quinta-feira, 15 de abril de 2010

ONDE E QUANDO 06

Abrindo o seminário “A Urbanização de Salvador em Três Tempos”, no Instituto Geográfico e Histórico da Bahia, dois dias atrás, a Profa. Maria Hilda Baqueiro Paraiso, do Departamento de História da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da UFBa fez uma palestra sobre “Os Índios na Conformação Urbana de Salvador”.
Com a seriedade que caracteriza seus trabalhos de pesquisa, ousou (como deve ser) colocar alguns pontos nos is, mostrando, por exemplo, que o “sobrenome” Paraguaçu, da índia Catarina (do Brasil), do século XVI, nunca existiu de fato, sendo apenas uma invenção poética do século XVIII, acrescentando que não se tem conhecimento do nome do seu pai, ao qual se costuma atribuir o de Taparica.
Isto certamente desagrada historiadores de plantão e horas vagas e explica por que, sempre que sou informado e posso, compareço aos lugares onde ela fala ou aos textos que ela escreve.
Conheço-a desde os tempos em que contribuiu com a sua qualidade para dar visibilidade à Associação de Arqueologia e Pré-História da Bahia, nos anos 1970/80. Quem a vê, hoje, contudo, não diz que tanto tempo já se passou.

Ao fim do seu pronunciamento, sentou-se para responder perguntas e estas choveram, de um auditório (o salão nobre do IGHB) lotado. Uma destas referiu-se aos materiais utilizados nas primeiras casas de Salvador, quando uma arquiteta afirmou serem estas feitas de barro, porque havia pouca pedra na cidade, tirada, esta, da montanha, referindo-se à falha onde hoje está a Ladeira da Montanha.
Aí, então, a Profa. Maria Hilda, humildemente, questionou o fato dessa “montanha” não ter nome, perguntando se alguém o conhecia. Isso me obrigou a levantar o braço e colaborar com aquele importante debate, dentro do meu conhecimento como engenheiro e ex-aluno do já falecido professor de geologia Walmor Barreto, que nos ensinou ser a referida falha resultante de um abatimento do terreno ondulado que existia onde hoje é a Baia de Todos os Santos (já me referi a isto, neste blog).

Apresentei, então, como conclusão lógica, à luz da geologia e da geografia, que, não havendo originalmente nenhuma montanha na região, também nenhuma foi criada, não se devendo considerar a meia centena de metros de desnível entre as partes alta e baixa desta cidade como encosta de montanha. O nome da ladeira, portanto, é impróprio, porque leva o intelectual atento a fazer o questionamento pronunciado pela referida estudiosa e pesquisadora, assim provocada a responder uma pergunta que ninguém tinha feito, mas precisava ser feita.

Já tradicional, não deve esse nome, portanto, ser mudado, mas mantido como monumento ao costume de dar nomes impróprios aos logradouros, com base apenas em aparências não raramente enganosas e em atos políticos enganadores, que nomeiam ruas, escolas, hospitais e tudo o que é público, assim como prédios de condomínio, apenas para imortalizar amigos e parentes ou a si próprios, servindo tão somente à Vaidade.

Onde e quando se começará a ouvir os estudiosos, os filósofos e os artistas nesse mister?