sexta-feira, 12 de outubro de 2012

OS DESCARADOS SERÃO MAIORIA

Crônica

Um dos porteiros do prédio onde moro está revoltado, por ter viajado para votar, na cidade de onde veio para Salvador. Seu candidato a prefeito perdeu a eleição, mas o motivo do seu aborrecimento foi a abordagem que lhe fizeram, oferecendo-lhe 350 reais para votar no candidato que ganharia a eleição. Diz ele que muita gente aceitou a oferta e trocou de candidato. Nenhuma novidade. Prática antiga, o que tem mudado é o modus faciendi. Antigamente, na roça, trocava-se o voto por um saco de farinha, uma dentadura postiça ou um par de sapatos (um pé antes da eleição e outro depois). Nas cidades, o prefeito que dava transporte para levar a parturiente à maternidade, ganhava toda a família como eleitora na eleição seguinte. Havia uma certa "honra" em não aceitar dinheiro. Hoje a pessoa se vende por dinheiro, mesmo. Com a maior tranquilidade, dando risada e aceitando pouco. Um indivíduo que faz isso, não vale nada.

Evidentemente, olhando tudo o que acontece, estamos vendo que se lutou pela democracia nas ruas, exigindo-se "diretas já", mas a nossa democracia é uma farsa. Depois do "show de bola" que o nosso honrado Superior Tribunal de Justiça ofereceu a todos os cidadãos brasileiros, pela televisão, ao vivo, nestas últimas semanas, chegou a hora do tribunal eleitoral mostrar que não existe apenas para montar as seções de votação e ler, registrar e divulgar resultados das urnas eletrônicas, em "tempo recorde".  Só não viu quem não quís, aqui, em Salvador, placas publicitárias irregulares espalhadas pela cidade, em horas e dias, sem cumprimento dos prazos. Na avenida de vale do Canela, por exemplo, na véspera da eleição, tinha um carro de som fazendo propaganda eleitoral. No dia da eleição, os passeios à frente das seções de votação tinham tapetes de "santinhos". Alguém divulgou uma relação de candidatos multados? Pior do que tudo, no entanto, é a abordagem para a compra de votos, com dinheiro na mão.

Assim, apenas trocamos de ditadura. Tínhamos uma nefanda ditadura militar, feita com o poder das armas e agora caminhamos celeremente para uma criminosa ditadura financeira, na qual o Estado pode comprar consciências, criando e oferecendo cargos, aumentando benefícios individuais, oferecendo bolsas coletivas, negando educação e adotando outros tantos procedimentos que favorecem processos de corrupção, conforme se está comprovando em comissões parlamentares de inquérito e nos citados julgamentos do STF, para que um partido se mantenha no poder. Um dia, todos estarão dominados, se não houver uma reação de quem preza pela sua consciência e sua liberdade. Os descarados serão maioria e vencerão todas as eleições. Os tribunais eleitorais continuarão emitindo títulos de eleitor que já não são necessários. Continuarão fiscalizando pesquisas que nem sempre são fidedignas. Continuarão posando para retrato, no anúncio de recordes de velocidade nas apurações eletrônicas. Quando garantirão que a máquina partidária não foi usada para dar dinheiro e/ou merenda e transporte a quem frequenta comícios, por exemplo? Quando impedirão que empresas privadas façam doações de campanha em troca de contratos futuros?

A verdade é que o ser humano degradou-se, trocando seus valores de consciência, sua dignidade, sua honra, sua saúde e sua imagem perante seus filhos, por dinheiro, casas, carros, helicópteros, lanchas, aviões, viagens e festas milionários, na classe A e por bolsa família na classe D. Aos membros da classe média, deu-se mais trabalho e mais impostos. Os desclassificados miseráveis continuam com o direito de morrer na rua.

Tudo isso porque a educação é péssima, no Brasil. A doméstica é zero e a escolar é só estatística.
Evidentemente, os políticos são pastores que só dominam ovelhas ignorantes! Ricas e pobres...

Adinoel Motta Maia