terça-feira, 9 de março de 2010

ACHADOS E PERDIDOS 01

Terça-feira é dia de LOST, na televisão fechada. Sexta e última temporada, o que significa sexto ano em frente ao mistério de uma ilha no Pacífico, que pode sumir para o mundo mas existe para quem vive nela e por sua vez, troca de tempo, viajando para o passado e o futuro e ainda podendo viver simultâneamente em duas realidades, em espaços diferentes. Uma loucura que pessoas da melhor qualidade intelectual acompanham com ansiedade, episódio após episódio, aguardando uma explicação diferente da ficção de baixa qualidade que termina sempre com o inexplicável levando alguém a acordar (“Tudo foi um sonho!”) ou saindo de uma ilusão quântica, quando basta se comprovar que a luz pode ser corpuscular e ondulatória, simultâneamente.

O cardápio na televisão fechada oferece esse tipo de ficção científica, mas se abre também para o documentário apocalíptico. Anuncia o fim do mundo como se desse uma notícia trivial. Ainda marca a data: 21 de dezembro de 2012. O povo maia fez um calendário projetado para séculos além do sumiço de sua civilização, mas apenas até essa data. Facilmente, se diz que terminaram aí porque nada mais haveria depois disso, por ser esta data uma efeméride astronômica com o raro trânsito do planeta Venus à frente do Sol, ao nascer, apenas um grau acima do horizonte, seguido de um eclipse solar total, tudo sendo visto de uma das ilhas do Arquipélago de Juan Fernandez, a cerca de seiscentos quilômetros da costa chilena, onde acabamos de ver o segundo maior terremoto da história do planeta.

Estamos realmente perdidos, no meio de tanta ficção. Alguém já se perguntou se os maias tinham obrigação de levar seu calendário ad infinitum? Pararam num lugar certo, que se repete todos os anos: a data do solstício de inverno no hemisfério Norte e de verão, no Sul. É o momento em que a Terra faz a volta, em sua órbita em volta do Sol, terminando um ano e começando outro. É o fim do ano e não o fim do mundo. O fato de ser em 2012 pode significar terem optado por um momento importante no calendário astronômico, mas somente para quem os poderá observar, no Pacífico. Seria o caso deles próprios, se ainda estivessem lá.

Este assunto é complexo, merece abordagem científica, bastante atenção e o devido reconhecimento, numa abrangência muito maior que a dada ao calendário maia e com a certeza de que teremos tempo para tratar dele, além do ano 2012. Será o nosso assunto das terças-feiras, a noite do LOST, porque estamos todos perdidos no espaço, cuja quarta dimensão é a duração da consciência, isto é, o tempo.