quarta-feira, 21 de abril de 2010

LETRA E MÚSICA 07

Minha primeira visita à Feira do Livro de Frankfurt foi feita como turista. Morando dois meses em Freiburg, um pouco mais ao Sul, gozando bolsa de estudo do alemão, dada pelo Goethe Institut, aproveitei um fim de semana para estar ali justamente nos dias abertos ao público, daquele evento, em 1990.
Não poderia imaginar, então, que quatro anos depois voltaria lá, mais uma vez convidado pelos alemães, para cumprir um roteiro pelo país, que terminaria exatamente naquela feira, sendo o Brasil o “País Homenageado”.
Tudo precisamente cronometrado, até uma entrevista com o Diretor da Feira, em rigorosos dez minutos, nos foi oferecido para que tivéssemos, os cinco escritores brasileiros que formavam o grupo, uma visão real daquilo que se pode chamar de “o modo de ser, viver e fazer do povo alemão”.

Hoje, o novo Diretor da Feira de Frankfurt, Juergen Boos, acena com a possibilidade de já nos próximos dias estar anunciando que o Brasil voltará a ser homenageado no evento, em 2013.
Isso significa que teríamos um espaço entre os pavilhões da Feira para montar uma exposição não só de livros, mas de tudo o que é o nosso País, mostrando-se evidentemente que somos “Um País que Lê” (está aí um bom “slogan”).
Mais que apenas tal exposição, contudo, nessa ocasião, os organizadores espalham eventos paralelos por toda a cidade, em áreas privadas, o que nos permitiria oferecer amostras da nossa Cultura para exportação.

Se os políticos de plantão não quiserem aproveitar essa oportunidade para convidar os povos a vir no ano seguinte para a Copa do Mundo – isso seria ridículo – poderíamos mostrar exatamente o contrário, que não somos apenas o País do Futebol e que o nosso povo tem mais do que os pés, usando a cabeça para outras funções, além daquela de chocar-se com uma bola.

Naquela “Buchmesse” de 1994, deve ser lembrado, o resultado mais duradouro da presença brasileira como homenageado foi a introdução da caipirinha no cardápio dos bares alemães (e não só alemães), graças à divulgação da receita (com gustação) no estande da editora Melhoramentos, que levou e distribuiu fartamente um livreto com todas as instruções.

Perdeu-se, então, uma grande oportunidade de transformar nosso tímido e medíocre método de vender livros num agressivo procedimento de comércio exterior para exportar obras literárias e direitos autorais.
Enquanto até países asiáticos estão jogando “bestsellers” no mundo ocidental, nós continuamos fiéis às nossas raízes, concentrando baterias em autores cujas obras já estão em domínio público e cujo sucesso é apenas nacional, devido mais às adoções escolares (compra e leitura obrigatórias) do que ao gosto popular.

Voltem na próxima quarta-feira.