quinta-feira, 22 de abril de 2010

ONDE E QUANDO 07

A data de hoje me impele a abordar corajosamente um tema explosivo, do qual se tem fugido, ou melhor, ao qual se tem evitado, porque é mais cômodo deixar que a chuva destrua o que se constrói, do que construir um teto e um sistema de drenagem para as águas livres.
A data é a do Descobrimento do Brasil, porque é a da chegada de Pedro Álvares Cabral em Porto Seguro, na Bahia (22 de abril de 1500). Primeiros homens civilizados a tocar no solo selvagem, com gente selvagem, com referenciais apenas na mãe Natureza, provedora de todas as necessidades e castigos.
Há quem pretenda e consiga desviar o principal da questão, mudando o seu foco para uma discussão estéril sobre o nome (descobrimento ou achamento), ou outra, sobre os benefícios da adaptação ao natural contra os malefícios da civilização, como se os índios de hoje não fizessem uso de algumas conquistas da tecnologia e da ciência, desde medicamentos até aparelhos e máquinas de uso pessoal.

O fato é que este país era ocupado em 1500 por pessoas que viviam em guerras permanentes (entre as tribos e aldeias), comiam-se uns aos outros (não importam os motivos), viviam com o único objetivo de sobreviver, exatamente como os animais e usavam o cérebro para a memória e o processamento de dados relativos ao ambiente, ao clima e às relações com outras pessoas, amigas ou não.
Sua filosofia restringia-se à busca do conhecimento proporcionado pelos fenômenos naturais em sua ação criadora (a fertilidade humana e animal era um mistério insolúvel) ou punitiva, compensando sua ignorância com imagens e idéias fantásticas, mas experimentando sua racionalidade para formar um catálogo de resultados que dava poder aos pagés, sempre muito ágeis ao fazer um teatro para apresentar suas receitas mágicas.
Tinham arte, mas não tinham escrita. Para que a teriam? A escrita só surgiu com a necessidade do homem em transmitir conhecimento ou fazer memória. É o primeiro sinal da civilização. A língua dos índios (tupi) só foi escrita com a chegada do europeu aqui.

Nesse cenário primitivo e selvagem, em 1500, neste território onde hoje pisamos, surgiram homens em suas naus, com velas, cobertos por roupas, com armas de fogo e outros objetos “mágicos”.
Não eram deuses. Eram civilizados. Invadiram e tomaram, sim, mas os índios também invadiam e tomavam. Aldeias indígenas eram destroçadas por outros índios, que matavam e tomavam. Selvagem ou civilizado, o homem é o mesmo, como pessoa. Com tecnologia, evidentemente, tem mais poder.

Por que se condena tanto, então, a chegada e a presença danosa do civilizado? Onde e quando isso aconteceu, deve-se apenas à ação religiosa, ao fanatismo cristão, que não aceitava o pagão. A ordem de Roma era destruir e matar, se necessário, para impor o cristianismo, punindo os infiéis. Outras religiões fizeram e ainda fazem o mesmo.
No Brasil, os jesuítas, no entanto, tiveram uma ação quase apenas de educação e catequese, tal o primitivismo aqui encontrado. Muitos falam de escravidão, mas esta também aconteceu na Grécia, em Roma, em todos os lugares, com gente de todas as raças. Quem ignora que os brancos também foram escravos? Só não vivem dizendo isso.

O dia 22 de abril deveria ser comemorado, sim, em todas as escolas, para que tudo fosse discutido e não falassem apenas os políticos comprometidos com ideologias que identificam os europeus com o capitalismo. O erro se transmite. Os ignorantes assim permanecem. Não aprendem nunca. Não são estudiosos. São agentes.

Tire-se as máscaras e diga-se o que se pretende sem tapar o Sol com uma peneira.
Com coragem e humildade.