sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

MIDIA: PASSANDO A PENEIRA


Crônica

É lamentável o que está acontecendo com a mídia impressa neste país. Dias atrás, procurei o  ESTADO DE S.PAULO numa banca do Campo Grande - as outras só o vendem no domingo - e me foi dito que só recebeu um exemplar, já vendido, naquele dia. Motivo: há dias em que ninguém compra e o distribuidor, no dia seguinte, só manda um exemplar. Os jornais de Salvador também dormem em pilhas nas bancas e em pilhas voltam para casa. Todo mundo diz que o problema é a concorrência da televisão e da Internet. Pode ser, mas quando compro jornal, costumo passar suas folhas e separar, para ler, aquelas em que há algo que me interesse. Ao fim desse rápido exercício, tenho apenas duas ou três páginas, das quais recorto uma coluna ou uma reportagem, para ler depois, jogndo o resto (quase todo ele) na cesta. Em cinco a dez minutos, eu vejo o jornal.

Fora as páginas, às vezes cadernos, de anúncios de supermermercados, automóveis, espetáculos, propaganda do governo, imóveis e outros produtos que não me interessam, ainda há as de moda, de novelas, de produtores de som, de decoração, de gastronomia, de futebol (sempre a mesma coisa), de noticiário político (uma tristeza!), de notícias nacionais e internacionais que já vi na véspera, na televisão... O que se salva? Uma crônica, uma única notícia numa coluna inteira, uma reportagem bem elaborada sobre um assunto que me interessa (coisa rara). Artigo sério e profundo? Nem sonhar...

Não é só o jornal, contudo, que está em crise. Televisão de canal aberto, já nem me lembro se existe. Além de toda aquela propaganda ruidosa (o volume do som aumenta quando ela entra), a programação é voltada para donas de casa que fazem bolo, artesanato e coisas tais ou precisam de conselhos médicos, consultoria de advogados, contadores que ensinam cálculo de juros, coisas assim, além das novelas e música baiana de carnaval ou são joão (no ano inteiro). Há anos, assino o canal fechado, que está ficando igual ao canal aberto. Seriados horríveis, filmes de péssima qualidade, documentários repetidos até não se ter mais nada para ver, exploradores que ensinam como andar na lama, subir montanhas e atravessar rios caudalosos, entrevistas com os mesmos especialistas em tráfego, drogas, assaltos e incêndios, e assim por diante.

Há mais de um ano, somos atacados por um assédio massivo de programas sobre o fim do mundo, desde as eternas profecias de Nostradamus que servem até para curar dor-de-cabeça, tratados sobre meteoros e terremotos, gente que constroi abrigos subterrâneos no quintal, especialistas (outros) que sabem tudo sobre ataques de extra terrestres, uma paranóia religiosa centrada em juizo final, tudo só de ouvi dizer, sem uma pesquisa séria nos manuscritos, na arqueologia, na geologia ou mesmo na estatística. Muito jornalismo e pouca ciência. Todos os canais de televisão deram um depoimento de ignorância profunda, associando um calendário astronômico (dos maias) ao livro do apocalipse, que, como se sabe, é uma profecia cristã. Fizeram um clima de assustar crianças e velhinhas e no dia de hoje, nada acontecendo, evidentemente, entraram em gozação como se a culpa fosse dos telespectadores que os viram e ouviram sentados.

Não há dúvida: nossa mídia está em crise. Generalizada. Não é difícil fazer uma profecia.


Adinoel Motta Maia

sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

REVELAÇÃO É VERDADE


Crônica

Estamos novamente sob o clima de Natal. Perguntei à síndica do prédio onde moro, por que ela estava fixando no vidro do play-ground uma cara de Papai Noel. Ela respondeu que já é Natal. E o que é o Natal? - insistí. É o nascimento de Cristo - respondeu. Tudo errado. As pessoas repetem coisas erradas durante séculos e como são a maioria da população, o certo vira errado e não é aceito por elas. Todo mundo sabe isso - respondem. Todas essa gente não sabe nada - digo eu.

Para início de conversa, o nascimento que se pretende comemorar - em data errada - é o de Jesus e não o de Cristo. Jesus nunca foi chamado de Cristo, enquanto viveu. Era o Nazareno. Este nome era dado aos judeus essênios ou aos estrangeiros, isto é, os não judeus. Simão (mais tarde Pedro) era quem o via e queria como o Messias a substituir o Messias João Batista, com a morte deste. Jesus era o Nazareno, porque seu pai José era essênio e Maria, sua mãe, era columba no templo dos essênios, no Monte Carmelo. A columba era obrigatoriamente uma virgem, ao contrário das meninas de doze e treze anos, na mesma idade dela, que viviam na rua. Por isso, ela era a virgem Maria, porque as outras já não o eram. Cristo é o nome grego, com o mesmo significado de Messias, em hebraico. Jesus nunca foi uma coisa nem outra, porque não tinha a missão política de João Batista, nem nunca a aceitou. Conclui-se que o Natal que se comemora não é o de Cristo porque este nunca nasceu. Este foi um título que Paulo de Tarso atribuiu a Jesus depois que ele foi retirado da cruz e já não atuava. O Cristianismo não é a religião de Jesus, portanto. É a religião de Paulo de Tarso, que tomou a figura de Jesus e deu-lhe o título de Cristo, criando este num dia que não foi o 25 de dezembro. Foi logo depois da Páscoa dos judeus. Por que então, o aceitou nascendo fora da data de sua criação por ele?

O Natal também não é o nascimento de Papai Noel, porque este é uma figura baseada em São Nicolau, o bom velhinho que, ainda vivo, no Dia dos Reis Magos - 6 de Janeiro - imitava-os, distribuindo presentes para as crianças pobres. A cultura norte-americana importou-o com o nome de Santa Claus e o capitalismo tomou essa figura para fazer grandes negócios, criando uma festa de dar presentes na data que se considerava ser  a do nascimento de Jesus. Então, Papai Noel é apenas uma imagem de propaganda e marketing, baseada na figura de São Nicolau, que também não nasceu em 25 de dezembro.

Para aumentar a contradição, a crônica bíblica que descreve o nascimento de Jesus, mostra um cenário em que à noite havia pastores com suas ovelhas ao relento, o que seria impossível, porque 25 de dezembro é inverno no Hemisfério Norte e então os campos costumam estar nevados. Para que o texto da Bíblia esteja certo, Jesus deve ter nascido na primavera ou no verão, talvez até mesmo no outono, mas jamais no inverno asiático setentrional. Se assim é, por que se comemora o nascimento de Jesus no inverno, com neve?

Porque quem criou Cristo e o Cristianismo foi um soldado romano a serviço do rei Heródes, que perseguia os nazarenos, isto é, Jesus e seus seguidores. Chamava-se  Saulo de Tarso, que trocou seu nome para Paulo e mudou tudo na história de Jesus, copiando as datas e os rituais do Mitraismo, a religião maior dos romanos, ou seja, a religião do deus Mitra, chamado de Sol Invicto, porque era o próprio Sol, o mesmo Aton do Faraó Amenhotep IV, que os romanos cooptaram. Agora vem a explicação da data de 25 de dezembro, que então era a do solstício de inverno, no Hemisfério Norte (hoje, o solstício é em 21 de dezembro). Como se tratava do Sol, sabe-se que ele nasce todos os anos no solistício de inverno, quando a Terra está na posição mais distante dele, para fazer uma volta completa e ele nascer de novo no ano seguinte. Assim, 25 de dezembro era a data em que o Sol nascia todos os anos. Evidentemente, Mitra também nascia nessa data. Como Mitra era o deus de Paulo de Tarso e este criou uma nova religião, ele chamou Mitra de Cristo, transformou os templos de Mitra em igrejas de Cristo e ali implantou os velhos rituais do Mitraismo, assim nascendo o Cristianismo, que adotou os mesmos templos e rituais do Mitraismo com a história de Jesus. Paulo de Tarso, que não foi apóstolo nem discípulo de Jesus, deu a si próprio o título de apóstolo dos gentios, isto é dos não judeus. Jesus era judeu, essênio, o Nazareno, assim considerado entre os gnósticos comandados por seu irmão Iago (Tiago Menor), que se manteve em Jerusalém.

Querem saber mais? Entrem no meu BLOGART (http://adinoel-blogart.blogspot.com.br) no dia 21 de dezembro deste ano, o dia do solistício de verão no Hemisfério Sul. Assim, neste ano, quando desejarem FELIZ NATAL a alguém, escolham antes qual Natal. Natalício de quem?

sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

PARA ONDE VAI A HUMANIDADE


Crônica

Temos, no Brasil, uma riqueza intelectual infelizmente pouco reconhecida e divulgada no próprio país e completamente desconhecida no Exterior, salvo casos pontuais de interesse realmente internacional, pela presença da obra de uns poucos, em outros países - caso do agora falecido Oscar Niemeyer. As gerações novas não conhecem, por exemplo, Millor Fernandes, uma figura intelectual de grande porte, em amplitude e profundidade que beiravam a filosofia e penetravam até na ciência, se não como conhecedor, ao menos como provocador. Sou do tempo em que ele publicava suas observações na revista semanal "O Cruzeiro", com o pseudônimo Vão Gôgo. Recentemente, colaborou com a "Veja", onde publicou há cinco anos (edição de 19/12/2007) uma observação digna de sua capacidade de ver por dentro o que se costuma perceber apenas por fora. Escreveu ele: "O tempo não existe. Só existe o passar do tempo". O brasileiro não guardou nem comentou essa assertiva de grande profundidade, porque o lia como humorista, fazendo-o superficial e apressadamente. O que parece uma simples e oportuna gozação é, de fato, a base do conhecimento do Universo desde sua fundação. As mais antigas escolas místicas mundiais já sabiam que o tempo é a duração da consciência, ou seja, a passagem dessa consciência. É justamente a ojeriza dos cientistas aos místicos, que os tem limitado à Física, ignorando a existência e natureza da consciência, como fundamentos desta.

Em setembro de 2007, encaminhei ao Instituto Geográfico e Histórico da Bahia, para publicação em sua revista anual, um artigo com o qual lançava minha "Teoria Unificada do Universo", que está desde então conhecida e pode ser lida no "Google". Albert Einstein fracassou na sua teoria dos campos unificados e Stephen Hawking ainda não conseguiu concluir a sua própria, apenas por causa desse preconceito contra tudo que saia da Física, isto é, da realidade da matéria e da energia. Humildemente, silenciosamente, longe dos olofotes, publiquei o artigo que dá à consciência o seu papel no espaço, que tem três direções (ortogonais) e uma duração. Dessa consciência, depende o espaço - o Universo - com suas extensões e o seu tempo, isto é, suas dimensões. Esse artigo propõe uma disciplina científica para estudar exatamente o campo da consciência em velocidades maiores do que a da luz, não aceitas pelos físicos. Essa disciplina, evidentemente, é a Psíquica, que aparece inicialmente no primeiro volume de uma trilogia, no corpo de uma obra de ficção - A Cruz dos Mares do Mundo - publicada em 2011.

Estou trazendo este assunto, hoje, à minha crônica semanal, como um convite a ser passado para todo o Brasil, porque no próximo dia 12/12/12, propositadamente, estarei fazendo no meu outro blog - http://adinoel-blogart.blogspot.com.br - o anúncio da REVELAÇÃO que todos encontrarão nele em 21/12/12 e que estará chegando então às livrarias, com o segundo volume da trilogia "Nortada": A Noite dos Livros do Mundo.  Esta obra nasceu em 1997, na Feira do Livro de Frankfurt. Sendo professor de uma disciplina por mim criada na Universidade Federal da Bahia - Fundamentos de Astronomia e Astronáutica - já havia publicado a cosmologia Humanidade - Uma Colônia no Corpo de Deus (1981. Edições Melhoramentos. São Paulo), que escrevi em três meses, reunindo anotações feitas desde 1957, para atender o pedido do editor da série "Enigmas do Universo" daquela editora. Que me perdôem os abnegados cultores da Academia, sempre preocupada com o necessário rigor científico, protegido por procedimentos acautelatórios indispensáveis, se avanço desmesuradamente e ultrapasso as medidas cautelares recomendáveis para fazer esse anúncio, unilateralmente. Neste caso, a urgência justifica os meios. Mesmo porque as provas estão atropelando a teoria e porque a soma das evidências acaba prescindindo do laboratório.

Pelas datas acima postas, podem os leitores deste blog associar o anúncio a ser feito com o calendário maia que, em verdade, só determina o fim de um ciclo astronômico importante mas está sendo visto erradamente como o fim do mundo. Não me aproveito de estarmos na Cidade do Salvador, na Baía de Todos os Santos e de ter um sobrenome "Maia" para fazer associações indevidas. Ao contrário, estou certo de que estas e outras convergências sejam talvez e apenas parâmetros do Inconsciente para me trazer, desde os 20 anos de idade - tenho 75 - essas questões e estudá-las. Nada mais do que isso. É natural, por exemplo, que alguém cujo sobrenome seja Oliveira tenha um certo gosto pelas azeitonas e pelo chamado azeite doce. Ou que, uma pessoa nascida no 7 de setembro apaixone-se pelo estudo da História do Brasil. Nada mais do que isso, repito. Com essa ressalva, sem querer parecer estar a cuidar de qualquer coisa, devo dizer que tenho, sim, nesta altura do terceiro milênio, já, uma revelação a fazer, não sobre o fim do mundo em si, mas sobre o atual momento da humanidade, à luz dessa nova disciplina que estamos propondo, para explicar o que é o Universo, o que é (não quem é) Deus e como a consciência se estrutura evolutivamente.  Há seguramente milhares de pessoas em todo o mundo estudiosas e preocupadas com essa progressão, mas é possível que a nossa visão tenha um tempero essencial e adequado à realidade atual.  Convido-os a todos, portanto, para o banquete dos dias 12 e 21 deste mês, no meu outro blog acima citado. Podem também já ler "A Cruz dos Mares do Mundo" e procurar a partir do dia 15 nas livrarias "A Noite dos Livros do Mundo". Ambos podem ser adquiridos pelo site da distribuidora no Rio de Janeiro (www.lojasingular.com.br).

Adinoel Motta Maia


sexta-feira, 30 de novembro de 2012

A FILHA DO DIABO NÃO É MOÇA


Crônica

Quando eu era menino - cerca de 65 anos atrás - minha avó materna ensinava a família a viver com seus ditados e conselhos, além do que, introduziu em nossa casa um processo eficiente para se achar coisas perdidas. Consistia em deixar todos procurarem o que se tinha perdido dentro de casa, até não mais se ter onde olhar e meter a mão. Quando todos desistiam, ela aparecia  a andar e gritar que "a filha do diabo não é moça", querendo isso dizer que a diabinha havia perdido a virgindade de modo ofensivo paa o pai, que, muito aborrecido e verificando ser uma mentira, tudo faria para desmentir aquela falsidade lançada no ar, para desmoralizar  a ambos. Aí, a avozinha lançava o golpe de misericórdia, chantageando o demônio: "Para provar que ainda é moça, ela tem de mostrar o objeto - dizia qual - perdido". Envidava-se esforços na busca e nada acontecia. Ela então gargalhava, zombeteira: "Eu não disse que já não é moça? Só o diabo é que não sabe. Quem não sabia, fica sabendo agora. A filha do diabo não é moça".

Ninguém jamais pesquisou uma explicação para o fato, mas a verdade é que nesse ponto da busca, quando a zombaria era geral, alguém gritava: "Acheeeeiiii!" Aí, obrigatoriamente, todos respondiam: "É môôôça! É môôôça!" E cada um ia cuidar de sua vida, sem mais pensar no assunto. Dir-se-á que são coisas do passado, quando a superstição dominava e brigava com a fé, esta com suas orações e promessas, igualmente bem sucedidas. Aos santos, agradava-se com a oferta de velas e missas. Ao diabo, irritava-se com ameaças de desmoralização.  Até hoje, evidentemente, ninguém jamais descobriu quem é a filha do diabo, mas o processo sempre funcionou e isso reforçava aquele teatro como solução para objetos perdidos. Além do que, todos se divertiam muito.

Há uma explicação científica, para o fato, Um objeto só é perdido dentro de casa quando alguém o coloca num lugar e sem prestar a devida atenção, depois não sabe onde o botou. Provavelmente, ao se armar o teatro e fazer a folia, a culpa se esvai e a mente se descontrai, de modo que os neurônios se abrem em relações mais amplas, lançando luzes mais intensas no panorama escuro da ignorância. O fato de termos aplicado esse processo em nossa casa, nesta semana, depois de 24 horas sem se encontrar as chaves do carro numa penca única - o veículo felizmente na garagem - levando-nos a encontrá-las num lugar "impossível", fez-me repetir gostosamente que a filha do diabo é moça, sim, com toda a certeza.

Dizem que a crença em Deus implica inevitalmente na crença no Diabo. Assunto para muitas crônicas, por vários motivos, sob os mais diversos enfoques, ficamos a imaginar a figura de um anjo que tinha asas porque voava e caiu do céu. Sabe-se que os anjos ganharam asas ao tê-las pintadas nas paredes do Império Bizantino. As asas dos anjos são, portanto, criações humanas. Os próprios anjos têm formas humanas.  É uma prerrogativa do animal que recebeu um cérebro e tornou-se intelectual, criar, inventar, deduzir e também enganar. É intelectual porque tem inteligência. Esta vem com o cérebro, que, ao nascer, está quase vazio, retendo apenas na sua memória as poucas experiências vividas ou absorvidas no útero materno. É a educação que enche o cérebro e lhe fornece munição para atirar, cruzando informações para aprender novas coisas, num processo que se chama estudo e pode ser ampliado para se fazer pesquisa.

O que temos de ver imediatamente é que há grandes interesses para que o povo não seja educado, incapaz de usar sua inteligência por absoluta falta de dados. Temos de procurar saber do IBGE qual é a porcentagem da população brasileira, que, tendo cérebro, só o usa para a sobrevivência. Quem patrocina a pura sobrevivência do homem brasileiro é um criminoso que rouba o que o homem tem de melhor: o direito de usar sua inteligência, de ampliar seu horizonte e ter suas próprias idéias. Aí, quando aparece quem quer iluminar o cérebro do pobre, com educação, diz-se que isso é subversão ou que se está fazendo o jogo do Diabo, que é Lúcifer, isto é: o que faz a luz, o que ilumina.. O fato é que o homem nasceu com inteligência e a está perdendo na infância e na juventude, no Brasil. Está na hora de voltar a gritar que a filha do diabo não é moça, para que ela seja reencontrada.

Adinoel Motta Maia

sexta-feira, 23 de novembro de 2012

O DISCURSO DOS SURDOS


Crônica

Dizem que não se pode ser católico do jeito que se quer. A Igreja só consideraria católico quem reconhece a autoridade máxima do Papa, na Terra e segue as regras, preceitos, dogmas, da Igreja, in totum, isto é, catolicamente. Por outro lado, a Igreja Católica, Apostólica e Romana tem por tradição deixar suas portas abertas a todos os que decidam entrar, seja para seguir uma missa em toda a plenitude de sua liturgia, seja simplesmente para fazer umas fotografias, em viagem turística. Não se pergunta "quo vadis?" a quem penetra sem dizer coisa alguma.

Em verdade vos digo e provo científicamente que não existem dois seres humanos iguais, com as mesmas estruturas física e psíquica, as mesmas idéias, as mesmas propostas, as mesmas carências, as mesmas crenças e as mesmas certezas, entre outras mesmices impossíveis. Ninguém, portanto, é católico, sob esse ângulo de visão. Mas as igrejas estão cheias. Hoje, assisti a uma missa completa ao meio-dia, na pequena igreja da Paróquia de São Pedro, na Piedade, celebrada por um jovem e competente padre. Como sempre ocorre ali, havia música, cantos - a casa lotada - muita concentração nas palavras corretas que vinham do altar. Corretas porque ponderáveis, aceitáveis, por quem nada sabe e por quem pensa que tudo sabe. As palavras verdadeiras são aquelas que não podem ser substituidas sem levar ao erro, ao desvio, ao rumo incerto, ao destino duvidoso, por todos que as ouvem.

Na sua desigualdade, os homens não só são diferentes, mas também ocupam posições diferentes na estrada que percorrem e na escada que sobem, acumulando experiências, delas retirando dados e em seguida processando-os. É evidente haver mais conhecimento em quem está na frente e mais alto, o que significa mais evolução. Os que estão mais para trás e para baixo são assim como cordeiros que não conseguem se manter na estrada sem o cajado dos pastores. Estarão sempre ao rés do chão, porque não sobem escadas. Precisam da religião como do alimento que os permite mover-se. Sem a religião, estão perdidos nos campos, a disposição dos predadores. Com mais experiência, estudo e reflexão, aumentando sua consciência, pensando com mais dados em seu cérebro, já conversam com os pastores e recusam algumas práticas, fazendo filosofia, indo buscar novas idéias, que colocam em discussão, arrumando teorias para quem quiser ouví-las. Há quem suba esses degraus em uma ou duas décadas, enquanto outros precisam de duas ou três vidas inteiras. Ou mais...

O grande salto é o que se dá, do prazer de perguntar para a alegria de encontrar a resposta. Não uma resposta qualquer, mas a única possível, a única que se confirma experimentalmente. O problema é que esse cordeiro que se desgarra do rebanho e avança por conta própria, ao chegar à sua verdade, descobre que perdeu o pastor que o conduzia.  Hoje, ao meio-dia, encontrei um pastor que me pareceu aceitar a ovelha que se desgarra do grupo para avançar individualmente porque tem pressa em evoluir na senda. A ovelha que eventualmente pode voltar ao rebanho, para ouvir o pastor, mas não para continuar ali com as que se acomodam com o pouco esforço que fazem para progredir. Esse grande salto, do qual não há retorno, é o da ciência, quando se chega à certeza do que se ouve e se diz, porque se pode testá-la psíquica ou fisicamente. Porque se pode chegar sempre ao mesmo resultado, ao fim de uma experiência que se repete. Sem erro, sem falha.

A Igreja tem tratado milenarmente a Ciência como inimiga porque uma afirma a existência de Deus e a outra a nega, ambas erradas na sua proposta de Deus. O Deus da Igreja é um Ser que considera os homens como nós consideramos os animais, por exemplo, vendo-os e decidindo seus destinos. Ouvi um padre dizer que "Deus gargalhou perante uma ação humana". Há fiéis que precisam dessa figura de linguagem para compreender a desaprovação divina, mas outros há que acreditam ser Deus um ser que gargalha de fato, perante uma ação humana. O problema se agiganta quando as duas platéias estão juntas. Assim, a Igreja se recusa a falar apenas com os cientistas, separadamente da sua preleção aos leigos e a Ciência se recusa a falar aos fiéis religiosos. Insistem em ser uma única voz para todos e assim permitem que muitas ovelhas se desgarrem, para não perderem o trabalho que fazem com os que mais precisam de cada uma delas, isto é, os que estão na base da evolução e precisam de muito apoio para subir uns primeiros e difíceis degraus. Como é difícil para a criança recém-nascida engatinhar e arriscar-se nos primeiros passos.

Vamos pensar nisso, assim, antes de ofender a Igreja ou a Ciência. Não há como negar o gigantesco trabalho já realizado por ambas, na Terra. Chega o momento, contudo, de iluminar o campo geral e reconhecer, além da realidade física, a atualidade psíquica do tempo como duração da consciência, como as outras três dimensões do espaço são marcadas em três direções ortogonais dessa mesma consciência. Deus, afinal, é a Consciência Universal. Nada menos do que isso. O Nada como tudo começou...

Adinoel Motta Maia

sexta-feira, 16 de novembro de 2012

VIOLÊNCIA E LEI DE DEUS


Crônica

Acordei ontem, acordo hoje, acordarei amanhã, com notícias terríveis na televisão. Nunca imaginei ver uma passeata de policiais portando cruzes brancas, pedindo proteção, porque noite após noite, madrugada após madrugada, estão sendo alvos não exatamente dos bandidos estabelecidos, mas de quantos aceitam missões eventuais, como mercenários, para matá-los. Se os próprios agentes da Polícia, que se considera como Segurança Pública, estão desprotegidos, o que dizer de nós, cidadãos contribuintes, que pagamos ao Estado (municipal, estadual e federal) para ter, entre outros, esse serviço?

Ao contrário do que seria sensato, a mesma emissora de televisão, no mesmo programa de notícias, mostra o movimento nas ruas e nos shoppings da cidade, com matérias especiais que induzem ao consumo, às festas e às viagens, como se tudo estivesse na melhor das condições, com o objetivo claro de estimular as vendas em geral, inclusive dos produtos anunciados nos intervalos desses programas. "Pior é na guerra" - diria a minha avó. Não é. A guerra que se vê estabelecida no Oriente está matando menos do que a nossa Paz. "É o Fim do Mundo" - dizem muitos. Também não é, porque o aumento da população é muito maior do que a quantidade de gente que morre.

Podem todos ter certeza de que a Mãe Natureza nunca perde, porque a perda está prevista, é consentida e faz parte do processo de evolução. Suas leis são poucas, mas inalteráveis e impostas com todo o rigor, doa em quem doer. Se alguém duvida, tente jogar-se do Elevador Lacerda sem pára-quedas e ver se há oração que o impeça de morrer. Quem nunca abriu uma Bíblia, que o faça agora e leia apenas o primeiro versículo - a primeira frase - do primeiro capítulo do primeiro livro, o "Gênesis". Está escrito, ali:

No princípio Deus criou o céu e a terra.

Durante milênios, temos lido essa frase assim, com importante erro de tradução, porque a palavra que o seu autor utilizou e foi traduzida como Deus, não existe na lingua hebraica, a dos judeus. Escreveu ele: Elohim. Deus seria apenas El ou, num outro sentido, o do Senhor, JHVH, que se pronuncia JaHVeH. Por séculos, provavelmente mais de um milênio, os exegetas (pessoas que interpretam e esclarecem um texto, especialmente a Bíblia) profissionais discutiram o significado de Elohim. Logo viram e ficou estabelecido que El significa Deus e im é um sufixo que indica o plural. Nunca foi encontrado o significado da partícula intermediária oh ou seu papel na formação da palavra.e assim os mais puristas contentaram-se com o plural de Deus, que contrariava a base do judaismo, isto é, o monoteismo, mas servia o Politeismo, a Mitologia e à teoria dos deuses astronautas. Ao fim de tudo, um grupo de exegetas optou por dar à partícula oh um sentido de atributo, ficando aquela primeira frase bíblica com a seguinte tradução:

No princípio, o atributo de Deus criou o céu e a terra.

Atributo significa "aquilo que é próprio de um ser". No caso de Deus, todo-poderoso, é o seu poder, a sua Lei eterna e dura, irrevogável e inalterável. Assim, sejam quais forem as leis dos homens, o seu Direito, nada valem perante a Lei de Deus, que nos manda experimentr e sofrer para aprender, assim como morrer para renascer e ter uma nova chance, tantas vezes sejam necessárias, para evoluir. Assim, o plasma das estrelas criou planetas minerais, que um dia tiveram uma de suas moléculas a se reproduzir, iniciando a vida e com ela, os vegetais, que se individualizaram e ganharam movimento próprio (anima = alma), desenvolvendo sua estrutura neural e formando a memória que permitiu o processamento de dados, assim surgindo a inteligência e os seres intelectruais, entre os quais o homem ainda é o topo, na Terra.

Chegamos, assim, a um ser, também criador, assim feito à imagem de Deus, como o camputador eletrônico foi feito à imagem do computador biológico, nosso cérebro e o robô sairá com cérebro próprio pelo espaço cósmico, feito à imagem do homem, alimentado com vida, como nós, os animais e os vegetais, pela energia das estrelas. Aí chegando, perguntamos se haverá algum fim do mundo.
É evidente que não, porque a Lei de Deus não tem dispositivo que permita isso. Ao contrário, nela, cada destruição promove uma evolução. O máximo que podemos destruir é a nossa civilização, com nossas leis permissivas, com nossos perdões viciosos, com nossa vaidade, com nosso egoismo, com nossa preguiça. A Lei de Deus determina o fim do que é imperfeito, em busca da perfeição. A escola onde se aprende isso é a vida, cada vida sendo um período letivo, podendo ser repetido eternamente, se não se aprende.

A conclusão óbvia é que a violência que medra em nossas cidades só terminará quando resolvermos enfrentar o problema com educação e não apenas com repressão. Chegamos a um estádio em que isso já é quase impossível e teríamos de esperar a Natureza destruir o cenário para começar um novo povoamento. Talvez possamos evitar isso, começando por controlar a população e colocar os interesses ontológicos à frente dos ideológicos e dos prazeres que viciam e degradam. Somos, já, suficientemente intelectuais para resolver esse problema, mas temos de saber que um dos recursos da educação é o sofrimento. Pode ser o último a ser empregado, mas deve ser considerado e aplicado. Assim manda Elohim, que mata populações inteiras.

Adinoel Motta Maia
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LEIA TAMBÉM O MANIFESTO DO APOCALIPSE, EM
E O ROMANCE QUE LANÇA A PSÍQUICA
a disciplina científica que estuda a consciência universal desde o nada
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sexta-feira, 9 de novembro de 2012

BAIRROS E ARRABALDES

Crônica

Há cerca de cem anos, a chegada do verão levava os soteropolitanos de melhor condição financeira para os arrabaldes da cidade. Os jornais, que ainda não tinham colunas sociais, anunciavam em pequenas notas, com título, a ida de uma família para o Porto do Rio Vermelho, de trem, que partia do Campo Grande, com armas e bagagem necessária a uma longa estadia, dita veraneio. Na direção oposta, ia-se para Itapagipe, carregando-se toda a tralha por terra no contorno da baía, desde o Comércio, atravessando-se a Calçada, os Mares, o Caminho de Areia, até o Porto dos Tainheiros. Em ambos os portos, mais de pescadores, construiu-se boas casas que ainda hoje se vê.

Ao longo dos anos, no século XX, enquanto o Rio Vermelho preservou-se, Itapagipe degradou-se. As regatas do fino esporte do remo, que reunia a aristocracia em navios para ver as competições dominicais com primeira página garantida nos jornais da cidade até os anos 30 e 40, foram substituídas pelas marinas - meras garagens de barcos - e isso é o que ainda tem de melhor por ali. A Avenida Beira-Mar hoje mostra umas poucas casas em ruinas como testemunho do ápice social daquelas bandas, vivendo agora na sua extremidade da Penha, de uma atividade gastro-cervejeira de fins de semana ainda movimentados pela frequência massiva à praia do Bogari.

Por anos a fio, a Prefeitura faz vistas grossas para o retiro do poder econômico que dominava e alimentava aquele arrabalde e o transformou em bairro industrial, chamando para lá os operários que acabaram ficando sem a indústria, que foi de refrigerantes e chocolates e cristais, por exemplo; sem os trapiches dos armazens gerais; sem o comércio que abastecia o subúrbio ferroviário; enfim, sem o dinheiro que dava vida própria à península  A invasão dos miseráveis - os alagados em palafitas - irresponsávelmente permitida pelo poder público e remediada com o aterro que criou novos bairros ditos populares, apenas inchou o músculo social, nítido sintoma da doença que ali se estabelecia como dormitório de problemas e não de cidadãos.

Cada novo prefeito chega como uma esperança, que agora se renova, porque o povo itapagipano votou para eleger o próximo a ser empossado em janeiro. Com a migração das fábricas para os centros industriais de Aratu e Camaçari, Itapagipe vem mostrando uma vocação para o turismo, quer pelas suas belezas naturais, quer pela sua história e seu folclore, quer pela sua posição privilegiada na Baía de Todos os Santos. A classe média que ali emerge já merece equipamentos urbanos de boa qualidade. Por que o Largo do Papagaio, por exemplo, não consegue ter a mesma qualidade do Campo Grande? Por que a Beira-Mar não é uma avenida, desde a Penha até a Calçada, como é a avenida desde o Farol da Barra até a Ondina?

Uma nova frente se forma, na área da saúde, desde que Irmã Dulce criou o Hospital Santo Antônio, no Largo de Roma. O que começou como um serviço assistencial para mendigos e outros marginalizados, transformou-se num movimento que atraiu para aquela área, desde farmácias até laboratórios e clínicas populares diversas que já tomam a Avenida Fernandes da Cunha na direção do Largo dos Mares e promete fazer dali um point na área da saúde, para lá se transferindo ou abrindo filiais, algumas empresas do ramo, assim assegurando a assistência médica que é exigida por quem quer e tem melhor qualidade de vida, inclusive quando faz turismo.

Já passou da hora, portanto, de se olhar para aquele outrora arrabalde de veraneio de gente rica como bairros de gente pobre que quer e pode ser classe média, integrando-o social e econômicamente a esta cidade de encantos e desencantos, que é Salvador.

sexta-feira, 2 de novembro de 2012

O DIA DOS IMORTAIS

Crônica

Hoje, 2 de novembro, é o Dia dos Mortos, dedicado aos parentes e amigos já falecidos, propondo-se pranteá-los, homenageá-los com visitas aos respectivos túmulos, deixando-se ali uma flor, uma vela acesa ou apenas lágrimas. Como se ali estivesse a pessoa amada, admirada ou respeitada. Como se ela tomasse conhecimento daquela presença e daquela ação. Assim, o homem continua preservando e homenageando a matéria, mesmo após a sua falência, a decomposição do corpo em moléculas, em átomos e finalmente, em energia que se desprende totalmente dos seus resíduos, nada mais restando, além dos ossos, que são trasladados para uma caixa e guardados ad eternum.

Graças a esse procedimento milenar, podemos hoje descobrir e estudar o passado, desenterrando os restos mortais de reis e de plebeus, indo aqueles para os museus e estes para os laboratórios de pesquisa. Reis que construiram pirâmides e mausoléus monumentais, acreditando que dessa forma permaneceriam vivos na eternidade, preservando seus tesouros para recuperá-los em sua volta, numa outra vida. São, assim, os cemitérios tradicionais, ainda hoje, testemunhos da classe dominante de uma comunidade e de toda uma nação, que assim preserva os seus valores religiosos e artísticos nos sepulcros construídos e adornados com os símbolos de sua época.

Isto é uma coisa: a cultura da História com seus arquivos documentais, associados a tais testemunhos dos indivíduos que a fizeram e de certa forma atingiram a imortalidade, como seres materiais de carne e osso, conforme pretenderam. Outra coisa é a crença de que essas pessoas também alcançam a imortalidade em outro plano, dito espiritual, porque não material. Doravante, devemos utilizar, respetivamente, os termos psíquico e físico, para esses planos.

Os seres animais, isto é, os que têm alma (anima), a força que movimenta os corpos vivos, surgiram da evolução dos vegetais, que recebem a energia vital diretamente do Sol, pela fotossíntese e a energia para crescer e multiplicar a partir dos elementos químicos tirados do solo, através de suas raízes. Sem tais raízes, os animais desenvolveram estruturas móveis que recebem a energia vital do Sol através do ar que respiram e a energia para crescer, multiplicar e trabalhar a partir dos elementos químicos tirados do alimento ingerido cotidianamente.

Isso estabelecido, sabemos também que nos animais, surgiu e desenvolveu-se o cérebro e com ele o indivíduo, isto é, o ego, passando a evolução a se fazer não apenas em grupo, isto é, nas espécies, mas segundo a experiência de cada indivíduo, inicialmente dentro de colônias (formigas, cupins, abelhas) nas quais o indivíduo é a colônia, isto é, sua raínha; seguindo-se os seres maiores e mais complexos, em bandos (aves, peixes, etc), sob o comando de um dos seus componentes; até que o cérebro ganhou um adendo e apareceu o réptil, dono de si mesmo. Daí para os mamíferos, crescendo a autonomia e a individualidade, chegou-se ao homem e com este um cérebro mais desenvolvido, intelectual.

A evolução do ego, assim, atinge, no homem, o estádio de fazer e compreender símbolos e com estes criar a linguagem; estudar a natureza e explorá-la parcial e oportunamente; criar estruturas de abrigo e de exploração política, econômica e social; entre outras performances, ao fim das quais a cultural, científica e religiosa, em busca de conhecer a si mesmo, sua origem e seu destino, após a morte. Sua ignorância, neste campo, o tem levado a crenças de imortalidade não apenas do corpo ou da memória deste, como já vimos, mas também da alma (força que, no entanto, só existe no corpo, chegando com o nascimento e saindo na morte) e do ego, que também se conhece como "espírito". A ideia de imortalidade deste implica num fenômenno de reencarnação, que está em todos os povos, de uma forma ou de outra, menos nos cristãos, que preferem ter uma única vida material preparatória para uma vida eterna no  paraíso ou no inferno.

Crenças à parte, neste momento, queremos registrar apenas, para terminar esta crônica, no dia dos mortos, o fato de que morre o corpo, definitivamente, sem retorno. O que se guarda, na memória, é o ego. Lembramos de nossos parentes e amigos mortos, naquilo que ele fazia, como o fazia; o que dizia, como o dizia; o que queria e propunha... e em síntese, naquilo em que uma pessoa é única: a memória que temos dela, inclusive o seu nome. Em tudo isso, foi única. Quem não valoriza e preserva sua imagem, perante o mundo, a nação, a comunidade, a família, jamais será lembrado, depois de morto, porque simplesmente não deixou obra realizada nem registro do que fez. Este indivíduo realmente morre para sempre. De fato, não valeu a pena ter vivido, porque apenas passou. 

Adinoel Motta Maia

sexta-feira, 26 de outubro de 2012

QUEM ACEITA FRUTA ESTRAGADA

Crônica

Estou vindo do Gabinete Português de Leitura, onde iniciamos a III Semana da Baía de Todos os Santos, com uma sessão informal no auditório e a abertura de exposição intitulada "Naufrágios na Baía de Todos os Santos". Conversou com as pessoas presentes, o Prof. Eng. José Goes de Araujo, autor do livro Naufrágios e Afundamentos na Costa Brasileira, do qual se tirou elementos para situar num grande mapa da BTS, os lugares onde se encontram embarcações afundadas. Referiu-se ele ao fato de que antes de termos sequer equipamentos apropriados para mergulhar ali, os americanos vieram e levaram tudo o que encontraram nos barcos naufragados. Depois disso, conseguiu-se os tais equipamentos e foram realizados os mergulhos que ainda acharam alguma coisa. Os achados oficiais renderam peças para nossos museus. Os outros, para colecionadores particulares ou pessoas que ainda os tentam comercializar. Recentemente, noticiou-se em jornal, que alguém encontrou um canhão no fundo do mar, nas proximidades do Rio Vermelho. Seguiu-se a informação de que a Marinha foi lá e tomou o canhão. Finalmente, ouviu-se dizer: "Bem feito! Quem mandou abrir o bico?"

Este é um exemplo do que ocorre com tudo neste Brasil, onde se cata fruta estragada no chão, para não se ter o trabalho de subir na árvore. Estamos acostumados em ficar com o aceitável, por não sairmos atrás do perfeito, por não querer chegar primeiro, por não se valorizar - por falta de educação - o que os povos educados valorizam. O que se entende como cultura, desde a escola, aqui, é o som que induz ao sacolejo do corpo. Nestes dias, estou lendo nos murais que a Biblioteca Pública da Bahia está relizando festa de música e dança, certamente porque não consegue atrair mais ninguém para os livros. Para não perder o emprego por não ter o que fazer, os bibliotecários agora balançam as nádegas, tentando assim garantir a frequência nas bibliotecas.

Estou a ouvir os nossos gênios da pedagogia: "Não se deve forçar a criança a aprender ou fazer o que não quer!" Quem não quer usar o cérebro, pode, assim, usar o corpo. Assim, o que importa, hoje, na escola, é a presença do aluno em sala de aula. Não se reprova mais por falta de conhecimento. O que está no manual é aprovar todos para que no ano seguinte, outra turma tenha sala onde sentar. Ao fim do curso, as estatísticas mostram que temos mais tantos e quantos jovens prontos para o vestibular, não havendo problema para os que sabem menos, porque estes - os menos ruins - vindos de escola pública, terão aprovação assegurada pelo regime de cotas. Engana-se nossa juventude, como se engana os adultos com esmola. Esmola é o dinheiro que se gasta para manter a miséria. Educação é o dinheiro que se gasta para formar cidadãos independentes. Bolsa família é esmola que engana o povo que não sabe que vai continuar lá embaixo. Não exige que o filho de quem a recebe estude e seja aprovado. Exige apenas que seja matriculado na escola. Uma farsa. Um crime porque é vendido como remédio. Não é remédio. É apenas analgésico.

Fica, assim, todo mundo dançando e cantando e achando que, por isso, está tudo bem.  O mal é que  anestesiando o povo, monta-se um crescente cataclismo para explodir no futuro. Muita gente vai morrer sorrindo porque não teve tempo de perceber o perigo. Quem anda no escuro, cai no abismo pensando que está subindo ao céu. Não vê coisa alguma!
Adinoel Motta Maia

sexta-feira, 19 de outubro de 2012

PERGUNTAR É PRECISO!

Crônica

Sentar numa varanda, num fim de semana - com ou sem biscoitos e suco de laranja - para ler um bom romance policial de mistério, é sempre um prazer que se renova a cada capítulo. Os bons romances policiais de mistério são aqueles nos quais o crime é o que menos importa, valorizando-se o trabalho racional do investigador. Quando o autor é dos bons, a trama é enriquecida com informações e análises psicológicas, históricas, geográficas, entre outras, dando ao leitor a sensação de estar mergulhado no espaço tetradimensional da narrativa.

No âmago das estórias detetivescas, encontra-se sempre uma pergunta que permanece ao longo do texto: qual o motivo do crime? Em outras palavras: quem ganha com a morte de uma pessoa? Em sequência: quanto ganha, para valer o risco de ter a sua própria vida destruída?

Trasladando o cenário literário para a vida de uma cidade ou de uma nação, os mistérios são os do crime de corrupção, aquele pelo qual o serviço público transforma-se em oportunidade para o faturamento ilícito, sob a proteção da lei, que diz não haver crime se a Lei não o prever, pedra fundamental do Direito que não pretende fazer Justiça. Assim, por exemplo, se um assaltante agride a murros sua vítima, depois dá-lhe um tiro na perna, seguindo-se uma facada em área abdominal e finalmente a matando com dentadas no peito, comendo o seu coração; esse agressor só poderia ser julgado por assalto a mão armada, mas jamais por assassintato, pois a Lei não preveria morte por antropofagia. Em outras palavras: a Lei não estabelece pena para quem ganha alguma coisa, comendo gente.

Vem, assim, a pergunta genérica, quando se tem um problema não resolvido e se quer chegar ao culpado pela causa ou pela omissão: "quem está ganhando com isso?" Por exemplo: quem está ganhando com a falta de transporte público com qualidade e quantidade pelo menos satisfatórias? Ou ainda: quem ganha com a migração desenfreada das pessoas do campo para as cidades (grandes ou não)? Mais uma: quem ganha com as invasões de encostas? Ou: quem ganha com o caos da educação no Brasil? Um últmo exemplo: quem ganha com a péssima saúde pública?

Como não há previsão na Lei, para administradores públicos em cargos distribuídos politicamente e não por promoção em carreira, que se omitem ou agem erradamente, isto é, sem um rumo definido e correto, em benefício de pessoas ou grupos interessados no caos, essas pessoas não podem ser julgadas nem punidas.

Por outro lado, surge já bem para cá do horizonte, uma prática generalizada de valorizar e até elogiar o administrador público que promove a criação de empregos, depois de estimular práticas de aumento populacional, sempre com o objetivo de aumentar os mercados e assim beneficiar os produtores que precisam vender cada vez mais. Com essa meta, dita econômica, surge uma outra pergunta, que é praticamente uma instrução: se você pode complicar, por que quer simplificar? A complicação cria empregos. Quando se cria um imposto, além do aumento da arrecadação, aumenta-se a máquina arregadadora, com novos empregos a serem distribuídos politicamente, assim como a máquina fiscalizadora com iguais propósitos e assim por diante, numa cadeia inflacionária incontrolável.

A nós, cidadãos omissos, nesse cenário, compete apenas obedecer e pagar, obrigados a votar em candidatos que não escolhemos e que permanecem irremovíveis por décadas em carreiras políticas que só se encerram com suas mortes. Por isso, aumenta o número de votos nulos e em branco, nas eleições. Precisamos de uma lei que anule as eleições em que a soma desses votos com o número de abstenções for maior do que vinte por cento, por exemplo, ocorrendo assim a obrigação dos partidos indicarem outros candidatos.

sexta-feira, 12 de outubro de 2012

OS DESCARADOS SERÃO MAIORIA

Crônica

Um dos porteiros do prédio onde moro está revoltado, por ter viajado para votar, na cidade de onde veio para Salvador. Seu candidato a prefeito perdeu a eleição, mas o motivo do seu aborrecimento foi a abordagem que lhe fizeram, oferecendo-lhe 350 reais para votar no candidato que ganharia a eleição. Diz ele que muita gente aceitou a oferta e trocou de candidato. Nenhuma novidade. Prática antiga, o que tem mudado é o modus faciendi. Antigamente, na roça, trocava-se o voto por um saco de farinha, uma dentadura postiça ou um par de sapatos (um pé antes da eleição e outro depois). Nas cidades, o prefeito que dava transporte para levar a parturiente à maternidade, ganhava toda a família como eleitora na eleição seguinte. Havia uma certa "honra" em não aceitar dinheiro. Hoje a pessoa se vende por dinheiro, mesmo. Com a maior tranquilidade, dando risada e aceitando pouco. Um indivíduo que faz isso, não vale nada.

Evidentemente, olhando tudo o que acontece, estamos vendo que se lutou pela democracia nas ruas, exigindo-se "diretas já", mas a nossa democracia é uma farsa. Depois do "show de bola" que o nosso honrado Superior Tribunal de Justiça ofereceu a todos os cidadãos brasileiros, pela televisão, ao vivo, nestas últimas semanas, chegou a hora do tribunal eleitoral mostrar que não existe apenas para montar as seções de votação e ler, registrar e divulgar resultados das urnas eletrônicas, em "tempo recorde".  Só não viu quem não quís, aqui, em Salvador, placas publicitárias irregulares espalhadas pela cidade, em horas e dias, sem cumprimento dos prazos. Na avenida de vale do Canela, por exemplo, na véspera da eleição, tinha um carro de som fazendo propaganda eleitoral. No dia da eleição, os passeios à frente das seções de votação tinham tapetes de "santinhos". Alguém divulgou uma relação de candidatos multados? Pior do que tudo, no entanto, é a abordagem para a compra de votos, com dinheiro na mão.

Assim, apenas trocamos de ditadura. Tínhamos uma nefanda ditadura militar, feita com o poder das armas e agora caminhamos celeremente para uma criminosa ditadura financeira, na qual o Estado pode comprar consciências, criando e oferecendo cargos, aumentando benefícios individuais, oferecendo bolsas coletivas, negando educação e adotando outros tantos procedimentos que favorecem processos de corrupção, conforme se está comprovando em comissões parlamentares de inquérito e nos citados julgamentos do STF, para que um partido se mantenha no poder. Um dia, todos estarão dominados, se não houver uma reação de quem preza pela sua consciência e sua liberdade. Os descarados serão maioria e vencerão todas as eleições. Os tribunais eleitorais continuarão emitindo títulos de eleitor que já não são necessários. Continuarão fiscalizando pesquisas que nem sempre são fidedignas. Continuarão posando para retrato, no anúncio de recordes de velocidade nas apurações eletrônicas. Quando garantirão que a máquina partidária não foi usada para dar dinheiro e/ou merenda e transporte a quem frequenta comícios, por exemplo? Quando impedirão que empresas privadas façam doações de campanha em troca de contratos futuros?

A verdade é que o ser humano degradou-se, trocando seus valores de consciência, sua dignidade, sua honra, sua saúde e sua imagem perante seus filhos, por dinheiro, casas, carros, helicópteros, lanchas, aviões, viagens e festas milionários, na classe A e por bolsa família na classe D. Aos membros da classe média, deu-se mais trabalho e mais impostos. Os desclassificados miseráveis continuam com o direito de morrer na rua.

Tudo isso porque a educação é péssima, no Brasil. A doméstica é zero e a escolar é só estatística.
Evidentemente, os políticos são pastores que só dominam ovelhas ignorantes! Ricas e pobres...

Adinoel Motta Maia

sexta-feira, 5 de outubro de 2012

OS PASTORES E SUAS OVELHAS

Crônica

Houve uma gestão municipal que terminou com uma unanimidade. Toda a população a acusava de ter colocado Salvador como a cidade mais suja do Brasil. Agora, a nossa cidade é vista por todos como a cidade mais escura do país, à noite. Temos avenidas na escuridão total, como se fosse uma rodovia interurbana no meio do mato. Na grande maioria das ruas, no entanto, o que se vê são lâmpadas acesas, mas sem capacidade de iluminação necessária e compatível com o nosso nível de tecnologia e civilização. O oposto do que acabo de ver em João Pessoa e do que vi no início do ano em Aracaju. Já não falo de Lisboa, Barcelona, Madrid, Sevilha, entre tantas outras por onde passei também neste ano, porque tem gente que ainda acha não se dever comparar o nosso potencial civilizatório com o dos europeus, por exemplo. Como se estivéssemos condenados a nos manter nos mais baixos níveis de educação, de saúde, de qualidade de vida e de comportamento social.

Quem não sabe das coisas, ignora-as, é ignorante e quer continuar assim. Parece estar escrito em sua testa: NÃO QUERO SABER DE NADA! NÃO ME INCOMODE! Quando perde o emprego ou fica doente, vai chorar no pé do caboclo! Nunca põe a culpa em si mesmo, em sua ignorância. Quem não sabe das coisas, vive acreditando no que ouve no rádio ou vê na televisão, ou no papo que já não é com os vizinhos, mas pelo celular. Dias atrás, uma mulher andava na rua, um pouco à nossa frente e por uns cinco minutos - íamos na mesma direção - ouví-a repetir "Ói, amiga!". "Ói", com acento agudo mesmo, querendo dizer "olhe". Hoje, há muitas pessoas que passam a maior parte do tempo penduradas no celular, apenas jogando conversa fora. Depois, queixam-se de sua pouca sorte...

A atual campanha política em vésperas de eleição municipal tem um componente ridículo, que mostra o nível do nosso eleitorado e o que cada membro dessa coletividade quer e espera dos candidatos nos quais votarão em 7 de outubro: os carros de som que circulam por nossas ruas e pedem votos aos eleitores. Há candidatos que nada propõem ou menosprezam qualquer proposta, optando por repetir uma musiquinha que martela nosso cérebro com seus nomes e seus números, numa demonstração cabal de que nada mais esperam dos seus eleitores do que eles são capazes, intelectualmente: ouvir musiquinha. Esses políticos ofendem os soteropolitnos, considerando-os incapazes de ouvir uma proposta e analisá-la. Basta colocar uma musiquinha no seu cérebro, dia e noite, todos os dias, para condicioná-los a optar pelo seu número, na urna eletrônica. Como se condiciona um animal qualquer...

Tal ofensa deveria ser o suficiente para baní-los da nossa cidade, mas isso não ocorre. São eleitos para um mandato de quatro anos como vereador. Alguém perguntou aos vereadores assim eleitos há quatro anos, o que fizeram durante todo esse tempo, que se possa mostrar, em Salvador? Alguns são famosos, populares, queridos pelo seu jeito de ser e suas propostas "sociais" que não promovem os indivíduos nem os capacitam para exigir seus direitos de contribuintes, mas os deixam como estão, na ignorância e no gosto pelas festas, longe dos estudos, das análises e da busca das causas dos seus problemas. Verdadeiras ovelhas que dependem de seus pastores.

Não é só em Salvador.  Nós sabemos que há municípios - são 5568 em todo o Brasil - incapazes de produzir recursos sequer para pagar suas despesas administraivas e que vivem da boa vontade do governador ou do governo federal.  Nestas eleições, temos 481.446 candidatos a vereador em todo o Brasil. Somente 57.422 serão eleitos. Somente! Consideram-se políticos e como tal, querem viver sustentados pelo Estado, com o dinheiro que os cidadãos que produzem pagam em forma de impostos. Temos todos de refletir sobre esses números. Não basta dizer que é o preço da democracia. Nós queremos a democracia, mas a nossa é muito cara e não dá o retorno que se espera de tal investimento. Vamos pensar nisso. Precisamos de vereadores que proponham o enxugamento das respectivas Câmaras Municipais. Menor custo para a máquina administrativa que visa mais gerar emprego público do que  levar progresso ou resolver problemas das comunidades.  Não se justifica ter município que não seja capaz de produzir para sustentar sua própria administração, pública. Já é hora de se saber quais são esses municípios e incorporá-los a outros. Quem vai fazer isso? Os políticos? Todos sabemos a resposta.
Adinoel Motta Maia


LEIAM TAMBÉM O MANIFESTO DO APOCALIPSE EM
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sábado, 29 de setembro de 2012

UMA CASA PORTUGUESA


Crônica

   A presença portuguesa na Bahia, desde 1500 - aqui foi descoberto o Brasil - tem sido fundamental para diversos setores do nosso cotidiano, desde o idioma que todos falamos até a arquitetura e o urbanismo nas cidades em que vivemos. Salvador foi - como Brasília e cinco séculos antes desta - uma cidade planejada por arquiteto - em Lisboa - e inteiramene construída, então, com materiais vindos de lá, naqueles barcos aparentemente frágeis, que atravessavam o mar oceano com o custo de muitas vidas humanas, trazendo para cá o que há cinco séculos se conhecia como civilização.

   Raro é o indivíduo, nesta cidade do Salvador da Bahia de Todos os Santos - não aceito os hífens que artificialmente se bota entre estas palavras - que não tem sangue português em suas veias, sendo prova disso o sobrenome que cada um carrega. Exceto, portanto, os imigrantes recentes, de outras origens, somos todos, aqui, portugueses e luso-descendentes. Mesmo aqueles espanhóis, italianos, europeus, africanos e asiáticos em geral, que aqui aportaram e que daqui não saíram mais, acabaram casando com baianas descendentes de português.

   Assim, os 150 anos do Gabinete Português de Leitura, que começam a ser comemorados neste 2 de outubro - até março de 2013 - constituem motivo de orgulho para toda a cidade e todos os cidadãos. Nos seus salões, foram realizados muitos dos principais eventos da sociedade, da família soteropolitana, a exemplo dos bailes de debutantes, quando ainda não existiam os clubes socio-desportivos e os grandes hotéis. Na sua biblioteca, muita gente entrou não só para ler ou consultar as grandes obras literárias de romancistas e poetas da língua portuguesa, mas igualmente ali foi o lugar de leitura de jornais para muita gente que não os podia comprar a cada dia. Professores de escolas secundárias e de instituições universitárias sempre a frequentaram para fazer pesquisas e ensinar seus alunos a realizá-las.

  Mantido com recursos próprios, até hoje sem ajuda governamental, o Gabinete Português de Leitura de Salvador faz milagres financeiros para não fechar suas portas. Neste momento, sob a presidência do comerciante Manuel Bernardino da Silva, tem uma diretoria dedicada e conta com o apoio logístico do Consulado de Portugal, na figura do atual cônsul - José Manuel Lomba - sempre presente e entusiasmado colaborador, apesar de não haver dinheiro em Portugal - neste momento mergulhado na crise européia - para ajudar nas despesas do GPL. Basta dizer que a revista Quinto Império está atrasada em sua publicação anual. Nos últimos meses, sua biblioteca esteve fechada, por falta de bibliotecária e o antigo forro de madeira do teto de um dos seus salões teve de ser retirado, porque tão velha e fina estava essa madeira, que já parecia papel e começava a cair.

   Apesar das dificuldades do momento, o sesquicentenário tem uma comissão consultiva constituida por pessoas de proa da nossa sociedade, que organiza um calendário a ser cumprido até março do próximo ano. Estará sendo comemorado, portanto, com respeito ao passado e esperança no futuro, sendo este o momento de mostrar a toda a Bahia o quanto essa instituição pertence a ela, porque isso parece não estar sendo percebido.  Embora se pense que é uma associação dedicada exclusivamente à Literatura Portuguesa - ali está um grande acervo de obras literárias lusitanas - sua atual diretoria está se esforçando em mostrar que ela promove a Leitura e esta não é apenas artística, mas também filosófica, científica, tecnológica e até religiosa ou mística, não havendo limite para o conhecimento e a investigação intelectual.

   Assim, o Gabinete Português de Leitura é um lugar, sim, para reunir pessoas que dedicam tempo à atividade de pensar sobre o mundo e sobre si mesmo. É um lugar de encontro para trocar idéias e de ação individual para promover a cidade e a sociedade. É uma casa para os escritores, os artistas, os filósofos e os cientistas baianos. Basta bater à sua porta, quando ela já não estiver aberta. Espera-se, portanto, que os baianos se agreguem às comemorações desse sesquicentenário e as aproveitem para  se inserir no espaço e nas atividades dessa instituição. Que se lembre os seus fundadores e todos aqueles que continuaram com sua proposta e seu trabalho nestes 150 anos de sua existência.
  

segunda-feira, 24 de setembro de 2012

O ESPAÇO DA CIÊNCIA

Crônica

 Esta crônica das sextas-feiras está com atraso de dois dias, porque passei cinco deles na organizada, limpa e bem iluminada João Pessoa, a capital da Paraíba, aonde fui para me isolar e fechar a trama de A Trilha dos Santos do Mundo, o último romance da trilogia Nortada, que deverá chegar às livrarias no dia 21 de dezembro de 2012, no solstício de verão, aqui, no Hemisfério Sul. Assim, no dia 22 de setembro, no equinócio da primavera, eu estava ali, na Estação Ciência, cerca de 40 metros acima do nível do mar, na Ponta do Seixas - o ponto oriental extremo da América do Sul - cujas falésias de argila estão desmoronando pela ação das ondas, que já destruíram totalmente as alvenaias de pedra que sutentavam a elevada pracinha de Iemanjá - justamente a Rainha do Mar - separando aquela ponta da Praia do Cabo Branco, extremo urbano Sul da cidade, onde me hospedei para meditar, andar e - por que não? - comer peixe, camarão e carne do sol.

Era sábado e as 4 horas e meia, na madrugada, acordei para ver pela janela envidraçada, à minha frente, o Oceano Atlântico e imaginar, além do horizonte, a África. Um dos dois únicos dias do ano em que o dia e a noite têm exatas doze horas (equi, em grego, significa igual), naquele momento a luz solar já inundava o céu. É ali, o ponto onde o dia começa mais cedo, em toda a América do Sul e esse conhecimento geográfico nos leva a refletir sobre o nosso planeta a navegar no espaço cósmico sob a ação de forças gravitacionais gigantescas, ele atraído pelo Sol e este, pelo núcleo da galáxia, pondo tudo em movimento frenético que mal percebemos porque também são enormes as distâncias entre os planetas e entre as estrelas.

Naquele dia, às 9 horas, saí para o calçadão da Avenida Cabo Branco, iniciando minha caminhada em direção ao Sul e subindo para a Ponta do Seixas, com o objetivo de visitar a Estação Ciência, num maravilhoso conjunto arquitetônico e urbanístico dedicado às ciências e às artes que deveriam estar em prédios separados, mas que, infelizmente, sofre um processo de dominação artística com o "espaço-ciência" invadido por exposições fotográrica, de pintura e tapeçaria e de escultura, homenageando figuras da música popular, da ação social e até da política. O belíssimo prédio de fachadas geométricas espelhadas, tão leve que parece voar, preso ao solo por rampas externas, assim, em si, uma obra de arte, feito para o Espaço Ciência, tem apenas menos da metade de um de seus dois pavimentos aproveitado para um projeto universitário de robótica, um mini-planetário para não mais de dez pessoas deitadas no chão e algumas cadeiras em frente a um monitor onde se presume poder ver documentários científicos. Só isso...

Este é um sério problema não só da Paraíba. O povo brasileiro, por inteiro, está sendo conduzido pela mídia eletrônica e pelos políticos em funções administrativas para uma alienação científica danosa ao intelecto e ao corpo humanos. A informação que aumenta o conhecimento e a capacidade de raciocínio nos cérebros está sendo minimizada em benefício da emoção fácil que atrai as massas de cordeiros assim facilmente manobradas por seus pastores, sejam os políticos, sejam os religiosos, sejam os promotores de venda (anúncios publicitários e patrocínios) na mídia eletrônica, com forte apelo aos apetites sexual, visual e auditivo através da música e das artes cênicas ou plásticas. Tudo isso se reflete no comportamento social, na perda de saúde física e mental e na idiotização do povo, com elevado prejuízo para a evolução do ego e acelerado processo de massificação que transforma homens em animais (a palavra grega anima significa movimento) que cultivam apenas o próprio corpo.

Tudo isso deveria estar sendo explicado em muitos "espaços-ciência" em todo o Brasil, inclusive nas escolas, formando indivíduos capazes para constituir sociedades sadias e prósperas, ao contrário do gado humano que declaradamente é chamado de cordeiros ou ovelhas por diversos tipos de pastores.
A presença da arte nos espaços da ciência, portanto, faz parte do processo de atração dos poucos indivíduos que buscam o conhecimento, desviando-o no seu próprio ambiente para a emoção e a paixão proporcionadas pelas artes. Nada contra estas, desde que não contribuam para a animalização dos intelectuais. Evidentemente, Arte também excita o intelecto na medida em que valoriza os símbolos e a interpretação destes, estejam eles na Literatura, na Pintura, na Escultura, na Música, na Dança ou no Teatro. Não se deve estar contra essas manifestações, mas se deve, sim, estar contra a invasão do espaço da ciência por elas. Sem a ciência, sem a razão, sem o mistério e a investigação, o homem perde o lado direito do seu cérebro e volta à animalidade. Os animais também fazem arte (basta ver os desenhos que estão nas conchas das praias, por exemplo, alguns mais belos que os de alguns artistas humanos), mas, na superfície da Terra, só os humanos são cientistas, filósofos e místicos.

Adinoel Motta Maia

sexta-feira, 14 de setembro de 2012

Educação, Cultura e Turismo

Crônica

Sim, estamos com nova Ministra da Cultura. Rainha morta, raínha posta. Como São Paulo é o maior centro cultural do País, parece que a proposta é mostrar aos paulistanos, que não faltará recursos para a Cultura naquela cidade, se o candidato do governo federal àquela Prefeitura for eleito. Isto talvez signifique que o resto do Brasil não terá verbas para a Cultura e assim ninguém deveria eleger os candidatos do governo à Prefeitura das demais Capitais. Conversa besta, simplória, esta, num País tão evoluído, politicamente, como o Brasil. Não é?

Seja como for, não custa dizer que não existe Cultura, sem Educação. Houve época em que os ministérios e secretarias estaduais eram da Educação e Cultura, assim, inseparáveis. Num País sem Educação, Cultura é só Folclore, isto é, manifestações autênticas, singelas, do povo que se diverte com danças, pantomimas, música e cantos em praças públicas, como acontece no Carnaval, no São João e nas paradas de gente colorida e divertida, bastante fantasiada, isto é, travestida. (Parêntesis para consulta ao Aurélio: Travesti = Disfarce no trajar).

Se deixamos os homens sem educação, isto é, como bichos, eles cultivarão os hábitos dos bichos, tais como o de comer sempre que tem vontade, de fazer sexo em qualquer lugar e de ocupar territórios alheios, defendendo-os com violência.

Quando eu era menino, existia um hábito nas famílias, o da educação doméstica, para ensinar a criança a respeitar os mais velhos, a se comportar em casa e em público, a sentar-se na mesa para a refeição, a andar na rua, a conversar com moderação, a vestir-se adequadamente ao ambiente que se frequenta, enfim, a não incomodar as pessoas em volta, com seu visual, seus ruídos ou sua postura.
Com esta base, tinha-se as condições mínimas para se entrar numa escola e ser educado para a prática cultural e em seguida, a profissional. O conhecimeno obtido permitia compreender, interpretar e aplicar os textos literários, as peças teatrais e os trabalhos de arquitetura, engenharia, medicina e outras tantas disciplinas, que tornavam as pessoas mais capazes de realizar obras e de compreender as que observava.

Hoje em dia, ainda é assim, mas apenas para uma elite intelectual que faz o próprio esforço. O Estado é politicamente interessado na quantidade de votos que elegem membros de um partido para um cargo de governo e o que se vê é uma preferência pelos apetites mais primitivos, por exigirem menos esforço intelectual e terem um apelo passional mais forte, juntando-se gente como gado em frente a um palco e comandando esse grupo com gritos e sons para que pulem e cantem em uníssono  Nada mais.

Enquanto isso, por exemplo, em todo o Estado da Bahia, não há um Museu de História que mereça essa qualificação. Temos um Museu de Geologia, mas como é divulgado e se prepara pessoas para que desejem visitá-lo? A educação que se dá visa quase apenas a preparação para o exame vestibular que seleciona para as universidades, onde se educa apenas para o preenchimento de vagas em funções públicas ou privadas. Não se forma pessoas para a cultura e a pesquisa, como uma atividade paralela à profissional. Como pode alguém dizer-se consciente, se não sabe olhar para o céu e situar sua insignificante pessoa no contexto do Universo? Como alguém pode ser consciente, se não é capaz de escolher um candidato, numa eleição e vota apenas na musiquinha que mais lhe agrada ou no apelo passional de uma proposta que não será cumprida?

Vivemos num país em que se faz Cultura na pasta do Turismo e se faz Turismo na Pasta da Cultura.
Não é? Agora temos uma Ministra da Cultura que já foi Ministra do Turismo. Falta um bocado de preocupação com o reflexo que cada um consegue em frente a um espelho.
Adinoel Motta Maia
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sexta-feira, 7 de setembro de 2012

DEPENDÊNCIA, INDEPENDÊNCIA E INTERDEPENDÊNCIA


Crônica

Nada mais oportuno do que conversarmos no dia 7 de setembro, sobre IN(TER)DEPENDÊNCIA!
Na medida em que evoluimos em nossa intelectualidade (ainda há quem valorize mais sua animalidade), a tendência é privilegiarmos a razão em benefício da emoção cultivada e controlada, contra o domínio da paixão, que nos traz doenças psíquicas e físicas, vícios, egoismo com roupa de amor, ódio, violência generalizada e finalmente, morte.

Não há independência nas nações sem democracia, porque as ditaduras costumam subordinar-se a interesses estrangeiros, mais econômicos do que políticos (ver o exemplo histórico brasileiro).  Por outro lado, não há democracia sem respeito à vontade e escolha do cidadão, isto é, do indivíduo que  cresce e pensa melhor na medida em que vive mais (maior experiência) e sabe mais (maior qualificação cultural e profissional). Em síntese, a valorização do indivíduo determina sua capacidade de escolha dos seus governantes em processos democráticos.
 
Assim como esses indivíduos não vivem isolados e dependem de suas relações com outros indivíduos, as nações também dependem, econômica, financeira, social, cultural e politicamente de outras nações. Não há nação rigorosamente independente. A Alemanha de Hitler tentou ser e fazer o que queria, dando no que deu. Hoje, a Europa é um conglomerado de nações, como os estados brasileiros e norteamericanos o são, constituindo federações. A Europa tende a ser os Estados Unidos da Europa. Sem amadurecimento político, não conseguirá atingir esse objetivo sócio-econômico. Enquanto estiver dominada pelas paixões patrióticas que têm provocado muitas guerras, deixará de colher a emoção da união, que só o amor promove.
 
O Brasil só conseguiu ser o País que é, porque os portuguêses foram capazes de unir todas as tribos e colônias num sistema de capitanias hereditárias controladas pela Corôa, mantendo-as sob o domínio de Portugal até sua independênica, unificando todo o território e colocando no trono brasileiro o filho do rei português. D. Pedro I, que depois seria rei em Portugal, como D. Pedro IV, declarou o Brasil independente, ficando tudo em família, ao contrário do que aconteceu com as colônias espanholas, desagregadas, cada uma com sua independência particular. Assim foi, porque quando Portugal descobriu o Brasil em 1500, tratou-o como um pai trata o filho no seu nascimento, entregando-o à sua mãe - a nação indígena multi-tribal então existente no seu território, cultural e politicamente primitiva, educando-a e dando-lhe uma única lingua, com uma única religião - como também ocorreu com as colônias espanholas - mas, além disso, com a fundação de um Vice-Reino e a decisão do Rei de Portugal em transferir o governo para cá, fazendo do Rio de Janeiro, por algum tempo, a capital do País, assim preparando-o para sua independência e para ser a capital do Império, sem separações. Independência essa, que, como sabemos, já vinha sendo exigida por intelectuais e comerciantes luso-brasileiros, inclusive na Bahia, onde houve lutas heróicas e assim foi concedida sob pressão, como um pai é pressionado para deixar seu filho sair de casa e cuidar da própria vida, relacionando-se com a família e pondo o sobrenome desta em seus próprios filhos.
 
É importante salientar que ao adquirirmos nossa independência política, não conquistamos a independência econômica. Saímos do domínio e influência imperialistas de Portugal para o domínio e influência capitlista da Inglaterra no século XIX e dos Estados Unidos da América no século XX, ditadura após ditadura, na República. A última, contra a qual se lutou, nos deixou  de frente para uma conjuntura econômica mundial permeada por guerras setoriais nas quais se alterou o conceito absoluto de independência para um estatus grupal, de países a formarem conglomerados com interesses comuns. O conceito de independência nacional vai se transformando em interdependência de mercados, que influem em decisões políticas, como vemos agora, por exemplo, com a Rússia se posicionando políticamente a favor da Síria porque depende econômicamente desta. Do mesmo modo como temos de ser amigos da China, no Brasil, por ser esse país nosso maior comprador de comodities. A Grécia, sem cão nem gato, submete-se ao Banco Central Europeu ou morre. Se ninguém tem mais independência absoluta, já é hora de eliminar as paixões e seguir a razão, para preservar as boas emoções da cultura e da civilização, extinguindo definitivamente nossas raízes tribais e optando por uma humanidade que reconhece sua condição intelectual.
 
Adinoel Motta Maia

sexta-feira, 31 de agosto de 2012

RESPONDA: QUEM SOU EU?

Crônica

   Desde minha adolescência, escrevendo contos ou lendo romances, dei especial atenção à ficção policial de mistério. Sem perceber isso, sempre tive uma preferência por questionar e investigar o que me cercava, a origem das coisas, a razão da existência, a causa dos fenômenos. Naturalmente, isso me levou aos autores estrangeiros, por absoluta falta de autores brasileiros com textos investigativos, fossem filosóficos, fossem científicos, fossem literários, nas bibliotecas e nas livrarias. Conheci os brasileiros contemplativos por imposição da escola, mas nenhum deles me propôs qualquer descoberta, além da realidade rural ou urbana de um país de pobres que se acomodam e de políticos que os exploram.
   Neste mês de agosto de 2012, completando 75 anos de vida, olho para trás e não me arrependo de ter seguido a minha senda, subido a minha escada, em busca de novos panoramas e horizontes, valorizando o ainda desconhecido, sem entender ou aceitar pessoas que não se interessam pelo que pode haver ao fim da sua rua, fora do seu bairro, além da sua cidade, cultivando a mesmice do dorme e acorda e o conforto do não me incomode com problemas existenciais ou conjunturais.
   Olho para as comunidades e vejo apenas rebanhos. Gado humano, como há o ovino, o bovino,,,
   Um desperdício do potencial que cada ser humano tem, geralmente menosprezado por falta de uso do cérebro além do que precisa para a própria subsistência, as repetidas e automáticas orações aos santos e a diversão com novelas e programas de auditório na televisão.
   Por exemplo, as comunidades não discutem a existência, a natureza ou a presença de Deus. Comunidades se reúnem numa igreja, seja qual for a seita, para ouvir o pastor de ovelhas, isto é, de pessoas que nada pensam e são criadas apenas para dar lã, leite e carne. Quando algum indivíduo, nessa comunidade, propõe essa discussão, é considerado ovelha negra e costuma ser ignorado ou expulso. Há quem o agrida e há quem o despreze, por não considerá-lo boa companhia. 
   Costuma-se ouvir, que este ou aquele assunto "não me interessa".
   Nesse caso estão os assuntos que exigem um pouco mais de atenção, de estudo, de análise e até mesmo, de investigação, que pode ser estimulante, mas que a maioria diz ser cansativa. Há um momento, no início da vida humana, ainda dentro do útero materno, em que a mãe tudo dá ao feto. É bom saber que nesta fase, o ser humano é quase apenas mais um órgão do corpo da mulher que o gera, dependendo dela para crescer, formar seus próprios órgãos, mover-se, sentir dor ou prazer e até pensar. Sustenta-se com a energia vital que a mãe retira do Sol, ao respirar o ar onde aquela se dissipa; e a energia motora, que adquire com os alimentos que ingere. Ao nascer, cortando-se o cordão umbilical, o feto deixa de receber tais energias e morreria imediatamente, se não pudesse aspirar por conta própria o ar com a energia vital do Sol, não se mantendo, sem o alimento, o leite materno, logo ingerido.
   A maioria das pessoas não sabem disso, nem querem saber...
   Nunca pensaram nisso e têm raiva de quem pensa...
   Nada é mais importante para um ser vivo do que a sua própria vida. Apesar disso, são poucos os que se interessam por investigar como é que a vida surge neles e um dia se afasta. Seu cérebro está acomodado, viciado com as paixões e fechado para a investigação. As pessoas se apaixonam com o que vêem, ouvem, tocam, degustam e cheiram e não raramente, satisfazem-se com essas emoções. Raras são as que descobrem o prazer maior da descoberta proporcionada pelo cérebro, quando, por exemplo, recebem a revelação de que não estão limitadas a ouvir música, mas podem compor uma canção. Não estão limitadas a ler uma notícia, mas podem produzir uma ao descobrir uma nova estrela no céu. Não estão limitadas a ver um filme sobre o câncer, mas podem pesquisar como curá-lo.
   Não estou perguntando a ninguém sobre o que cada um está investigando, neste momento, mas posso dizer que um começo é tentar responder à pergunta: quem sou eu? Podem, todos, ter a certeza de que, para essa pergunta, não há duas respostas iguais em todo o Universo.
 
Adinoel Motta Maia
 
 
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quinta-feira, 31 de maio de 2012

A paciência que leva ao Reino do Céu

Crônica 

Adinoel Motta Maia

 Alguém pergunta:
   -- O que é uma ilha?
   Outrém responde:
   -- É um monte de terra cercado de água por todos os lados.
   O primeiro retruca:
   -- No Brasil, é um grupo de homens honestos, cercados por milhões de corruptos, isto é, corruptores e corrompidos.
   A anedota serve como entrada num assunto que nos envergonha, como brasileiros, mas que sobretudo nos preocupa.
   O Brasil está morrendo de câncer.
   Um câncer já em metástese, comprometendo todo o tecido social. O câncer da corrupção.
   Morrem as células boas, envolvidas pelas células más, que estão em todos os órgãos... públicos e privados.
   Na população, os eleitores estão alimentando pesquisas onde conhecidos corruptos lideram os índices, cada vez mais populares, porque compram votos com ajuda pecuniária diretamente distribuída aos ditos "miseráveis", isto é, gente trabalhadora que sai do emprego para receber a ajuda do Estado, enquanto os verdadeiros miseráveis são cada vez mais numerosos, nos passeios das ruas, nas grandes cidades, sem sequer serem vistos pelos agentes dos governos.
   Nesse quadro, verifica-se um proposital abandono da educação fundamental, para que subam os índices de ignorância e de doença - esta é fruto sobretudo da má informação que promove os maus costumes - porque são exatamente estes os que provocam o assistencialismo social, sem que se perceba as pessoas que estão sendo manipuladas para que não tenham condições de gerir seu próprio destino.
   Assim como há dependentes de drogas, os há, de esmolas mascaradas por siglas de programas sociais.
   A gente que se sente beneficiada por estes, acrescenta expedientes desonestos para ganhar favores e dinheiro extra, enchendo as ruas e exercitando a mendicância, quando não o furto.
   Outros há, que são estimulados a praticar "atividades artísticas" que dependem apenas de alguma gesticulação grotesca, ao som de tambores, comportando-se nas ruas e até em palcos improvisados, como se fossem animais no cio. Tudo isso com apoio até de segmentos da mídia e de patrocínios empresarias, a título de ajuda social. Há quem escreva, recomendando aos leitores não ver, não ouvir e não falar, para ser feliz. Uma opção por ser "vegetal", oferecendo-se como anteparo para os resíduos lançados pelos animais, quando há pouca reação intelectual. Cada vez menos...
   A omissão chega a ser criminosa.
   Há quem se elogie por saber atravessar a tempestade sem ser atingido pelos raios.
   Temos de valorizar pessoas que se destacam por suas ações e realizações, considerando primitivos, perto dos animais, os seres humanos que apenas comem, dormem e se reproduzem.
   Reprodução que aumenta estupidamente a população, em nome do aumento dos mercados que aumentam o consumo e melhoram os índices econômicos... até que a bolha explode e a crise se estabelece, arrastando bons e maus, bípedes e quadrupedes.
   Mais do que nunca é necessário voltar a ler os textos longos e menosprezar as figurinhas com legendas da mídia eletrônica.
   Ao lado da história das nações, da história da humanidade e da evolução do ser humano, apresenta-se a involução do quadro social na direção da animalidade, onde e quando o indivíduo é penalizado pelo ambiente selvagem em plena urbis... 
   Há cenários onde já não se distingue os homens dos cães...
   Em 1798, o mundo tinha um bilhão de habitantes.
   Em 1930, dois bilhões.
   Em 2030, terá oito bilhões.
   Há, contudo, uma boa notícia.
   Quem cultiva a paciência  e cresce na sua intelectualidade, evolui para a sapiência.
   Este e só este, entrará no Reino do Céu.

sábado, 14 de abril de 2012

ENGENHARIA: INDÚSTRIA E CONSTRUÇÃO

Imóveis, automóveis e livros são
elementos de um mesmo universo?



Anos atrás, na recepção da Federação das Indústrias do Estado da Bahia, uma pessoa me disse que a atividade editorial não era industrial, existindo apenas a “indústria gráfica” como produtora de livros, sob o argumento de que o editor apenas junta ao produto gráfico os mecanismos de promoção e venda dos livros.
Essa pessoa, então trabalhando ali, tinha sido proprietário de uma gráfica em Salvador, uma cidade em que as empresas gráficas apenas mecanizavam a impressão de letras e figuras, tomando o nome de Editora, quando produziam livros, revistas e jornais.
Eu estava ali como portador de um convite do Instituto Baiano do Livro, para um evento que pretendia reunir segmentos da indústria editorial, em busca de uma solução para o marasmo baiano no setor. Não quis discutir o assunto, saindo da sala com vontade de mostrar a linha de produção de um livro, que começa com o autor da obra, a criá-la, planejá-la e escrevê-la graficamente; seguindo-se a revisão do texto, a ilustração quando necessária, a diagramação do conjunto, a criação da capa; a impressão e encadernação; tudo isso decidido e contratado a diversos profissionais pelo “editor” do livro, que também é contratado pelo Editor, empresário, dono da Editora que registrará, publicará, promoverá e divulgará a obra, cuidando posteriormente de eventuais ampliações e reedições até em outros idiomas e tudo o mais que faz de um livro não apenas um produto gráfico, mas um “produto editorial”.

Assim também ocorre com a “indústria automobilística”, por exemplo, que se vale da criação de protótipo na prancheta, depois em modelo sólido, sendo em seguida levado, peça por peça às diversas fábricas da indústria mecânica para a fabricação de todas elas, posteriormente reunidas numa linha de produção da montadora de automóveis, empresa esta que também promove e vende os veículos resultantes de todo o processo.
Assim como a indústria editorial precisa da indústria gráfica, a indústria automobilística precisa da indústria mecânica.
Dizer que não existe a indústria editorial é o mesmo que dizer não existir a indústria automobilística. Teríamos assim apenas a indústria gráfica e a indústria mecânica, nesses casos.

Podemos ir adiante, trazendo para o nosso caldeirão alquímico, cada um dos departa-mentos de engenho e arte, cada uma das outras engenharias, como aquela que se dedica à construção de edifícios, isto é, dos imóveis que agregam elementos construtivos a um terreno com perícia para criar uma estrutura.
Evidentemente, estamos tratando da “in-dústria imobiliária”, que, como a automobilística, parte de um processo de criação, um protótipo (maquete), um projeto multidisciplinar (arquitetônico, estrutural, elétrico, hidráulico, mecânico, etc), operações financeiras, obras de terra, de estrutura, de instalações e de acabamento; tudo isso sendo concluído, igualmente, com ações de promoção e venda.
Costuma-se dar ao conjunto dessas atividades o nome de “indústria da construção”, o que me parece inadequado porque construção é indústria. Vejamos o que diz o dicionário do Aurélio:

Construção – Ato, efeito, modo ou arte de construir / dar estrutura.
Indústria – Destreza ou arte na execução de um trabalho manual/ aptidão / perícia.


Assim, para evitar uma expressão de caráter redundante, é melhor escrever e falar “indústria imobiliária”, quando se trata de construir edifícios.
Já passando o tempo em que o dono de um terreno resolvia fazer um prédio com três, seis ou dez apartamentos para venda, simplesmente entregando uma chave a cada comprador, ao fim da obra, temos agora as grandes empresas que estocam terrenos, contratam projetos e os mais diversos serviços de construção, depois de longo processo para a aprovação do projeto na Prefeitura e a incorporação que dá ao prédio uma convenção e um condomínio, só então partindo para a promoção e venda de cada unidade (apartamento ou sala) e o início das obras, com cronograma estabelecido.
Esse processo assim rigorosamente industrial deve ser reconhecido como tal, sendo a construção de edifícios a atividade industrial que hoje mais precisa de mão de obra individual, com perícia cada vez maior.
Tudo o que promove a estruturação de um conjunto a partir de um projeto e ações agregadoras, de modo a oferecer um produto físico completo, pronto para uso ou consumo, é, portanto, uma indústria. Seja esse produto um livro, um automóvel ou edifício, do mesmo modo que um televisor, um armário, um lápis, um biscoito, etc...etc...etc...

Nesse sentido, permita-se que eu volte aos meus tempos de colunista do Jornal da Bahia, assinando o “Consultório Imobiliário” e cadernos especiais dedicados aos imóveis; para propor agora uma revolução na indústria imobiliária, tão grande como aquela que foi feita com o advento do elevador elétrico.
Este mecanismo permitiu o aproveitamento do concreto armado – que venha também o aço – para elevar os edifícios a dezenas de pavimentos, centenas até.
Acontece que esses novos prédios estão apenas crescendo, mas ainda não se ajustaram à revolução tecnológica dos aparelhos eletro-eletrônicos de última geração, isto é, dos aparelhos que tornam nossas vidas mais alegres, racionais, seguras e confortáveis.
Já não basta projetar e construir paredes, pisos e tetos, que se reveste e pavimenta a critério dos decoradores.
Aos projetos arquitetônico, estrutural e de instalações, já se exige acrescentar o funcional inteligente, com o uso do computador para organizar o tempo das pessoas e o funcionamento dos diversos aparelhos domésticos, sem as improvisações costumeiras e necessárias nos apartamentos que hoje se constrói.

Por outro lado, para que a revolução seja completa, há que se pensar em um novo conceito de habitação e trabalho. Com os engarrafamentos caóticos, no trânsito de automóveis, o sonho de todos é sair da cama para uma cozinha que seja sala de jantar, saindo daí para o escritório, no mesmo prédio, mas não dentro do apartamento, ao qual se deve dar privacidade crescente, não só social como familiar.

Na medida que evolui, o homem é mais intelectual e consequentemente, mais individual, com direito ao isolamento eventual.

Os bons arquitetos já estão ligados nisso.
Que venham, portanto, os edifícios mistos, dos quais só seja necessário sair para as compras e o lazer social, aquele que se faz em público ou com os amigos.
O desafio maior é usar a inteligência de modo a não onerar o custo final da unidade habitacional, que ganha em qualidade mas não precisa aumentar em área, sendo a sofisticação opcional.

Adinoel Motta Maia


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terça-feira, 27 de março de 2012

DO INFINITÉSIMO AO INFINITO

Fundamentos para a estrutura da consciência,
e o transporte em velocidades superluzenses


Desde que optei por publicar meus trabalhos científicos originais na Internet, tenho ouvido dizer que não é, este, um meio válido para a divulgação da pesquisa e das des-cobertas sérias. Talvez ainda não o seja, mas o será num dia próximo e aí, digamos, serei um dos precursores ou pioneiros.
Houve época em que os textos sérios da Ciência eram manuscritos. Depois, passaram aos livros impressos e finalmente chegaram às revistas ditas indexadas, que exigem, por exemplo, títulos de mestrado ou doutorado a seus autores. Ora, eu optei por não fazer curso de pós-graduação, porque ainda estudante universitário, já descobria coisas que não havia quem as conhecesse e portanto, quisesse e pudesse julgar meus trabalhos.

Como ocorre agora.

Assim como o livro impresso permitiu publicar com mais rapidez do que com os ma-nuscritos, a revista foi e é mais ágil que os livros e doravante a Internet é instantânea e leva o texto diretamente do autor para o leitor, no exato momento da sua concepção e até da descoberta do que está nele contido, com a devida data de registro para efeito de prioridade e direitos autorais.
Estou introduzindo a Psíquica como nova disciplina científica, para estudar os campos onde se manifestam as velocidades superluzenses, que se costuma dizer impossíveis, porque partem de vícios do pensamento orientado apenas para a realidade física, na qual foi colocada até a Psicologia.
Ora, esta se encontra perante a Psíquica, como a Fisiologia se encontra perante a Física. Não é só no homem (e em outros animais com cérebro) que há consciência.



Hoje, vamos abordar aqui, com a maior simplicidade possível, para que seja maior o número de beneficiados, a questão da duração da consciência (o tempo), já trabalhada em outros textos neste blog.
Tem havido uma tendência a ainda considerar como propriedades do “infinitésimo”, que a soma e o produto de dois infinitésimos ou de uma constante por um infinitésimo, sejam iguais a um infinitésimo. Isso só poderia ocorrer se o infinitésimo fosse igual a zero, valor ao qual poderia chegar em seu limite, quando tendendo para zero. Hoje já não se admite isso [ver análise não-standard de Abraham Robinson (1918-1974)].
Mesmo sob a perspectiva de que tende sempre para zero, nunca chega a seu limite, pelo simples fato de que não há um limite para a dimensão linear no espaço, porque este não tem fim, seja no sentido macro, seja no sentido micro, para o extremamente grande ou para o extremamente pequeno.
Desde os gregos, concebe-se pacificamente o “infinitésimo” como a quantidade variável que tende para zero, nunca chegando a este. Trabalharam com esta ideia, dois gênios contemporâneos entre si (séculos XVII e XVIII): Newton e Leibnitz. Com a teoria dos limites, tornaram-no inútil, não por inexistir, mas por ser dispensável. Agora, moderna-mente, decide-se que é indispensável. Ainda estão certos os gregos, portanto, que disse-ram ser o comprimento A infinitesimal, quando, comparado a B e multiplicado por qualquer número, por maior que seja, tenha o resultado desse produto um número sempre menor que B.
Não iremos mais perder tempo com isso.
É necessário deixar claro, também de uma vez por todas, que o infinitésimo não é apenas o infinitamente pequeno, mas também o indefinidamente pequeno, porque esse número é indefinido, é desconhecido, e inimaginável, mas é compreensível, quando dizemos que um infinitésimo é a distância que separa dois pontos tão próximos um do outro, que, se estivessem mais próximos seriam um só ponto.

Vejamos a sucessão de pontos abaixo:
...........................................................................................

Esses pontos têm apenas posição, sem qualquer dimensão que marque sua existência.
Os espaços entre eles têm uma dimensão.
É uma distância única.
Pode ser muito grande ou muito pequena.
Tão pequena que, tendendo para zero, chegará a um valor que, se o tornarmos menor, todos os pontos serão um só, porque não haverá mais distância entre eles.
Esse valor é o que chamamos de infinitésimo.
Tal valor não pode ser definido, porque, por menor que seja, sempre existirá e poderá haver um valor ainda menor, muito menor, indefinido, portanto.
Essa distância entre os pontos acima pode também ser somada, tendendo para o infinito, chegando a um valor que será o dessa soma de um número infinito de todos os
infinitésimos, à qual chamamos infinito, também um valor indefinido.
A esse conjunto dimensional universal e ilimitado, chamamos matematicamente Espaço e fisicamente, Espaço Cósmico. Não devemos chamar de espaço-tempo, pelo mesmo motivo que não dizemos espaço-comprimento, espaço-largura ou espaço-altura.
Como já vimos aqui, não há espaço sem o tempo (duração da consciência), porque isso significaria não se ter a consciência do espaço, isto é, quando a duração dela fosse zero.
Dir-se-á que estamos fora da realidade e que esses números infinitésimo e infinito são irreais.
É verdade, porque não estão no campo da Física, que é o da Realidade, com suas velo-cidades entre a nula e a da luz (300 mil quilômetros por segundo).
Estão no campo da Psíquica, que é o da Atualidade, com velocidades entre a da luz e a infinita.
Quando a velocidade é menor ou igual à da luz, nós podemos acompanhar o movimento dos corpos, das partículas e das ondas. Aí, a duração da consciência – o tempo – é muito grande, nos permite observar os fenômenos e para isso precisamos da luz.
Por isso, a realidade física começa com o Fiat Lux, a explosão de luz que inundou o espaço. Pode-se chamar essa explosão de Big Bang,quando as estruturas de consciência criaram tudo o que tem velocidade inferior à da luz, isto é, a Realidade Física.
Quando a velocidade é maior do que a da luz, a duração da consciência é muito pequena e suas estruturas são mais simples, tão simples que não se tem o que ver ou ouvir, pois só há pensamento, isto é, informação em estruturas de consciência e o que se transporta, nesse campo, são informações, dados, pensamentos. Se o tempo (duração da consciência) é zero, por exemplo, essa velocidade é infinita, isto é, está-se em todos os lugares no mesmo instante.
Já vimos aqui, que a equação básica da cinemática – [e = vt ] – comprova isso.
No campo da Psíquica, os corpos, os objetos, as partículas poderão ser transformados em informação e levados a velocidades muitas vezes a da luz, inclusive infinita, sendo assim transportados para qualquer lugar do Universo, instantaneamente.
A Psíquica, portanto, não permite a estabilidade necessária à vida, na realidade da matéria e da energia, mas o seu conhecimento e o seu domínio permite, entre outras coisas, o transporte rápido entre muitas realidades, em muitos universos como o nosso.
Com o chamado teletransporte – já explorado pela ficção científica – não se transporta ondas, partículas ou corpos, mas a informação (consciência) contida neles.

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PARA SABER MAIS SOBRE A PSÍQUICA ENTRE TAMBÉM NO BLOG

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e leia os romances da trilogia Nortada:

A Cruz dos Mares do Mundo (já nas livrarias)
A Noite dos Livros do Mundo (publicação em julho)
A Trilha dos Santos do Mundo (publicação em dezembro)