sexta-feira, 26 de outubro de 2012

QUEM ACEITA FRUTA ESTRAGADA

Crônica

Estou vindo do Gabinete Português de Leitura, onde iniciamos a III Semana da Baía de Todos os Santos, com uma sessão informal no auditório e a abertura de exposição intitulada "Naufrágios na Baía de Todos os Santos". Conversou com as pessoas presentes, o Prof. Eng. José Goes de Araujo, autor do livro Naufrágios e Afundamentos na Costa Brasileira, do qual se tirou elementos para situar num grande mapa da BTS, os lugares onde se encontram embarcações afundadas. Referiu-se ele ao fato de que antes de termos sequer equipamentos apropriados para mergulhar ali, os americanos vieram e levaram tudo o que encontraram nos barcos naufragados. Depois disso, conseguiu-se os tais equipamentos e foram realizados os mergulhos que ainda acharam alguma coisa. Os achados oficiais renderam peças para nossos museus. Os outros, para colecionadores particulares ou pessoas que ainda os tentam comercializar. Recentemente, noticiou-se em jornal, que alguém encontrou um canhão no fundo do mar, nas proximidades do Rio Vermelho. Seguiu-se a informação de que a Marinha foi lá e tomou o canhão. Finalmente, ouviu-se dizer: "Bem feito! Quem mandou abrir o bico?"

Este é um exemplo do que ocorre com tudo neste Brasil, onde se cata fruta estragada no chão, para não se ter o trabalho de subir na árvore. Estamos acostumados em ficar com o aceitável, por não sairmos atrás do perfeito, por não querer chegar primeiro, por não se valorizar - por falta de educação - o que os povos educados valorizam. O que se entende como cultura, desde a escola, aqui, é o som que induz ao sacolejo do corpo. Nestes dias, estou lendo nos murais que a Biblioteca Pública da Bahia está relizando festa de música e dança, certamente porque não consegue atrair mais ninguém para os livros. Para não perder o emprego por não ter o que fazer, os bibliotecários agora balançam as nádegas, tentando assim garantir a frequência nas bibliotecas.

Estou a ouvir os nossos gênios da pedagogia: "Não se deve forçar a criança a aprender ou fazer o que não quer!" Quem não quer usar o cérebro, pode, assim, usar o corpo. Assim, o que importa, hoje, na escola, é a presença do aluno em sala de aula. Não se reprova mais por falta de conhecimento. O que está no manual é aprovar todos para que no ano seguinte, outra turma tenha sala onde sentar. Ao fim do curso, as estatísticas mostram que temos mais tantos e quantos jovens prontos para o vestibular, não havendo problema para os que sabem menos, porque estes - os menos ruins - vindos de escola pública, terão aprovação assegurada pelo regime de cotas. Engana-se nossa juventude, como se engana os adultos com esmola. Esmola é o dinheiro que se gasta para manter a miséria. Educação é o dinheiro que se gasta para formar cidadãos independentes. Bolsa família é esmola que engana o povo que não sabe que vai continuar lá embaixo. Não exige que o filho de quem a recebe estude e seja aprovado. Exige apenas que seja matriculado na escola. Uma farsa. Um crime porque é vendido como remédio. Não é remédio. É apenas analgésico.

Fica, assim, todo mundo dançando e cantando e achando que, por isso, está tudo bem.  O mal é que  anestesiando o povo, monta-se um crescente cataclismo para explodir no futuro. Muita gente vai morrer sorrindo porque não teve tempo de perceber o perigo. Quem anda no escuro, cai no abismo pensando que está subindo ao céu. Não vê coisa alguma!
Adinoel Motta Maia

sexta-feira, 19 de outubro de 2012

PERGUNTAR É PRECISO!

Crônica

Sentar numa varanda, num fim de semana - com ou sem biscoitos e suco de laranja - para ler um bom romance policial de mistério, é sempre um prazer que se renova a cada capítulo. Os bons romances policiais de mistério são aqueles nos quais o crime é o que menos importa, valorizando-se o trabalho racional do investigador. Quando o autor é dos bons, a trama é enriquecida com informações e análises psicológicas, históricas, geográficas, entre outras, dando ao leitor a sensação de estar mergulhado no espaço tetradimensional da narrativa.

No âmago das estórias detetivescas, encontra-se sempre uma pergunta que permanece ao longo do texto: qual o motivo do crime? Em outras palavras: quem ganha com a morte de uma pessoa? Em sequência: quanto ganha, para valer o risco de ter a sua própria vida destruída?

Trasladando o cenário literário para a vida de uma cidade ou de uma nação, os mistérios são os do crime de corrupção, aquele pelo qual o serviço público transforma-se em oportunidade para o faturamento ilícito, sob a proteção da lei, que diz não haver crime se a Lei não o prever, pedra fundamental do Direito que não pretende fazer Justiça. Assim, por exemplo, se um assaltante agride a murros sua vítima, depois dá-lhe um tiro na perna, seguindo-se uma facada em área abdominal e finalmente a matando com dentadas no peito, comendo o seu coração; esse agressor só poderia ser julgado por assalto a mão armada, mas jamais por assassintato, pois a Lei não preveria morte por antropofagia. Em outras palavras: a Lei não estabelece pena para quem ganha alguma coisa, comendo gente.

Vem, assim, a pergunta genérica, quando se tem um problema não resolvido e se quer chegar ao culpado pela causa ou pela omissão: "quem está ganhando com isso?" Por exemplo: quem está ganhando com a falta de transporte público com qualidade e quantidade pelo menos satisfatórias? Ou ainda: quem ganha com a migração desenfreada das pessoas do campo para as cidades (grandes ou não)? Mais uma: quem ganha com as invasões de encostas? Ou: quem ganha com o caos da educação no Brasil? Um últmo exemplo: quem ganha com a péssima saúde pública?

Como não há previsão na Lei, para administradores públicos em cargos distribuídos politicamente e não por promoção em carreira, que se omitem ou agem erradamente, isto é, sem um rumo definido e correto, em benefício de pessoas ou grupos interessados no caos, essas pessoas não podem ser julgadas nem punidas.

Por outro lado, surge já bem para cá do horizonte, uma prática generalizada de valorizar e até elogiar o administrador público que promove a criação de empregos, depois de estimular práticas de aumento populacional, sempre com o objetivo de aumentar os mercados e assim beneficiar os produtores que precisam vender cada vez mais. Com essa meta, dita econômica, surge uma outra pergunta, que é praticamente uma instrução: se você pode complicar, por que quer simplificar? A complicação cria empregos. Quando se cria um imposto, além do aumento da arrecadação, aumenta-se a máquina arregadadora, com novos empregos a serem distribuídos politicamente, assim como a máquina fiscalizadora com iguais propósitos e assim por diante, numa cadeia inflacionária incontrolável.

A nós, cidadãos omissos, nesse cenário, compete apenas obedecer e pagar, obrigados a votar em candidatos que não escolhemos e que permanecem irremovíveis por décadas em carreiras políticas que só se encerram com suas mortes. Por isso, aumenta o número de votos nulos e em branco, nas eleições. Precisamos de uma lei que anule as eleições em que a soma desses votos com o número de abstenções for maior do que vinte por cento, por exemplo, ocorrendo assim a obrigação dos partidos indicarem outros candidatos.

sexta-feira, 12 de outubro de 2012

OS DESCARADOS SERÃO MAIORIA

Crônica

Um dos porteiros do prédio onde moro está revoltado, por ter viajado para votar, na cidade de onde veio para Salvador. Seu candidato a prefeito perdeu a eleição, mas o motivo do seu aborrecimento foi a abordagem que lhe fizeram, oferecendo-lhe 350 reais para votar no candidato que ganharia a eleição. Diz ele que muita gente aceitou a oferta e trocou de candidato. Nenhuma novidade. Prática antiga, o que tem mudado é o modus faciendi. Antigamente, na roça, trocava-se o voto por um saco de farinha, uma dentadura postiça ou um par de sapatos (um pé antes da eleição e outro depois). Nas cidades, o prefeito que dava transporte para levar a parturiente à maternidade, ganhava toda a família como eleitora na eleição seguinte. Havia uma certa "honra" em não aceitar dinheiro. Hoje a pessoa se vende por dinheiro, mesmo. Com a maior tranquilidade, dando risada e aceitando pouco. Um indivíduo que faz isso, não vale nada.

Evidentemente, olhando tudo o que acontece, estamos vendo que se lutou pela democracia nas ruas, exigindo-se "diretas já", mas a nossa democracia é uma farsa. Depois do "show de bola" que o nosso honrado Superior Tribunal de Justiça ofereceu a todos os cidadãos brasileiros, pela televisão, ao vivo, nestas últimas semanas, chegou a hora do tribunal eleitoral mostrar que não existe apenas para montar as seções de votação e ler, registrar e divulgar resultados das urnas eletrônicas, em "tempo recorde".  Só não viu quem não quís, aqui, em Salvador, placas publicitárias irregulares espalhadas pela cidade, em horas e dias, sem cumprimento dos prazos. Na avenida de vale do Canela, por exemplo, na véspera da eleição, tinha um carro de som fazendo propaganda eleitoral. No dia da eleição, os passeios à frente das seções de votação tinham tapetes de "santinhos". Alguém divulgou uma relação de candidatos multados? Pior do que tudo, no entanto, é a abordagem para a compra de votos, com dinheiro na mão.

Assim, apenas trocamos de ditadura. Tínhamos uma nefanda ditadura militar, feita com o poder das armas e agora caminhamos celeremente para uma criminosa ditadura financeira, na qual o Estado pode comprar consciências, criando e oferecendo cargos, aumentando benefícios individuais, oferecendo bolsas coletivas, negando educação e adotando outros tantos procedimentos que favorecem processos de corrupção, conforme se está comprovando em comissões parlamentares de inquérito e nos citados julgamentos do STF, para que um partido se mantenha no poder. Um dia, todos estarão dominados, se não houver uma reação de quem preza pela sua consciência e sua liberdade. Os descarados serão maioria e vencerão todas as eleições. Os tribunais eleitorais continuarão emitindo títulos de eleitor que já não são necessários. Continuarão fiscalizando pesquisas que nem sempre são fidedignas. Continuarão posando para retrato, no anúncio de recordes de velocidade nas apurações eletrônicas. Quando garantirão que a máquina partidária não foi usada para dar dinheiro e/ou merenda e transporte a quem frequenta comícios, por exemplo? Quando impedirão que empresas privadas façam doações de campanha em troca de contratos futuros?

A verdade é que o ser humano degradou-se, trocando seus valores de consciência, sua dignidade, sua honra, sua saúde e sua imagem perante seus filhos, por dinheiro, casas, carros, helicópteros, lanchas, aviões, viagens e festas milionários, na classe A e por bolsa família na classe D. Aos membros da classe média, deu-se mais trabalho e mais impostos. Os desclassificados miseráveis continuam com o direito de morrer na rua.

Tudo isso porque a educação é péssima, no Brasil. A doméstica é zero e a escolar é só estatística.
Evidentemente, os políticos são pastores que só dominam ovelhas ignorantes! Ricas e pobres...

Adinoel Motta Maia

sexta-feira, 5 de outubro de 2012

OS PASTORES E SUAS OVELHAS

Crônica

Houve uma gestão municipal que terminou com uma unanimidade. Toda a população a acusava de ter colocado Salvador como a cidade mais suja do Brasil. Agora, a nossa cidade é vista por todos como a cidade mais escura do país, à noite. Temos avenidas na escuridão total, como se fosse uma rodovia interurbana no meio do mato. Na grande maioria das ruas, no entanto, o que se vê são lâmpadas acesas, mas sem capacidade de iluminação necessária e compatível com o nosso nível de tecnologia e civilização. O oposto do que acabo de ver em João Pessoa e do que vi no início do ano em Aracaju. Já não falo de Lisboa, Barcelona, Madrid, Sevilha, entre tantas outras por onde passei também neste ano, porque tem gente que ainda acha não se dever comparar o nosso potencial civilizatório com o dos europeus, por exemplo. Como se estivéssemos condenados a nos manter nos mais baixos níveis de educação, de saúde, de qualidade de vida e de comportamento social.

Quem não sabe das coisas, ignora-as, é ignorante e quer continuar assim. Parece estar escrito em sua testa: NÃO QUERO SABER DE NADA! NÃO ME INCOMODE! Quando perde o emprego ou fica doente, vai chorar no pé do caboclo! Nunca põe a culpa em si mesmo, em sua ignorância. Quem não sabe das coisas, vive acreditando no que ouve no rádio ou vê na televisão, ou no papo que já não é com os vizinhos, mas pelo celular. Dias atrás, uma mulher andava na rua, um pouco à nossa frente e por uns cinco minutos - íamos na mesma direção - ouví-a repetir "Ói, amiga!". "Ói", com acento agudo mesmo, querendo dizer "olhe". Hoje, há muitas pessoas que passam a maior parte do tempo penduradas no celular, apenas jogando conversa fora. Depois, queixam-se de sua pouca sorte...

A atual campanha política em vésperas de eleição municipal tem um componente ridículo, que mostra o nível do nosso eleitorado e o que cada membro dessa coletividade quer e espera dos candidatos nos quais votarão em 7 de outubro: os carros de som que circulam por nossas ruas e pedem votos aos eleitores. Há candidatos que nada propõem ou menosprezam qualquer proposta, optando por repetir uma musiquinha que martela nosso cérebro com seus nomes e seus números, numa demonstração cabal de que nada mais esperam dos seus eleitores do que eles são capazes, intelectualmente: ouvir musiquinha. Esses políticos ofendem os soteropolitnos, considerando-os incapazes de ouvir uma proposta e analisá-la. Basta colocar uma musiquinha no seu cérebro, dia e noite, todos os dias, para condicioná-los a optar pelo seu número, na urna eletrônica. Como se condiciona um animal qualquer...

Tal ofensa deveria ser o suficiente para baní-los da nossa cidade, mas isso não ocorre. São eleitos para um mandato de quatro anos como vereador. Alguém perguntou aos vereadores assim eleitos há quatro anos, o que fizeram durante todo esse tempo, que se possa mostrar, em Salvador? Alguns são famosos, populares, queridos pelo seu jeito de ser e suas propostas "sociais" que não promovem os indivíduos nem os capacitam para exigir seus direitos de contribuintes, mas os deixam como estão, na ignorância e no gosto pelas festas, longe dos estudos, das análises e da busca das causas dos seus problemas. Verdadeiras ovelhas que dependem de seus pastores.

Não é só em Salvador.  Nós sabemos que há municípios - são 5568 em todo o Brasil - incapazes de produzir recursos sequer para pagar suas despesas administraivas e que vivem da boa vontade do governador ou do governo federal.  Nestas eleições, temos 481.446 candidatos a vereador em todo o Brasil. Somente 57.422 serão eleitos. Somente! Consideram-se políticos e como tal, querem viver sustentados pelo Estado, com o dinheiro que os cidadãos que produzem pagam em forma de impostos. Temos todos de refletir sobre esses números. Não basta dizer que é o preço da democracia. Nós queremos a democracia, mas a nossa é muito cara e não dá o retorno que se espera de tal investimento. Vamos pensar nisso. Precisamos de vereadores que proponham o enxugamento das respectivas Câmaras Municipais. Menor custo para a máquina administrativa que visa mais gerar emprego público do que  levar progresso ou resolver problemas das comunidades.  Não se justifica ter município que não seja capaz de produzir para sustentar sua própria administração, pública. Já é hora de se saber quais são esses municípios e incorporá-los a outros. Quem vai fazer isso? Os políticos? Todos sabemos a resposta.
Adinoel Motta Maia


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