quarta-feira, 19 de maio de 2010

LETRA E MÚSICA 11

Alguém tem idéia de quantas pessoas, neste imenso país, compram telas, tintas e pincéis, aventurando-se em técnicas aprendidas ou inventadas e pintando quadros que são devidamente emoldurados?
Quadros que são apenas dados aos filhos, parentes e amigos ou acabam em alguma exposição, na vitrina de uma loja, numa escola ou centro cultural ou, com mais felicidade, numa galeria de arte.
Quantas dessas pessoas podem ser chamadas de “artista plástico”?
Pergunta conseqüente: amador ou profissional?
Todas as pessoas são artistas em potencial. Não só na pintura ou na escultura, como no desenho, na fotografia, na música, na literatura...
Quem compõe é “compositor”, quem escreve é “escritor”.
Já tentaram sindicalizar o artista e não faltou quem criticasse o “escritor de carteirinha”, sem maior consideração pelo público, que já consagrou a forma de dar “diploma” a esse profissional: o sucesso.

Quem é escritor? Aquela pessoa cujos livros são publicados com direitos autorais contratados por alguma editora que os vende bem, em grandes quantidades.
Sem o público que o lê, ninguém é escritor.
Sem o público que ouve suas músicas, ninguém é compositor.
Vá, no entanto, dizer a um mero escrevedor, que ele não é escritor.

Certa vez, vi numa casa, um quadro muito bonito, muito bem pintado, parecia uma fotografia.
Quem o pintou?
O dono da casa não sabia.
A assinatura era ilegível, ele o comprara numa loja de molduras.
O pintor era cliente da loja.
É isto o que chamamos CULTURA. Cabe ao Estado estimulá-la, educando e criando condições de desenvolvimento das manifestações da mente, abrigando os AMADORES e os estimulando com concursos para escolha de trabalhos a serem expostos, publicados e até guardados, a depender do mérito de cada obra.

Assim, se descobre talentos para que se profissionalizem.

Aí, no entanto, acaba a obrigação do Estado.
Promover o profissional no Exterior, para que artistas brasileiros ganhem mercado lá fora, é salutar, do mesmo modo como se promove em feiras, produtos industriais e comerciais, visando a exportação.
Não cabe, contudo, ao Estado promover o profissional na sua cidade, onde mora.
Não porque ele não o mereça, mas porque os recursos devem ser dirigidos para a revelação de outros profissionais e aquele já revelado está capacitado a buscar e ampliar seu mercado, com o patrocínio da iniciativa privada.

É importante cumprir esse processo, sob pena de se fazer “chover no molhado”, isto é, manter um certo grupo cultural – sempre os mesmos – como se mantém grupos políticos no poder – sempre os mesmos – sem chance para mais ninguém.

Não basta pensar nisso. É necessário fazer acontecer.