sexta-feira, 31 de agosto de 2012

RESPONDA: QUEM SOU EU?

Crônica

   Desde minha adolescência, escrevendo contos ou lendo romances, dei especial atenção à ficção policial de mistério. Sem perceber isso, sempre tive uma preferência por questionar e investigar o que me cercava, a origem das coisas, a razão da existência, a causa dos fenômenos. Naturalmente, isso me levou aos autores estrangeiros, por absoluta falta de autores brasileiros com textos investigativos, fossem filosóficos, fossem científicos, fossem literários, nas bibliotecas e nas livrarias. Conheci os brasileiros contemplativos por imposição da escola, mas nenhum deles me propôs qualquer descoberta, além da realidade rural ou urbana de um país de pobres que se acomodam e de políticos que os exploram.
   Neste mês de agosto de 2012, completando 75 anos de vida, olho para trás e não me arrependo de ter seguido a minha senda, subido a minha escada, em busca de novos panoramas e horizontes, valorizando o ainda desconhecido, sem entender ou aceitar pessoas que não se interessam pelo que pode haver ao fim da sua rua, fora do seu bairro, além da sua cidade, cultivando a mesmice do dorme e acorda e o conforto do não me incomode com problemas existenciais ou conjunturais.
   Olho para as comunidades e vejo apenas rebanhos. Gado humano, como há o ovino, o bovino,,,
   Um desperdício do potencial que cada ser humano tem, geralmente menosprezado por falta de uso do cérebro além do que precisa para a própria subsistência, as repetidas e automáticas orações aos santos e a diversão com novelas e programas de auditório na televisão.
   Por exemplo, as comunidades não discutem a existência, a natureza ou a presença de Deus. Comunidades se reúnem numa igreja, seja qual for a seita, para ouvir o pastor de ovelhas, isto é, de pessoas que nada pensam e são criadas apenas para dar lã, leite e carne. Quando algum indivíduo, nessa comunidade, propõe essa discussão, é considerado ovelha negra e costuma ser ignorado ou expulso. Há quem o agrida e há quem o despreze, por não considerá-lo boa companhia. 
   Costuma-se ouvir, que este ou aquele assunto "não me interessa".
   Nesse caso estão os assuntos que exigem um pouco mais de atenção, de estudo, de análise e até mesmo, de investigação, que pode ser estimulante, mas que a maioria diz ser cansativa. Há um momento, no início da vida humana, ainda dentro do útero materno, em que a mãe tudo dá ao feto. É bom saber que nesta fase, o ser humano é quase apenas mais um órgão do corpo da mulher que o gera, dependendo dela para crescer, formar seus próprios órgãos, mover-se, sentir dor ou prazer e até pensar. Sustenta-se com a energia vital que a mãe retira do Sol, ao respirar o ar onde aquela se dissipa; e a energia motora, que adquire com os alimentos que ingere. Ao nascer, cortando-se o cordão umbilical, o feto deixa de receber tais energias e morreria imediatamente, se não pudesse aspirar por conta própria o ar com a energia vital do Sol, não se mantendo, sem o alimento, o leite materno, logo ingerido.
   A maioria das pessoas não sabem disso, nem querem saber...
   Nunca pensaram nisso e têm raiva de quem pensa...
   Nada é mais importante para um ser vivo do que a sua própria vida. Apesar disso, são poucos os que se interessam por investigar como é que a vida surge neles e um dia se afasta. Seu cérebro está acomodado, viciado com as paixões e fechado para a investigação. As pessoas se apaixonam com o que vêem, ouvem, tocam, degustam e cheiram e não raramente, satisfazem-se com essas emoções. Raras são as que descobrem o prazer maior da descoberta proporcionada pelo cérebro, quando, por exemplo, recebem a revelação de que não estão limitadas a ouvir música, mas podem compor uma canção. Não estão limitadas a ler uma notícia, mas podem produzir uma ao descobrir uma nova estrela no céu. Não estão limitadas a ver um filme sobre o câncer, mas podem pesquisar como curá-lo.
   Não estou perguntando a ninguém sobre o que cada um está investigando, neste momento, mas posso dizer que um começo é tentar responder à pergunta: quem sou eu? Podem, todos, ter a certeza de que, para essa pergunta, não há duas respostas iguais em todo o Universo.
 
Adinoel Motta Maia
 
 
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