sexta-feira, 13 de setembro de 2013

CONSCIÊNCIA GEOLÓGICA


Crônica científica

Em reunião de diretoria, ontem realizada, no Gabinete Português de Leitura, aprovou-se o programa da IV Semana da Baía de Todos os Santos, que ocorre anualmente entre 26 de outubro e 1º de novembro. O evento encerra o calendário do Projeto BTS a cada ano - www.gpl.salvador.com.br - e neste ano terá por tema: "Geologia, Geografia e História da Baía de Todos os Santos". Ainda no rastro das comemorações dos seus 150 anos de existência, essa notável agremiação cultural da Bahia está paulatinamente voltando-se para outros ramos da Leitura, que não apenas a artística - aí se situando a ficção em prosa e verso - habitualmente festejada nas águas de caudalosos rios literários, como os de Camões, Pessoa e Saramago, entre muitos outros. O fato motivador da programação de 2013 é o de ainda se desconhecer quase tudo sobre a nossa baía e o seu recôncavo, muito longe de nós, apesar de vivermos dentro dela. A falsa crença de que a Ciência é uma disciplina de difícil e cansativa prática nos tem afastado do conhecimento das coisas, não raramente delicioso e empolgante. Fazer uma abordagem científica da Baía de Todos os Santos pode ser algo tão gostoso como enfrentar uma semana de Carnaval, desde que se disponha a utilizar o cérebro com a mesma alegria com que se pode usar as ancas e as pernas.

Ali na sede do GPL, no Largo da Piedade, será montada uma exposição, naquele período, que mostrará, como nunca o foi, o relevo da nossa cidade do Salvador e da Bahia, nua e crua, isto é, como foi feita pela mãe Natureza, sem as edificações e as ruas, na sua mais precisa geomorfologia. Fruto do estudo e do trabalho do geólogo Rubens Antônio da Silva Pinto, do Museu Geológico da Bahia - quem ainda não conhece esse museu, ali no Corredor da Vitória, precisa passar uma tarde lá - a exposição terá cinco pequenas maquetes que permitirão não só ver, como sentir com os dedos, cada elevação e cada depressão do terreno da nossa Salvador, com seus vales e cumeadas, lugares onde estão nossas casas e as ruas por onde andamos, vistas de cima. Quem acha que conhece esta cidade, terá muitas surpresas. Mais importante e inédito é que a exposição será montada com o objetivo de permitir aos deficientes visuais - aquelas pessoas que andam pela cidade sem vê-la - justamente essa visão de sua topografia, do seu relevo, da sua geomorfologia, passando o dedo nos modelos reduzidos. Daí, o título da exposição, proposto pelo seu criador, o geólogo acima referido: "Utilização de Pequenos Modelos em 3D para Facilitação do Aprendizado dos Deficientes Visuais".
Ao contrário das demais exposições, esta permite que todas as peças sejam tocadas com os dedos.

Esse mesmo geólogo fará uma palestra intitulada "Associação de História, Condições e Modificações do Relevo de Salvador na Visão dos Colonizadores e dos Invasores - Influência do Relevo nos Eventos Históricos", no dia 29 de outubro, às 17 horas, de modo que os interessados poderão ver a exposição e em seguida ouvir o seu realizador, fazendo-lhe perguntas a ela referentes. Na tarde do dia anterior, ou seja, às 17 horas do dia 28, também no auditório do Gabinete Português de Leitura, o Prof. José Maria Landim Dominguez, do Instituto de Geociências da Universidade Federal da Bahia, fará palestra sobre a "Geologia da Baía de Todos os Santos", assunto no qual é especialista, com trabalhos publicados, que embasará o conhecimento da própria estrutura do Recôncavo da BTS, no qual se insere a cidade do Salvador. A rara oportunidade de ouvir estes dois pesquisadores nos exige, desde já, passar esta notícia para os nossos amigos, não só os dessa área do conhecimento, mas todos aqueles que optam pela consciência do que são e onde estão. Consciência essa que é cada vez mais rara, numa sociedade que privilegia a diversão, o consumismo e a alienação, em detrimento da informação que leva todos nós, animais, a evoluir para a intelectualidade. Nem só de alma (anima, movimento) vive o homem, sabemos todos.

A programação da IV Semana da Baía de Todos os Santos começará assim - prosseguirá até o dia 1º de novembro - com uma necessária base geológica. Chamaremos em seguida, a atenção de todos, para o fato de que não há História sem Geografia e não há Geografia sem Geologia. Este, aliás, será o slogan do evento. A presença do homem na Terra tem sido historicamente uma permanente adaptação sua, às condições geomorfológicas do planeta como um todo e de cada uma de suas regiões, inclusive submarinas, como do próprio mar. Às escolas onde se ensina Geografia e História, temos de provocar, para que seus professores estejam presentes e possam motivar seus alunos em sala de aula, com o que puderem absorver dessa experiência. Nas vezes em que visito o Museu Geológico da Bahia, costumo ver grupos escolares que se agitam em observação e questionamento do muito que ali se mostra. Jovens e também crianças são abertos ao aprendizado, ao enriquecimento cognitivo e ao desenvolvimento de sua personalidade, quando percebem novos horizontes da sua espécie e a comparam com as demais, desde os minerais. Negar essa oportunidade a eles, por mera acomodação, chega a ser um crime de lesa-humanidade. Passemos, portanto, às nossas agendas...

Adinoel Motta Maia