terça-feira, 16 de março de 2010

ACHADOS E PERDIDOS 02

Como já vimos aqui, na semana passada (ACHADOS E PERDIDOS O1), uma onda de fim do mundo está entrando em todas as casas pela televisão fechada (canais History, Discovery e National Geographic, entre outros), restando poucas opções para quem já não aguenta a baixaria na mídia eletrônica aberta, oferecida diariamente às camadas mais inferiores da intelectualidade, que se alimentam de sexo, sangue e suor (3S), porque é preciso colocar em frente à telinha o povão que vai ver anúncio de lojas de eletrodomésticos, de automóveis financiados em 60 meses ou mais, de sandálias de dedo, de produtos para cabelos que voam em cabeças com pouco pensamento e de viagens aéreas com preço de passagem de ônibus, entre muitas outras peças publicitárias que sustentam essa mídia eletrônica aberta. Esta não cobra ingresso de cinema nem mensalidade de TV fechada, entrando gratuitamente em todos os lares (depois, evidentemente, que se compra o televisor e se paga a conta de energia).
Quem ainda não percebeu que o ser humano adora ver tragédias coletivas, guerras, atos de terrorismo, a morte por atacado, mas igualmente os crimes individuais de estupro, sequestro e assassinato? Há poucos dias, às 7:20 horas, uma apresentadora de notícias do “Jornal da Manhã” terminava um bloco e anunciava os comerciais, quando prometeu cenas de violência no bloco seguinte, dizendo: “Você não pode perder, uma rebelião de presos no Interior”.
Pessoas das classes C e D dispõem de programas nos canais abertos com notícias apenas de crimes e desastres. As das classes A e B pagam canais de assinatura porque não agüentam isso, mas escolhem os canais que mostram documentários sobre as tragédias bíblicas, as profecias de fim do mundo, as declarações de cientistas ameaçando os homens que promovem o aquecimento global, as epidemias possíveis ou prováveis, tudo com um tratamento mais sofisticado.
No fundo, a mídia eletrônica explora a grande atração que o homem tem pelo medo, como um sentimento atávico, herdado dos primeiros homens, aqueles que tudo ignoravam e por isso tinham extrema insegurança. Poderíamos tirar de tudo isso uma lei: quão mais ignorante é o ser humano, mais gosta de ver violência na televisão, buscando nas cavernas das vidas anteriores o medo que sentiam, mas agora sem o perigo real, seguros em suas posições na frente da TV, com a família reunida ou apenas com uma tulipa de cerveja na mão. Tais programas são verdadeiros “achados”, quando pensamos estar “perdidos” em nossa existência. Busca-se na violência de hoje os resquícios das vidas anteriores, numa memória física (genética) e psíquica (religação do seu ego eterno).
Em verdade, o fim do mundo com hora marcada é pura ficção. Nem hora, nem dia, nem mês, nem ano, nem mesmo século. Nossa pequena ciência e nossa vã filosofia sabem disso. Até a próxima terça-feira, dia de LOST em um canal fechado.