sexta-feira, 7 de junho de 2013

COMPROMISSO COM A VERDADE


Crônica científica

Nosso compromisso com a verdade científica não depende de nossa vontade, porque não há como fugir dele, ainda que não se tenha conhecimento disso. Poderia dizer: ainda que não se tenha consciência disso. Parece ser  a mesma coisa. Não o é. O conhecimento é opcional e pode ser imposto por terceiros, enquanto a consciência é inerente ao ser, pertence a este, não há como subtraí-la dele, porque em verdade, é ela que o cria e o faz evoluir. Se isto não está claro, é justamente porque, embora tendo a consciência desse compromisso - não se pode fugir dela - podemos não ter o conhecimento em nosso cérebro, de que o possuímos e obrigatoriamente, devemos cumpri-lo. Este pensamento é cartesiano e constitui a base de toda a ciência, que promove a tecnologia. Merece, portanto, que dediquemos algum tempo e o esforço necessário para sua compreensão, aceitação e aplicação - nesta ordem. Como tudo, o progresso nessa direção depende de disciplina. Qualquer dificuldade nesta tarefa - em qualquer tarefa - deve-se exclusivamente à falta dessa disciplina. Sem disciplina, não se faz progresso. Infelizmente, pouca gente a cultiva, porque ainda não olhou em volta e se olhou, não viu que os que não progridem na vida são justamente os indisciplinados, isto é, os que não seguem as leis, as regras, as normas da Natureza e/ou as do Homem, mantendo-se fora da Justiça e do Direito.

Vencida essa preliminar, podemos abordar a questão que motiva esta nossa reflexão de hoje: nem toda verdade é científica. Sempre se praticou o ato lamentável de forjar uma verdade, repetindo uma mentira. O homem costuma afirmar coisas sem o conhecimento necessário para isso, motivado apenas pela sua necessidade em que seja assim, do jeito que ele diz. Outros, que o conhecem e respeitam, repetem essa afirmação e quando menos se percebe, já existe uma guerra entre povos porque um deles está errado e não sabe disso. Neste momento, o mundo inteiro está em conflito e caminhamos celeremente para uma guerra total - isto seria o Juízo Final - apenas porque lá atrás, um homem mentiu - por má fé ou ignorância - e foi conveniente para todos os que o ouviram, acreditar nessa mentira e alimentá-la, fazendo-a circular e assim ampliando cada vez mais esse círculo. É dessa "verdade" assim criada e cultivada que surgem todas as crenças. Sem exceção.

A verdade científica é aquela que parte de uma necessidade básica: manter a nossa própria existência. Por isso temos todos o compromisso de respeitá-la, ainda que não saibamos disso e pratiquemos, assim, a mentira. Ninguém consegue enganar os outros sem enganar primeiro a si próprio. Essa vontade e decisão de enganar já é a prova de que a pessoa está sendo enganada por ela mesma, que não percebeu ainda estar prejudicando sua evolução. A verdade científica é aquela que só se revela através do conhecimento adquirido pela observação e a experimentação repetidas de um mesmo objeto ou fenômeno, através processos que são geridos por leis físicas ou psíquicas, todas impostas pela Natureza. Assim, por exemplo, a Química e a Biologia são disciplinas montadas em verdades científicas que exigem o máximo rigor para serem aceitas. Já a História e a Religião, não raramente sofrem a intervenção da Política, que, por interesses humanos, ditos sociais, impõem práticas abusivas que escondem ou revelam dados, manipulando-os ao sabor de um projeto de Poder, divulgando "verdades" que, assim, não são científicas, mas apenas servem aos interesses de um grupo, em um lugar e em um momento, exigindo revisões sucessivas. Quando alguém ousa encarar cientificamente um fato histórico, não raramente cria uma polêmica e costuma ser censurado pelas estruturas do Poder Estabelecido.

Mais cedo ou mais tarde, no entanto, surge uma brecha e um pesquisador independente consegue atingir aquele compromisso que inconscientemente cada um de nós tem com a verdade científica e pode reconhece-la, desde que não tenha preguiça para persegui-la, depois de encara-la. Podemos afirmar que essa postura pode ocorrer involuntariamente e até contra os interesses momentâneos do indivíduo, que assim perturbado pelo afloramento do seu Inconsciente compromissado com a verdade, aceita o desafio de opor-se ao que está estabelecido. Infelizmente, são poucas as pessoas que conseguem ouvir o seu Inconsciente e entre estas, há as preguiçosas, que se satisfazem com o Circo.

Adinoel Motta Maia