terça-feira, 18 de maio de 2010

ACHADOS E PERDIDOS 11

Estamos cercados pelas estatísticas. A mídia não vive mais sem elas.
Uma de suas formas mais polêmicas é a das pesquisas eleitorais, feitas por institutos, empresas especializadas e pelos próprios órgãos de imprensa.
Dessa mesma família, é a dos livros mais vendidos, com listas semanais nos principais jornais e revistas do país.

Esse tipo de pesquisa (estatística) pretende revelar preferências, mas acaba induzindo os indecisos e os ignorantes a optar pelos já preferidos por outras pessoas.
Assim, quem está na frente tende a permanecer aí até o fim, porque a quantidade dos que não são suficientemente informados para escolher por si mesmo costuma ser muito maior do que os conscientes, os informados, os estudiosos.

Há países em que se faz estatística para tudo. Dizem que os norte-americanos, sem elas, não saem de casa. Com elas, se determina os riscos de contrair uma doença, ser assaltado numa esquina ou noutra, sofrer um atropelo, ser traído no casamento, ganhar na loteria e assim por diante.
Há muitas, no entanto, ainda por fazer.
Nunca ouvi falar que já se tenha pesquisado os prejuízos oriundos da falta de cumprimento de horário, determinando-se quem não o cumpre, quantas vezes por dia, por semana ou por mês.

Esta é a proposta do blog para os pauteiros, nesta terça-feira.

Passei dois meses na Alemanha, em 1990, onde o horário é cumprido rigorosamente.
Dou um exemplo.
Fui comprar passagem de trem numa estação ferroviária, para uma viagem longa, com antecedência. Havia uma bilheteria específica para esses casos e no seu balcão, uma tabuleta FECHADO e um aviso de que o serviço seria iniciado às 14 horas. Eram 13 horas e 42 minutos. Já havia um homem a espera e eu fui o segundo. A funcionária, sentada numa mesa a datilografar, de frente para a parede e de costas para nós, sequer nos olhava. Nessa parede, um relógio redondo, dos milhares iguais que existiam em todas as estações ferroviárias do país (contei quatro deles numa única plataforma de embarque), marcava as horas, minuto a minuto. Depois de mim, chegaram outras pessoas a se posicionarem em ordem, mas sem fila. Ninguém falou coisa alguma, nem vi cara feia, nem sinal de impaciência. Eu olhava muito para o relógio. O ponteiro das horas já estava quase no 2 e eu o acompanhei até que também chegou ao outro e ambos montaram no 2. A mulher parou de bater na máquina de escrever, voltou-se para o balcão, substituiu a placa por outra – ABERTO – e atendeu ao primeiro homem.

Poderia escrever um livro inteiro com exemplos como este, em todos os setores da vida dos alemães. E não só dos alemães. Os povos mais informados e conseqüentemente mais desenvolvidos sabem que é mais fácil viver assim.

Minha proposta hoje, aqui, é que colunistas escrevam por conta própria e pauteiros programem reportagens sobre o assunto, ouvindo advogados e médicos que raramente atendem clientes e pacientes na hora marcada, emissoras de televisão que não cumprem horários de início e fim de seus programas (a Rede Globo sempre os anuncia para depois do anterior, sem dizer a hora), motoristas dos ônibus que estão sempre atrasados ou adiantados, etc... etc...

Por que não fazer uma estatística, para sabermos qual a categoria profissional que menos cumpre o horário? Talvez assim se chegue à causa do problema.

OBJETIVO: chamar cada um à sua responsabilidade e ao prazer de estar no horário, sem roubar parte, por menor que seja, da vida de ninguém.

Até a próxima terça-feira.