quarta-feira, 17 de março de 2010

LETRA E MÚSICA 02

Quem leu aqui LETRA E MÚSICA 01, há uma semana, questionando o suporte da criação artística ou da informação, deve ter percebido a posição do blog: o que importa é o conteúdo. Tomar o vinho em uma taça de cristal, num copo de vidro ou de metal ou diretamente da torneira do barril, é um detalhe de menor importância, se a qualidade da bebida é boa.
O leitor vai continuar lendo o que quer, seja num livro impresso, seja num iPad ou no que mais possa aparecer como suporte do texto. Embora seja um problema para os editores, nada altera para os escritores. Continuaremos fazendo nossas pesquisas, estruturando nossas narrativas, criando nossos personagens e indiretamente defendendo nossa visão do mundo, em busca dos dez por cento do preço de capa, seja esta a de um livro, seja a de um disco, seja a de uma placa eletrônica.
Não importa. A grande pergunta é: o que o leitor continuará lendo ou passará a ler?
O perigo está na oferta pela editora sem conhecer a procura pelo leitor. Ainda maior: a editora pode se tornar dispensável.
A indústria de placas eletrônicas para leitura não precisará editar o livro, nem deverá fazê-lo. É como a industria de aparelhos de rádio e televisão, sem qualquer compromisso com os programas a serem nestes sintonizados. Neste caso, a necessidade de estúdios para a produção e de poderosas antenas para a transmissão exige a existência de emissoras comercialmente estruturadas. O texto literário, no entanto, é obra individual, que pode chegar diretamente ao leitor de placa eletrônica, pela Internet.
Editor para que?
É evidente que há autores hoje, sob contrato, que permanecerão fiéis aos seus editores, mas os novos autores podem ser independentes e não se submeterem aos intermediários, porque o “livro” não será mais um objeto que se produz e distribui, precisando do editor, do distribuidor e do ponto de venda (a livraria, por exemplo).
Será um texto que poderá sair diretamente do computador do escritor para a placa eletrônica do leitor. É nesse míssil, que editores estão embarcando, sem saber onde e quando irá explodir, atingindo distribuidores e livreiros.
Ainda não viram isso?