sábado, 14 de abril de 2012

ENGENHARIA: INDÚSTRIA E CONSTRUÇÃO

Imóveis, automóveis e livros são
elementos de um mesmo universo?



Anos atrás, na recepção da Federação das Indústrias do Estado da Bahia, uma pessoa me disse que a atividade editorial não era industrial, existindo apenas a “indústria gráfica” como produtora de livros, sob o argumento de que o editor apenas junta ao produto gráfico os mecanismos de promoção e venda dos livros.
Essa pessoa, então trabalhando ali, tinha sido proprietário de uma gráfica em Salvador, uma cidade em que as empresas gráficas apenas mecanizavam a impressão de letras e figuras, tomando o nome de Editora, quando produziam livros, revistas e jornais.
Eu estava ali como portador de um convite do Instituto Baiano do Livro, para um evento que pretendia reunir segmentos da indústria editorial, em busca de uma solução para o marasmo baiano no setor. Não quis discutir o assunto, saindo da sala com vontade de mostrar a linha de produção de um livro, que começa com o autor da obra, a criá-la, planejá-la e escrevê-la graficamente; seguindo-se a revisão do texto, a ilustração quando necessária, a diagramação do conjunto, a criação da capa; a impressão e encadernação; tudo isso decidido e contratado a diversos profissionais pelo “editor” do livro, que também é contratado pelo Editor, empresário, dono da Editora que registrará, publicará, promoverá e divulgará a obra, cuidando posteriormente de eventuais ampliações e reedições até em outros idiomas e tudo o mais que faz de um livro não apenas um produto gráfico, mas um “produto editorial”.

Assim também ocorre com a “indústria automobilística”, por exemplo, que se vale da criação de protótipo na prancheta, depois em modelo sólido, sendo em seguida levado, peça por peça às diversas fábricas da indústria mecânica para a fabricação de todas elas, posteriormente reunidas numa linha de produção da montadora de automóveis, empresa esta que também promove e vende os veículos resultantes de todo o processo.
Assim como a indústria editorial precisa da indústria gráfica, a indústria automobilística precisa da indústria mecânica.
Dizer que não existe a indústria editorial é o mesmo que dizer não existir a indústria automobilística. Teríamos assim apenas a indústria gráfica e a indústria mecânica, nesses casos.

Podemos ir adiante, trazendo para o nosso caldeirão alquímico, cada um dos departa-mentos de engenho e arte, cada uma das outras engenharias, como aquela que se dedica à construção de edifícios, isto é, dos imóveis que agregam elementos construtivos a um terreno com perícia para criar uma estrutura.
Evidentemente, estamos tratando da “in-dústria imobiliária”, que, como a automobilística, parte de um processo de criação, um protótipo (maquete), um projeto multidisciplinar (arquitetônico, estrutural, elétrico, hidráulico, mecânico, etc), operações financeiras, obras de terra, de estrutura, de instalações e de acabamento; tudo isso sendo concluído, igualmente, com ações de promoção e venda.
Costuma-se dar ao conjunto dessas atividades o nome de “indústria da construção”, o que me parece inadequado porque construção é indústria. Vejamos o que diz o dicionário do Aurélio:

Construção – Ato, efeito, modo ou arte de construir / dar estrutura.
Indústria – Destreza ou arte na execução de um trabalho manual/ aptidão / perícia.


Assim, para evitar uma expressão de caráter redundante, é melhor escrever e falar “indústria imobiliária”, quando se trata de construir edifícios.
Já passando o tempo em que o dono de um terreno resolvia fazer um prédio com três, seis ou dez apartamentos para venda, simplesmente entregando uma chave a cada comprador, ao fim da obra, temos agora as grandes empresas que estocam terrenos, contratam projetos e os mais diversos serviços de construção, depois de longo processo para a aprovação do projeto na Prefeitura e a incorporação que dá ao prédio uma convenção e um condomínio, só então partindo para a promoção e venda de cada unidade (apartamento ou sala) e o início das obras, com cronograma estabelecido.
Esse processo assim rigorosamente industrial deve ser reconhecido como tal, sendo a construção de edifícios a atividade industrial que hoje mais precisa de mão de obra individual, com perícia cada vez maior.
Tudo o que promove a estruturação de um conjunto a partir de um projeto e ações agregadoras, de modo a oferecer um produto físico completo, pronto para uso ou consumo, é, portanto, uma indústria. Seja esse produto um livro, um automóvel ou edifício, do mesmo modo que um televisor, um armário, um lápis, um biscoito, etc...etc...etc...

Nesse sentido, permita-se que eu volte aos meus tempos de colunista do Jornal da Bahia, assinando o “Consultório Imobiliário” e cadernos especiais dedicados aos imóveis; para propor agora uma revolução na indústria imobiliária, tão grande como aquela que foi feita com o advento do elevador elétrico.
Este mecanismo permitiu o aproveitamento do concreto armado – que venha também o aço – para elevar os edifícios a dezenas de pavimentos, centenas até.
Acontece que esses novos prédios estão apenas crescendo, mas ainda não se ajustaram à revolução tecnológica dos aparelhos eletro-eletrônicos de última geração, isto é, dos aparelhos que tornam nossas vidas mais alegres, racionais, seguras e confortáveis.
Já não basta projetar e construir paredes, pisos e tetos, que se reveste e pavimenta a critério dos decoradores.
Aos projetos arquitetônico, estrutural e de instalações, já se exige acrescentar o funcional inteligente, com o uso do computador para organizar o tempo das pessoas e o funcionamento dos diversos aparelhos domésticos, sem as improvisações costumeiras e necessárias nos apartamentos que hoje se constrói.

Por outro lado, para que a revolução seja completa, há que se pensar em um novo conceito de habitação e trabalho. Com os engarrafamentos caóticos, no trânsito de automóveis, o sonho de todos é sair da cama para uma cozinha que seja sala de jantar, saindo daí para o escritório, no mesmo prédio, mas não dentro do apartamento, ao qual se deve dar privacidade crescente, não só social como familiar.

Na medida que evolui, o homem é mais intelectual e consequentemente, mais individual, com direito ao isolamento eventual.

Os bons arquitetos já estão ligados nisso.
Que venham, portanto, os edifícios mistos, dos quais só seja necessário sair para as compras e o lazer social, aquele que se faz em público ou com os amigos.
O desafio maior é usar a inteligência de modo a não onerar o custo final da unidade habitacional, que ganha em qualidade mas não precisa aumentar em área, sendo a sofisticação opcional.

Adinoel Motta Maia


Leia-se também:
http://adinoel-blogart.blogspot.com.