sexta-feira, 14 de maio de 2010

AVES E NAVES 10

Está claro que Bartholomeu Lourenço demitiu-se ou foi demitido do seminário da Companhia de Jesus em Belém da Cachoeira, em 1701.
Também está documentado que então foi a Lisboa, onde causou rebuliço pela sua precocidade intelectual.
Não se sabe exatamente quando regressou ao Brasil, mas se tem prova, aqui já mostrada, de que recebeu o privilégio como inventor, da Câmara da Bahia, em 12 de dezembro de 1705.
Até aí, não se falava em esferas de ar quente.
Ordenado padre, em 1708, na Bahia, Bartholomeu viajou para Lisboa, matriculando-se na Universidade de Coimbra ainda nesse ano.
Aí, de repente, surgiu a notícia de suas experiências com esferas de ar quente que se elevam ao céu e imediatamente, em 1709, tem-se a notícia de que encaminhou ao Rei D. João V, uma petição nos termos abaixo:

"Senhor,
Diz o licenciado Bartholomeu Lourenço, que elle tem discuberto hum instrumento para andar pello ar, da mesma Sorte do que pella terra, e pello mar, e Com muito mais brevidade, fazendo se muitas Vezes duzentas, e mais leguas por dia nos quaes instrumentos, Se poderão levar os avvizos de mais importância aos exercitos, e as terras mais Remotas, quazi no mesmo tempo em que se resolverem, por que enteressa a Vossa Magestade muito mais do que nenhum dos outros Príncipes, pella Mayor distancia dos Seus domínios, evitandose desta Sorte, os desgovernos das Conquistas que provem em grande parte de chegar muito tarde as noticias dellas.
Além do que poderá Vossa Magestade mandar Vir o precioso dellas, muito mais brevemente e mais Seguro poderão os homens de negocio passar letras, e Cabedaes e todas as praças Citiadas poderão ser Soccorridas, tanto de Gente, como de munições, e viveres a todo o tempo e tirarem se dellas, todas as pessoas que quizerem. Sem que o inimigo o possa impedir; Discubrir Se hão as Regiões que ficarão mais vizinhas aos Pollos do Mundo.
Sendo da Nação Portugueza a gloria deste descobrimento além de infinitas Convivencias que Mostrará o tempo. E porque deste invento tão Vtil Se podem Seguir Muytas desordens commettendo se com seu uso muitos crimes e facilitandosse Muitos na confiança de Se poder passar a outro reino o que se evita estando reduzido o dito Vso a huma Só pessoa, a quem se mandem a todo o tempo as ordens que forem Convenientes, a Respeito do dito transporte, a prohibindo a todas as mais, sob graves penas e he bem se Remunere ao Supplicante um invento de tanta importancia.
Pede a Vossa Magestade Seja Servido Conceder ao Supplicante o privilegio de que pondo por obra o dito invento, nenhuma pessoa de qualquer qualidade que for possa Vzar delle em nenhum tempo neste Reyno, e Suas Conquistas, Sem licença do Supplicante ou de Seus Herdeiros Sob pena de perdimento de todos Seus bens."

Este documento é transcrito aí acima, conforme copiado pelo Cônego Freire de Carvalho na Torre do Tombo (Lisboa), referente à chancelaria d’El-Rei D. João V (ofícios e mercês, livro 3, fol. 202 v).

O Rei agilmente respondeu em 19 de abril de 1709, concedendo-lhe o privilégio pelo invento. Isto, por si só, já é suficiente para marcar sua prioridade, porque as datas estão muito claras.

O que não está claro é o objeto inventado, referido apenas como um “instrumento de andar pelo ar”, mas logo depois, em 5 de agosto, fez, o já então padre Bartholomeu Lourenço, uma demonstração do vôo desse instrumento para a Corte de Lisboa e o Núncio Apostólico, que enviou “bilhete de aviso” para o Vaticano, do qual se tem cópia documental, descrevendo o aparelho esférico, seu funcionamento e a altura do vôo, dentro do Salão das Embaixadas da Casa das Índias, o palácio real.

Assim se comprovando ser, realmente, Bartholomeu Lourenço o primeiro inventor das Américas, pode, este blog, agora, concentrar-se no invento, o primeiro momento do vôo do homem, ainda que sem o homem a bordo, por uma questão de tamanho.

Ainda hoje, na aviação, inventa-se novas aeronaves, experimentando-se em túneis do vento com modelos reduzidos. Uma coisa é o invento do aparelho. Outra coisa, o primeiro vôo do homem, nele.

Voltem na próxima sexta-feira.