sexta-feira, 21 de maio de 2010

AVES E NAVES 11

O texto da petição encaminhada por Bartholomeu Lourenço ao rei D. João V (ver AVES E NAVES 10) merece exame, nos seus termos, para compreensão de ocorrências posteriores.
Diz ele que descobriu “um instrumento para andar pelo ar, da mesma sorte do que pela terra e pelo mar e com muito mais brevidade”.
Esta frase não corresponde ao “instrumento” apresentado em demonstração pública, por Bartholomeu, naquele ano de 1709. Era um pequeno aparelho voador, sem serventia em terra ou na água.
Ele não disse “sobre a terra” nem “sobre o mar”, indicando um sobrevôo.
Foi claro no andar “pela terra” e “pelo mar”.
Seria um anfíbio, que também voaria.
Por que o teria dito, dessa forma?
Parece-me claro, que, descobrindo ele o modo de fazer subir no ar uma esfera, enchendo-a com ar quente, poderia fazê-la suspender uma “barca” que anda no mar ou um “carro” que anda na terra.
Evidentemente, como a resistência do ar ao deslocamento de um objeto, é menor do que o oferecido pela água ou pelo solo, seria esse aparelho aéreo muito mais veloz.

Está explicado?
O raciocínio, sim.
A origem dele, ainda não. Vamos, portanto, a esta.
Quem fez esse raciocínio, pela primeira vez, foi o padre jesuíta italiano Francesco Lana Terzi, que publicou um livro em 1670 com suas idéias para vários inventos, inclusive uma nave voadora, que seria uma barca, com seu aparelho vélico completo, pronta para navegar na água, mas podendo ser suspensa por esferas nas quais se faria o vácuo.
Essa proposta se comprovou irrealizável porque a pressão atmosférica amassaria cada esfera, se feita de pano ou papel e por outro lado, ela não se elevaria se fosse feita de material resistente a essa pressão, tal seria o seu peso, maior do que o do ar retirado do seu interior.

Parece-me claro, que, estudando num seminário jesuíta, essa proposta chegou a Bartholomeu e tão logo este descobriu o poder do ar quente, deve ter concluído ser esta a solução para a “barca” voadora do italiano.
Assim, nada mais natural do que pedir ao rei o registro e privilégio do invento, bastando para comprová-lo, apresentar os desenhos de Francesco Lana Terzi e fazer a demonstração do vôo da sua esfera.

SUBINDO A ESFERA, SUBIRIA A BARCA, COM UMA, DUAS OU MAIS DELAS.

Pode-se desse modo explicar ter ele pedido o privilégio de explorar um invento constituído por “instrumento” para andar no ar (do mesmo feitio dos que andam) pelo mar ou pela terra.

Na próxima sexta-feira este blog continuará a análise da petição de Bartholomeu Lourenço.