sexta-feira, 7 de setembro de 2012

DEPENDÊNCIA, INDEPENDÊNCIA E INTERDEPENDÊNCIA


Crônica

Nada mais oportuno do que conversarmos no dia 7 de setembro, sobre IN(TER)DEPENDÊNCIA!
Na medida em que evoluimos em nossa intelectualidade (ainda há quem valorize mais sua animalidade), a tendência é privilegiarmos a razão em benefício da emoção cultivada e controlada, contra o domínio da paixão, que nos traz doenças psíquicas e físicas, vícios, egoismo com roupa de amor, ódio, violência generalizada e finalmente, morte.

Não há independência nas nações sem democracia, porque as ditaduras costumam subordinar-se a interesses estrangeiros, mais econômicos do que políticos (ver o exemplo histórico brasileiro).  Por outro lado, não há democracia sem respeito à vontade e escolha do cidadão, isto é, do indivíduo que  cresce e pensa melhor na medida em que vive mais (maior experiência) e sabe mais (maior qualificação cultural e profissional). Em síntese, a valorização do indivíduo determina sua capacidade de escolha dos seus governantes em processos democráticos.
 
Assim como esses indivíduos não vivem isolados e dependem de suas relações com outros indivíduos, as nações também dependem, econômica, financeira, social, cultural e politicamente de outras nações. Não há nação rigorosamente independente. A Alemanha de Hitler tentou ser e fazer o que queria, dando no que deu. Hoje, a Europa é um conglomerado de nações, como os estados brasileiros e norteamericanos o são, constituindo federações. A Europa tende a ser os Estados Unidos da Europa. Sem amadurecimento político, não conseguirá atingir esse objetivo sócio-econômico. Enquanto estiver dominada pelas paixões patrióticas que têm provocado muitas guerras, deixará de colher a emoção da união, que só o amor promove.
 
O Brasil só conseguiu ser o País que é, porque os portuguêses foram capazes de unir todas as tribos e colônias num sistema de capitanias hereditárias controladas pela Corôa, mantendo-as sob o domínio de Portugal até sua independênica, unificando todo o território e colocando no trono brasileiro o filho do rei português. D. Pedro I, que depois seria rei em Portugal, como D. Pedro IV, declarou o Brasil independente, ficando tudo em família, ao contrário do que aconteceu com as colônias espanholas, desagregadas, cada uma com sua independência particular. Assim foi, porque quando Portugal descobriu o Brasil em 1500, tratou-o como um pai trata o filho no seu nascimento, entregando-o à sua mãe - a nação indígena multi-tribal então existente no seu território, cultural e politicamente primitiva, educando-a e dando-lhe uma única lingua, com uma única religião - como também ocorreu com as colônias espanholas - mas, além disso, com a fundação de um Vice-Reino e a decisão do Rei de Portugal em transferir o governo para cá, fazendo do Rio de Janeiro, por algum tempo, a capital do País, assim preparando-o para sua independência e para ser a capital do Império, sem separações. Independência essa, que, como sabemos, já vinha sendo exigida por intelectuais e comerciantes luso-brasileiros, inclusive na Bahia, onde houve lutas heróicas e assim foi concedida sob pressão, como um pai é pressionado para deixar seu filho sair de casa e cuidar da própria vida, relacionando-se com a família e pondo o sobrenome desta em seus próprios filhos.
 
É importante salientar que ao adquirirmos nossa independência política, não conquistamos a independência econômica. Saímos do domínio e influência imperialistas de Portugal para o domínio e influência capitlista da Inglaterra no século XIX e dos Estados Unidos da América no século XX, ditadura após ditadura, na República. A última, contra a qual se lutou, nos deixou  de frente para uma conjuntura econômica mundial permeada por guerras setoriais nas quais se alterou o conceito absoluto de independência para um estatus grupal, de países a formarem conglomerados com interesses comuns. O conceito de independência nacional vai se transformando em interdependência de mercados, que influem em decisões políticas, como vemos agora, por exemplo, com a Rússia se posicionando políticamente a favor da Síria porque depende econômicamente desta. Do mesmo modo como temos de ser amigos da China, no Brasil, por ser esse país nosso maior comprador de comodities. A Grécia, sem cão nem gato, submete-se ao Banco Central Europeu ou morre. Se ninguém tem mais independência absoluta, já é hora de eliminar as paixões e seguir a razão, para preservar as boas emoções da cultura e da civilização, extinguindo definitivamente nossas raízes tribais e optando por uma humanidade que reconhece sua condição intelectual.
 
Adinoel Motta Maia