sexta-feira, 5 de outubro de 2012

OS PASTORES E SUAS OVELHAS

Crônica

Houve uma gestão municipal que terminou com uma unanimidade. Toda a população a acusava de ter colocado Salvador como a cidade mais suja do Brasil. Agora, a nossa cidade é vista por todos como a cidade mais escura do país, à noite. Temos avenidas na escuridão total, como se fosse uma rodovia interurbana no meio do mato. Na grande maioria das ruas, no entanto, o que se vê são lâmpadas acesas, mas sem capacidade de iluminação necessária e compatível com o nosso nível de tecnologia e civilização. O oposto do que acabo de ver em João Pessoa e do que vi no início do ano em Aracaju. Já não falo de Lisboa, Barcelona, Madrid, Sevilha, entre tantas outras por onde passei também neste ano, porque tem gente que ainda acha não se dever comparar o nosso potencial civilizatório com o dos europeus, por exemplo. Como se estivéssemos condenados a nos manter nos mais baixos níveis de educação, de saúde, de qualidade de vida e de comportamento social.

Quem não sabe das coisas, ignora-as, é ignorante e quer continuar assim. Parece estar escrito em sua testa: NÃO QUERO SABER DE NADA! NÃO ME INCOMODE! Quando perde o emprego ou fica doente, vai chorar no pé do caboclo! Nunca põe a culpa em si mesmo, em sua ignorância. Quem não sabe das coisas, vive acreditando no que ouve no rádio ou vê na televisão, ou no papo que já não é com os vizinhos, mas pelo celular. Dias atrás, uma mulher andava na rua, um pouco à nossa frente e por uns cinco minutos - íamos na mesma direção - ouví-a repetir "Ói, amiga!". "Ói", com acento agudo mesmo, querendo dizer "olhe". Hoje, há muitas pessoas que passam a maior parte do tempo penduradas no celular, apenas jogando conversa fora. Depois, queixam-se de sua pouca sorte...

A atual campanha política em vésperas de eleição municipal tem um componente ridículo, que mostra o nível do nosso eleitorado e o que cada membro dessa coletividade quer e espera dos candidatos nos quais votarão em 7 de outubro: os carros de som que circulam por nossas ruas e pedem votos aos eleitores. Há candidatos que nada propõem ou menosprezam qualquer proposta, optando por repetir uma musiquinha que martela nosso cérebro com seus nomes e seus números, numa demonstração cabal de que nada mais esperam dos seus eleitores do que eles são capazes, intelectualmente: ouvir musiquinha. Esses políticos ofendem os soteropolitnos, considerando-os incapazes de ouvir uma proposta e analisá-la. Basta colocar uma musiquinha no seu cérebro, dia e noite, todos os dias, para condicioná-los a optar pelo seu número, na urna eletrônica. Como se condiciona um animal qualquer...

Tal ofensa deveria ser o suficiente para baní-los da nossa cidade, mas isso não ocorre. São eleitos para um mandato de quatro anos como vereador. Alguém perguntou aos vereadores assim eleitos há quatro anos, o que fizeram durante todo esse tempo, que se possa mostrar, em Salvador? Alguns são famosos, populares, queridos pelo seu jeito de ser e suas propostas "sociais" que não promovem os indivíduos nem os capacitam para exigir seus direitos de contribuintes, mas os deixam como estão, na ignorância e no gosto pelas festas, longe dos estudos, das análises e da busca das causas dos seus problemas. Verdadeiras ovelhas que dependem de seus pastores.

Não é só em Salvador.  Nós sabemos que há municípios - são 5568 em todo o Brasil - incapazes de produzir recursos sequer para pagar suas despesas administraivas e que vivem da boa vontade do governador ou do governo federal.  Nestas eleições, temos 481.446 candidatos a vereador em todo o Brasil. Somente 57.422 serão eleitos. Somente! Consideram-se políticos e como tal, querem viver sustentados pelo Estado, com o dinheiro que os cidadãos que produzem pagam em forma de impostos. Temos todos de refletir sobre esses números. Não basta dizer que é o preço da democracia. Nós queremos a democracia, mas a nossa é muito cara e não dá o retorno que se espera de tal investimento. Vamos pensar nisso. Precisamos de vereadores que proponham o enxugamento das respectivas Câmaras Municipais. Menor custo para a máquina administrativa que visa mais gerar emprego público do que  levar progresso ou resolver problemas das comunidades.  Não se justifica ter município que não seja capaz de produzir para sustentar sua própria administração, pública. Já é hora de se saber quais são esses municípios e incorporá-los a outros. Quem vai fazer isso? Os políticos? Todos sabemos a resposta.
Adinoel Motta Maia


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