quarta-feira, 26 de maio de 2010

ACHADOS E PERDIDOS 12

A CRÍTICA costuma fazer discurso contra o proselitismo na literatura e na arte, isto é, utilizar-se de um texto ou peça de ciência ou arte com fins sectários, partidários.

Rigorosamente, no entanto, o prosélito é o indivíduo que troca sua religião (ou falta dela) por outra.
É natural que procure divulgar sua nova verdade, ainda que também provisória, como a anterior.

O que para muitos parece uma traição, uma infidelidade, nada mais é do que uma mudança de (de)grau, subindo-se a escada em busca de um horizonte mais amplo.
Assim foi que se deu originalmente o nome de prosélito ao pagão que optou pelo judaísmo ou uma de suas derivações: o cristrianismo ou o islamismo.
Quanto mais informação (conhecimento)se recebe, melhor fica a própria religião ou filosofia, que, por sua vez, faz a ciência avançar com novas propostas e conseqüentes descobertas, numa dialética interminável.

Ao contrário do que se faz, portanto, ao invés da recusa, deve-se incentivar o proselitismo, porque isso nos traz a possibilidade de conhecer a escada e subir os seus degraus, em busca de mais conhecimento, de um cenário mais amplo, de um alcance maior para nossa visão.

Não se faz proselitismo para baixo.
Nenhum judeu, cristão ou muçulmano deixa sua religião para propagar o paganismo dos sacrifícios humanos ou animais.
Nenhum filósofo ou cientista que vê nos 360 graus do círculo faz proselitismo para defender um único e pequeno ângulo de qualquer seita ou partido.

Vamos continuar fazendo o jogo dos que param em um degrau e impedem todos os que estão abaixo de subir até ele, ou sair deste para o de cima?
Esta tem sido a atitude dos que combatem o proselitismo.

Vamos mantê-la ou estimular a quantos, com uma visão mais ampla, nos atraiam para sua posição superior na escada?

Queremos subir ou parar para sempre, enquanto outros pedem licença e nos ultrapassam?

Ninguém se sente traidor ou infiel, se muda de um apartamento no primeiro andar para outro no vigésimo.
Ninguém se sente traidor ou infiel, se sai da pobreza para a classe média ou a riqueza.
Ninguém se sente traidor ou infiel se deixa de ser analfabeto para usufruir da leitura de jornais e desta para a de livros de arte ou ciência e assim por diante.

O homem tem neurônios que utilizam dados (informação) de sua observação e experiência de vida para obter novos conhecimentos, novas idéias e nova arte.
Não se deve considerá-lo traidor ou infiel, por divulgar suas descobertas e propor aos demais que visitem o umbral do seu novo templo.
O velho templo continúa necessário para os que estão subindo, mas AINDA SE ENCONTRAM abaixo dele.

Nenhum degrau é destruído ou perde utilidade pelo fato natural de ser ultrapassado. Continuará servindo aos que estão abaixo e ainda sobem.
Aos senhores da verdade, portanto, temos de lembrar que esta é relativa e temporária, até que outra maior e melhor a substitúa.
A escada não tem fim e temos todas as vidas que precisarmos para subí-la.
Com calma e determinação.