sexta-feira, 7 de maio de 2010

AVES E NAVES 09

Para Aurélio Buarque de Holanda, em seu dicionário, “inventar” é “ser o primeiro a ter a idéia de”, mas também, “descobrir, achar”. Quem inventa, é inventor.
O simples documento apresentado neste blog na sexta-feira passada (AVES E NAVES 08), uma certidão assinada pelo padre Alexandre de Gusmão, já é suficiente para provar ter sido, Bartholomeu Lourenço, o primeiro a ter a idéia de usar um cano para transportar vapor d’água, naturalmente se elevando até ser resfriado num anteparo, transformando-se ali em gotas, que se se acumulavam e precipitavam num tanque para posterior utilização no seminário jesuíta de Belém da Cachoeira.

Não inventou o processo, já conhecido milenarmente para a destilação de líquidos que se queria separar, mas teve a idéia, pela primeira vez, de utilizá-lo para o transporte vertical, ascendente, de um líquido.
Só isso já o faria o primeiro inventor das Américas, com patente do seu invento dado em reunião oficial da Câmara da Bahia, em 12 de dezembro de 1705, da qual se tem ata manuscrita e publicada pela Prefeitura Municipal de Salvador (ver “Documentos Históricos do Arquivo Municipal – Atas da Câmara” – 1700/1718 – 7º volume – Bahia/1984).

Não se conhece outro documento, de qualquer invento realizado nas Américas, antes desta data.

Como será aqui mostrado na próxima sexta-feira, há um outro documento, de 1709, que comprova um segundo invento, com patente (privilégio) fornecido pelo próprio Rei D. João V, de Portugal, referente à esfera de ar quente cuja ascensão seria demonstrada em Lisboa – gerando outros documentos testemunhais – em 5 de agosto daquele ano.
Também este é anterior a qualquer outro, nas Américas, confirmando ser, portanto o santista, brasileiro e português Bartholomeu Lourenço (depois acrescentando “de Gusmão”) o primeiro inventor americano (sul-americano).
Embora esta demonstração tenha sido feita na Europa, o invento realizou-se, conforme foi mostrado aqui na sexta-feira passada, em Belém da Cachoeira, na Bahia, Brasil.

Não há documento conhecido que trate dos fatos e feitos entre 1701 (quando o noviço Bartholomeu demitiu-se ou foi demitido do seminário) e 1705, ou entre este ano e 1709.
Sabe-se, por documentação conhecida, que ele esteve em Portugal em 1701, mas essa papelada não fala da esfera de ar quente, apenas enaltecendo o jovem brasileiro que criava uma certa agitação na corte e na própria cidade de Lisboa.
Ainda temos de examinar acuradamente esses papéis em busca de uma indicação segura de que já então estava inventado o aeróstato.

No ano passado, comemorou-se o tricentenário do balão de ar quente, assim inventado, mas é preciso dizer que essa data ainda é provisória porque certamente não é a do invento e sim da primeira ascensão pública após a concessão do privilégio.
Temos de procurar o momento da descoberta do efeito do ar quente a elevar uma esfera oca, ainda que esta tenha sido apenas um saco com a boca para baixo.
Qualquer dúvida, contudo, não tira o privilégio de Bartholomeu Lourenço como inventor e nem o de ser o primeiro das Américas, isto é, o primeiro americano a ter um invento patenteado e reconhecido em sua utilidade prática, por quantos testemunharam sua performance, com os necessários documentos.

Comprovada essa primazia, temos agora de divulgá-la, o mais amplamente possível, convocando os educadores a tratar do assunto em sala de aula e realizar os eventos comemorativos necessários, seja da primeira ascensão pública comprovada (5 de agosto de 1709), seja a do nascimento de Bartholomeu (nascido e batizado em dezembro de 1685).
Que se marque, portanto, para este ano de 2010, os seus 325 anos de nascimento, não só na cidade de Santos, onde nasceu, mas em todo o Brasil e até mesmo em Portugal.

Voltem na próxima sexta-feira.