicos serão inferiores e os egos sapienciais, que hoje já se ligam a cérebros neurais em seres humanos, poderão ligar-se a cérebros eletrônicos em robôs. Os sapienciais nos tratarão, no futuro, como nós, intelectuais, tratamos hoje os animais. A boa notícia é que os intelectuais de hoje poderão ser os sapienciais do futuro, porque, em verdade, nós somos eternos em nossos egos externos. É o que diz a Psíquica.

Adinoel Motta Maia