quarta-feira, 12 de maio de 2010

LETRA E MÚSICA 10

Seria engraçado, se não fosse triste e preocupante, saber que alguém raspou o texto de um livro qualquer para aproveitar o papel e escrever nele outro texto, seu.
Imaginem, agora, se esse livro fosse um manuscrito único, um texto filosófico ou científico da Antiguidade Clássica.
Pois isso é verdadeiro e os livros assim reaproveitados são chamados de “palimpsestos”.
Apagava-se obras originais sobre novos conhecimentos, escrevendo-se nos pergaminhos assim recuperados orações, procedimentos litúrgicos, coisas da religião.
Um exemplo disso foi um conjunto de sete textos de Arquimedes (dois séculos antes de Cristo), escritos em 170 páginas de fino couro de carneiro. Todas apagadas. Perdidas.

Não tenho dúvida de que muita gente ainda hoje ache boa essa prática de substituir conhecimento por religião.
Ainda existe quem acredite ser o conhecimento coisa do diabo. Afinal, está na Bíblia que Lúcifer levou Eva a tirar o fruto da árvore da ciência e comê-lo, com Adão, constituindo-se, isso, no pecado original.
Quem escreveu isso sequer se preocupou em dar outro nome ao diabo, acusando-o de ter, fazer ou trazer a luz (este é o significado do nome Lúcifer), dessa forma dizendo que Deus prefere os homens cegos, ignorantes, sendo PROIBÍDO (“pecado” significa “o que é proibido”) receber a luz, isto é, saber das coisas, saber o que se é e para onde se vai, ou deve ir.

É evidente que o Deus Único, Senhor do Universo, Consciência Universal, não autorizou homem algum a falar em Seu nome para propagar a ignorância. Para isso, bastaria não permitir a evolução do cérebro.

Não foi por outro motivo, contudo, que os cristãos levados para Roma por Paulo de Tarso e a Igreja que nasceu desse movimento romano, tenha combatido, matado (sobretudo na fogueira), os “hereges” gnósticos oriundos dos apóstolos que optaram por chamar Jesus de Nazareno e não de Cristo, mantendo-se em Jerusalém e saindo para o Egito (Alexandria), de onde se espalharam pelo norte da África, atravessando o Mar Mediterrêno em Gilbratar e penetrando na Europa pela província romana da Hispânia, na região hoje Portugal e Galícia.

A independência de muitos professores e pesquisadores universitários, em todo o mundo, está trazendo “à luz” uma série de livros, às vezes combatidos, outras vezes ignorados, não raramente considerados especulativos, que contrariam a proposta de que só através dos sacerdotes e pastores se pode chegar a Deus.
As editoras brasileiras, finalmente, estão vencendo a auto-censura e traduzindo obras que há décadas povoam as livrarias da Europa e dos Estados Unidos, agora também disponíveis nos balcões das nossas lojas de livros.

Além da luz, temos de pedir ao Senhor, diariamente, coragem para refleti-la e humildade para fazê-lo sem ofender, sem agredir, sem prejudicar seja o que for ou a quem.
Sim, diretamente ao Senhor, sem intermediários, porque Ele não tem culpa dos que falam e agem impropriamente em Seu nome.

Isto, contudo, é um outro assunto. Aqui, às quartas feiras, falamos de livros e outros meios de comunicação.