quarta-feira, 24 de março de 2010

LETRA E MÚSICA 03

Este blog não pretende ser chato. Nem redondo. Pode ser enfadonho para algumas pessoas e não o ser para outras, interessadas na informação que traz ou na reflexão que propõe. Assim são todas as composições literárias e musicais.
Quando eu estudava e tocava (mediocremente) violino, muito do que executava era bastante chato para quem ouvia, mas quase nunca a culpa era do compositor. Assim é na literatura: o autor leva a fama de chato, porque o leitor lê muito mal, não conhece o real significado das palavras ou não consegue extrair delas, em frases e parágrafos, uma proposta de sentimento ou de raciocínio. Há muitos livros que são muito chatos porque não se revelam numa primeira leitura, mas depois da segunda ou da terceira, deixam-se invadir e entregam ouro e brilhante ao paciente buscador de emoções ou de sabedoria.
A explicação é que uma obra literária deve ser atravessada totalmente, porque muitas informações são reveladas ao longo delas, até as últimas páginas – não se pode colocar todo o conteúdo na primeira – e costumam ser indispensáveis para se compreender o que foi escrito no início. Conhecido, assim, o conjunto completo, começa-se a releitura com outra espectativa e se vê nas entrelinhas o que não fora percebido num primeiro contato.

Este blog provoca o seu leitor a verificar isso em boas obras, de bons autores, que promovem o pensamento filosófico em textos de ficção, dando vida a personagens da fantasia que falam com profundidade intelectual.

É natural que se comece com as histórias em quadrinhos ou os livros ditos infantís, com muitas figuras e linguagem direta, como se começa na música com as cantigas de ninar e as de roda. Na minha infância, nos anos 1940, eu lia a revista que meus pais compravam para mim: O TICO-TICO. Ainda lembro da emoção, com a qual abria suas páginas coloridas, com as histórias de Reco-Reco, Bolão e Azeitona, do Chiquinho ou da Faustina. Eram histórias em quadrinhos. Depois, meu padrinho deu-me um livro de contos dos Irmãos Grimm. Quando já andava sozinho, de bonde, comprei nas bancas as revistas VIDA INFANTIL e VIDA JUVENIL, com suas seções de correspondência, assim começando a escrever cartas, depois contos. Frequentei a seção circulante da Biblioteca Pública da Bahia (um belo prédio na Praça Municipal) e passei a devorar os livros de aventuras e romances policiais, mas comecei a comprar obras de José de Alencar e logo estava lendo C. W. Ceram (“Deuses, Túmulos e Sábios”), Myra y Lopez (“Os Quatro Gigantes da Alma”) e Arthur Schopenhauer (“Aforismos para a Sabedoria na Vida”).
Não parava de ler, colocando muita informação à disposição de meus neurônios. Clássicos e “bestsellers”, nada me escapava. Flaubert foi um guia. Escreveu ele que a paciência não é o gênio, mas pode ser o seu sinal e sempre, substituí-lo. Acreditei nisso e tenho sido muito paciente, na leitura e não só nela. Esta é a minha receita para todos.
Não só para as letras e a música. Sobretudo, para a vida.