quarta-feira, 10 de março de 2010

LETRA E MÚSICA 01

Tem gente dizendo que não nos devemos preocupar porque jamais o papel deixará de ser suporte para a leitura. O que teriam dito os antigos escritores que escreviam em linguagem cuneiforme e imprimiam em tabuinhas de argila, ou os que lavraram a pedra e pintaram paredes com seus hieróglifos, quando surgiram os papiros e pergaminhos? Algo assim: “Não nos devemos preocupar porque jamais a pedra e o barro deixarão de ser suporte para a leitura”. Quem pintava animais no interior das cavernas das montanhas jamais imaginou que um dia se pintaria montanhas na pele, no couro dos animais. Quem só batia tambor e soprava flautas feitas com tíbias humanas perdia suas composições porque não tinha onde gravá-las e tudo era uma questão de ensinar o filho a tocar, para que elas não se perdessem.
Todos nós conhecemos a evolução do suporte das letras e das músicas. Agora estamos com medo de que a gravação eletrônica acabe com os livros impressos em papel, do mesmo jeito que se temeu a gravação em disco a substituir as partituras musicais. Quem compõe textos e músicas continuará fazendo-o sempre, não importa qual seja o suporte. Este é um problema que também os editores resolverão no tempo certo, utilizando os recursos da indústria para conquistar o público apreciador de frases e acordes, assim como o consumidor de informação.
Mais revolucionário do que o suporte eletrônico – isto sim é preocupante – é o suporte nenhum, é o registro da letra e da música “no ar”, ou seja, no espaço, na consciência universal com seu arquivo infinito, bastando usar “a senha” para entrar em sintonia com a frequência de uma onda qualquer aí no espaço livre além da Terra, no Céu. Impossível? Perguntem ao Google, com sua promessa de arquivo “nas nuvens”. Tudo de graça, seja pela Graça Divina, seja pela graça em que se encontra o autor, seja pela gracinha de dar tudo sem cobrar nada. Quem viver, verá! Mas continuará vendo novas gravações em pedra, nos monumentos e nos cemitérios, por exemplo.
Continuem aqui conosco e saberão das coisas que sempre existiram mas ainda não aprendemos a vê-las. Não precisamos dizer tudo (para isso existem os jornais, as revistas, as emissoras de televisão e naturalmente os editores de livros). Basta dizermos antes dos outros descobrirem... ou permitirem!