sexta-feira, 5 de abril de 2013

ESPÍRITO DE CORPO


Crônica científica

As diversas instituições humanas, desde a mais simples comunidade agrícola até a mais complexa empresa ou repartição pública, precisam e dependem de um certo espírito de corpo, que deve haver entre seus membros - indivíduos - ativos, para que se tenha uma estrutura capaz de organizá-las e mantê-las cumprindo as funções para as quais foram criadas. Daí serem citadas, referidas, como corporações. Não raramente, contudo, esse espírito de corpo se acomoda no que pejorativamernte se conhece como "corporativismo", quando os membros de uma instituição fazem um pacto de proteção dos seus interesses pessoais, contra qualquer alteração institucional de desenvolvimento ou crescimento, ou ainda de inovação, que contrarie o status quo do grupo dominante, o tal corpo assim satisfeito e acomodado.

É óbvio que a inovação só ocorre quando se está em posição contrária à da acomodação, que promove apenas o elogio fácil aos que acrescentam o que já se sabe ao que está inventado, para os que não sabiam e não inventaram coisa alguma. Mera transferência de conhecimento disponível, em cursos e pesquisas autopófagas, mesmo quando se chega a dissertações e teses que nada mudam, além dos salários de quem com elas ganham títulos.

Assim vive nossa Ciência, com a proposta de descobrir novas folhas numa mesma árvore. Nessa estrutura, quando aparece alguém a pensar por conta própria e propor pesquisa num sentido oposto, por desconfiar que essa árvore está morrendo e é necessário passar para outra, o espírito de corpo se espanta e espanta o indivíduo logo considerado "espírito de porco", inicialmente com uma simples acusação de que "quer aparecer", seguindo-se a de que é ignorante ou sonhador. Não adianta esse indivíduo reconhecer que o espírito de corpo é necessário ao desenvolvimento da ciência, em busca de novas tecnologias, naquilo que já se sabe e precisa ser aprofundado e derivado. Não adianta pedir licença para mostrar que seu espírito de porco só é contra estruturas viciadas do corporativismo - a acomodação do espírito de corpo - porque este não pretende mudar posições confortáveis, assim nada se descobrindo de realmente novo ou se inventando.

Há um evidente retrato de falência na sociedade humana contemporânea, em todo o mundo. Alguma coisa, na estrutura política, social e/ou econômica está em confronto com a natureza imutável do planeta, que se sustenta em leis universais, ao que parece, ainda desconhecidas. Há uma insistência cabotina inclusive no meio acadêmico, de quem presume que sabe tudo e que recusa o que chama de "virada de mesa", quando surge uma proposta realmente inovadora de dar uma nova formatação ao mundo que parece já arrumadinho mas se mostra cada vez mais em crise, não apenas social, econômica ou política, mas também física, da própria estrutura do planeta.

Essa gente costuma acusar ofensivamente a quem apresenta novas propostas, considerando-as fora do escopo e da estrutura científicos, sequer aceitando examinar hipóteses. Sem estas, não há ciência. É com a teoria ainda não comprovada que se começa o processo de pesquisa justamente para ir buscar essas provas. Negar a hipótese, a teoria, é não dar estrada para quem quer andar na ciência. A proposta de cada um ao fazer o seu caminho é somente dele, que pode chegar a um maravilhoso lago com muitos peixes ou a um abismo sem fim, sendo opcional a outras pessoas acompanhá-lo ou não.
Só para dar um exemplo de onde podemos ir e não se vai porque se impede de darmos o passo inicial, imaginemos um formigueiro ao qual retorna uma formiga que percebeu sua companheira ser achatada por um sapato e relata o fato sem ter a menor suspeita do que era esse sapato. Do mesmo modo como sequer suspeitamos de que podemos estar na superfície de um planeta que gira em volta de uma estrela (um "elétron"), que gira em volta do núcleo de uma galáxia (um "átomo"), que se junta a outras galáxias para formar uma "molécula", numa "célula viva" de um "macróbio", isto é, um ser tão grande - um "universo" - quanto é pequeno um micróbio para nós.

Pensemos nisso, os "espíritos de porco" que não estão satisfeitos com o atual espírito de corpo que nos cerca, apenas exigindo o próximo salário no banco, enquanto não chega a aposentadoria. Tenho um livro publicado em 1981, onde lancei essa hipótese. Ainda não me apareceu um único cientista disposto a me acompanhar nessa caminhada, mas já vejo na televisão alguns comentários sobre o Universo tendendo a falar nesse caminho. Quem viver, verá...

Adinoel Motta Maia