sexta-feira, 18 de outubro de 2013

FAVELA É VERGONHA


Crônica científica

Todos nós sabemos o que é uma favela, habitualmente formada pela invasão de terrenos baldios, públicos ou privados - estes abandonados ou tomados de assalto - por pessoas miseráveis que precisam de abrigo e o constroem de modo improvisado, com materiais disponíveis, sem qualquer cuidado estrutural e com nenhuma preocupação estética. Caprichosamente, não havendo oposição ou impedimento, nessa ação, esse abrigado vai melhorando a estrutura e o aspecto do seu chamado "barraco", que ganha alvenarias de tijolo cerâmico, teto de zinco ou cimento - telha ou laje - e esquadrias de madeira. Não raramente, sua ação é imitada e paulatinamente outros fazem junto daquele primeiro abrigo, outros casebres, sem qualquer planejamento do espaço circundante, com olhos fechados do poder público, interessado político em votos daquela gente que não deve ser contrariada, enquanto comerciantes de materiais de construção facilitam e até patrocinam a aquisição de tudo o que precisam esses construtores improvisados, não raramente financiando-os com "suaves prestações mensais".

Todos nós sabemos que o nome "favela" foi empregado com essa conotação, pela primeira vez, no Rio de Janeiro, espalhando-se por todo o Brasil, nessa prática que atesta sobretudo o abandono da coisa pública, ainda que em terreno privado, faltando o que se chamaria de "planejamento urbano", se existisse, dentro do que chamamos de "administração municipal" e ainda, se quisermos, de uma terceira entidade quase sempre ignorada, que é a "cidadania". Em outras palavras, essa omissão, tem um só nome: vergonha nacional. Mostra que não somos civilizados, porque aceitamos a prática selvagem de cada um fazer o que quer onde quer, como quer. Exatamente como procedem os animais, na floresta. Aceitamos o "animal urbano" como se isso fosse caridade. Na realidade é um "lavar as mãos", deixando o miserável ao sabor de sua ignorância e aprendendo com sua experiência, imitando o vizinho e buscando de alguma forma o dinheiro que o sustenta naquela estrutura absurda, como se fosse folclore.

Procuro hoje, uma abordagem científica - não passional, portanto - para o que já está gerando manchetes em outros países, na medida em que o Brasil vai atraindo atenção, seja porque a violência aqui está na vitrina em todo o mundo, seja porque vamos fazer uma competição mundial de futebol ou seja ainda porque a corrupção se mostra avassaladora na administração pública, em todos os níveis: municipal, estadual e federal. Evidentemente, escrevo para leitores racionais, intelectuais, capazes de encarar tudo sem os desvios da paixão, que pretende justificar a injustiça do tratamento equânime para os bandidos e suas vítimas, que dá direito às feras de comer os incautos. Como ocorre na floresta, isto é, no mundo animal, em ambiente vegetal, onde ninguém está preocupado com as causas dos fenômenos climáticos ou quaisquer outros, aceitando tudo como vontade divina.

A palavra mágica que muda tudo isso é planejamento. Houve época em que não se planejava nada no Brasil. Pouca gente sabe que o planejamento começou no mundo, entre os homens, em suas ações militares, nas batalhas que envolviam dezenas de milhares de soldados. Por isso, quando os militares assumiram o poder no Brasil, os políticos foram obrigados a fazer planejamento, a começar por se criar um Ministério do Planejamento. Hoje, tirando-se os militares do poder, temos dezenas de ministérios que planejam, mas não executam e ainda assim, falta planejamento. A maior causa de favelas no nosso país é a migração da agricultura para a indústria e consequentemente, do campo para as cidades e das pequenas para as grandes cidades, em volta das quais estão as fábricas. Os que procuram emprego nestas, não os encontrando, ficam por ali mesmo, fazendo barracos e criando favelas, que são politicamente chamadas de comunidades, com seus líderes, que levam votos para... (vamos ficar por aqui). Já temos mais partidos políticos no Brasil do que clubes de futebol no campeonato brasileiro. Enquanto isso nossas grandes cidades vão ficando maiores e as pequenas cidades do Interior vão sumindo, até que tudo vire um deserto. Somos uma só anedota, para o riso internacional, nos lugares civilizados.

Em síntese, precisamos deslocar a Capital do Estado - cada Estado - para pequenas cidades do interior, como acontece, por exemplo, nos Estados Unidos, levando para outras cidades pequenas, a população que está nas grandes cidades. Como se faz isso? Com planejamento e leis que sejam cumpridas. É preciso não confundir: o direito de ir e vir não significa o direito de ficar onde não há lugar. Não se pode entrar e ficar numa sala de cinema, quando ela já está lotada. Por que se pode entrar e ficar numa cidade, quando ela já está lotada? Porque não se faz ciência, não se faz estatística ou se faz apenas para publicar em jornal. A política não deve ser conduzida com paixão partidária. Não se governa um país como se faz um campeonato de futebol. Os políticos não apoiam a ciência porque não a querem. Querem a bagunça. Querem o caos. Como os micróbios, é nele que sobrevivem...

Adinoel Motta Maia