quarta-feira, 7 de abril de 2010

LETRA E MÚSICA 05

Em seqüência ao que foi dito aqui (LETRA E MÚSICA 04), na quarta-feira passada, sobre a leitura, há ainda a considerar a tendência do crítico de arte literária em “achar” que leitura é só literatura enquanto arte. Adoram o verbo “fruir” para suas referências ao gozo e ao desfrute do texto metafórico.

Parte da Diretoria do Gabinete Português de Leitura da Bahia esteve ontem reunida para tratar de alterações na revista “Quinto Império”. Diretorias anteriores, por anos, por décadas, contrariando o próprio estatuto da entidade, confundiram “Leitura” com “Literatura”, justamente porque essa associação automática e exclusiva tem sido feita pela crítica literária. Assim, seguindo a proposta de que o “Dia de Portugal” é o “Dia de Camões” (10 de Junho), o GPL baiano (há também um no Rio e outro em Recife) tem um Centro de Estudos Portugueses dedicado à Literatura e uma Casa Fernando Pessoa, que já tem seu objetivo no nome.
A nova diretoria da entidade, no entanto, está rompendo com esse vício e obedecendo o estatuto que respeita a vontade dos fundadores em 1863. Começa com alterações na sua revista, que não mais publicará apenas ensaios sobre Literatura, peças de ficção e de poesia. Aos poucos, deverá inserir também os textos científicos, filosóficos e até tecnológicos, nos quais brilham muitos filhos dos países lusófonos. A lingua portuguesa é veículo para a arte, a filosofia, a ciência e a tecnologia e como tal deve ser cultivada.
A revista “Quinto Império”, assim, será uma nova revista, com novo formato, com a nova proposta da antiga entidade de se abrir para todas as manifestações da intectualidade, com visão esférica do universo. Com isso, insere uma provocação no acomodado (fossilizado?) sentimento de que só tem valor o que é escrito com arte, numa prática incansável de ver apenas “linguagem” na “língua”, que é também meio de comunicação e não apenas de expressão.

Essa ausência premeditada da lingua portuguesa tem dado à língua inglesa, à alemã, à francesa e muitas outras, o papel de comunicar descobertas e propostas, além de todo o conteúdo necessário aos povos. Nessa recusa, é responsável por não se conhecer no mundo inteiro, muito do que se produz nos países lusófonos, de conhecimento novo.
Ninguém precisa estudar “português”, para receber qualquer conteúdo em primeira mão.
As letras lusófonas estão especializadas em exportar metáforas. O conhecimento é quase todo passado em outros idiomas, tendo-se o “inglês” como o universal. A nós todos, do “português”, resta importar e traduzir para uso interno.

Voltem na próxima quarta-feira.