sexta-feira, 16 de agosto de 2013

IGNORÂNCIA É MORTE!


Crônica científica

Na minha adolescência, fui um cinéfilo que tanto visitava as sessões matinais dominicais do Clube de Cinema da Bahia, "bebendo" os comentários do crítico Walter da Silveira, como frequentava o Cine Jandaia, o Aliança e o Pax, na Baixa dos Sapateiros, onde havia sessões triplas (dois filmes e um seriado) e via os famosos filmes de faroeste, com seus cowboys, índios, diligências, xerifes e bandos de salteadores. Neles, inevitavelmente, mostrava-se a comunicação por meio de fumaça, entre aldeias indígenas. Acendia-se uma fogueira, sobre a qual se colocava uma manta grossa de couro, aprisionando a fumaça provocada pelo depósito de alguma planta ou pó sobre as brasas. Levantava-se e abaixava-se a manta, liberando bolas de fumaça - como o "ponto" e "traço" do Código Morse - cuja combinação formava as palavras e frases da mensagem que normalmente era enviada de um cacique para outro a dezenas de quilômetros de distância. Muito antes disso, Esquilo já escrevia sobre como os gregos utilizavam fogos para se comunicar. Na evolução humana, com a invenção do alfabeto e a cultura dos sinais, surgiram as mensagens escritas, que circulavam de mão em mão. Heródoto já se referia aos mensageiros a cavalo, dos persas, que levaram essa prática para toda a Europa.  Matava-se cavalos na tentativa de fazer chegar as mensagens urgentes, sem lhes permitir o descanso. Foram os romanos, os primeiros a adotar esse descanso, não só fazendo as estradas, como implantando estações de descanso (manso posita) para os cavalos e em seguida, para não se perder tempo em esperar estes descansarem, as estações de muda de animais (mutatio posita) em todo o Império. Os cavalos passaram, então, a descansar, mas não o cavaleiro, que saltava de um cavalo para outro, num serviço eficiente para as urgências militares.

Quem poderia imaginar, então, o milagre de se escrever uma mensagem em algum lugar e alguns segundos depois ela ser lida em qualquer outro lugar do planeta? Não perderemos tempo, aqui, em narrar a evolução das máquinas de transporte e comunicação até chegarmos ao computador e à Internet. Queremos apenas, com esse assunto, mostrar o privilégio do homem atual em obter e transmitir conhecimento - qualquer conhecimento - instantaneamente, para qualquer pessoa, em qualquer lugar. Privilégio que, no entanto, a grande maioria dos seres humanos recusa por pensar que não precisa desse conhecimento. Por preguiça em recebe-lo. O que é pior: por obediência aos "pastores" que os querem como "ovelhas" em seus rebanhos e lhes dizem que a ciência deve ser afastada porque é coisa do diabo, citando a cena de Adão e Eva no Paraíso, que só é um paraíso porque ambos comem o fruto da árvore da vida e recusam o fruto da árvore da ciência. Em outras palavras: o homem só é feliz apenas vivendo, sem querer saber de coisa alguma, exatamente como vivem os animais ainda não intelectuais. Políticos ou religiosos, esses "pastores" de "ovelhas humanas" plantam a ignorância como sustentação de suas posições de poder e riqueza e fomentam uma "democracia" que decide quem deve ser votado ou não, para as funções públicas, de Estado.

Nós, outros, que optamos pela consciência, pelo conhecimento, somos minoria e não elegemos sequer um vereador, muito menos um presidente da República. Esta é a razão da falência do nosso País, que não tem recursos para a educação, a saúde e o transporte das pessoas. O balanço financeiro apresentado pelos governantes é falso porque estes não estão tendo despesas que deveriam ter e falta tudo para toda a população, que não reclama, porque não sabe nada, sequer do que precisa.  Quem ganha uns poucos reais por mês pode dizer que lhe sobra dinheiro, se não compra comida alguma. Os governos no Brasil podem apresentar suas contas e saldo financeiro positivos no fim do ano, se não gasta com o fundamental para a vida civilizada dos brasileiros, dirigindo os recursos para o bem estar apenas dos governantes. Tudo isso está aí à vista de todos, mas são poucos os que vêm, porque os ignorantes são cegos. Mantê-los fora da educação e sem saúde é mantê-los cegos e absurdamente contentes, porque podem ir à igreja, à praia e ao futebol nos domingos, vendo novelas de televisão nos outros dias, ainda com direito a festas ditas "populares", como o Carnaval e o São João, pagando-se aos trios elétricos para fazê-los pular à vontade e namorar nos intervalos para descanso.

Não sei quantas pessoas lerão esta crônica. Minha obrigação é escrevê-la e publicá-la. Alguns dirão que não precisam lê-la, porque já sabem de tudo o que está escrito nela. Acontece que não basta lê-la. Os intelectuais não conseguirão mudar esse quadro, se não tiverem consciência de que são minoria e precisarão fazer maioria, passando conhecimento para quem é ignorante, dando luz para quem está no escuro. O Brasil vive hoje um período pré-revolucionário. A mídia está chamando de arruaceiros, os jovens que estão vendo tudo e sabem que precisam quebrar coisas para chamar a atenção de todos nós para o recado que querem dar e não é outro, senão o de que não podemos ficar assistindo o circo pegar fogo. Temos de atuar. Eles estão nas ruas, chamando-nos para atuarmos na educação, transformando as ovelhas em homens, antes que se tornem lobos ferozes. Não podemos permitir que os intelectuais conscientes sejam minoria. A democracia só funciona se a maioria é educada e consciente. Se não é, o único jeito de mudar para melhor é a revolução. Como já aconteceu, séculos atrás, em toda a Europa.

Adinoel Motta Maia