sexta-feira, 14 de junho de 2013

SABEDORIA POPULAR É CIÊNCIA


Crônica científica

Minha avó dizia: "Dizes com quem andas, que te direi quem és". Também dizia: "Quem com porcos se mistura, farelos come". Ela nasceu ainda na Monarquia, em março de 1889. Foi educada como mulher, isto é, sem maior intimidade com a Ciência, porque, então, era vergonha para a família, se suas mulheres sabiam mais do que deviam e pior, se sabiam mais que seus respectivos maridos. Os patriarcas orgulhavam-se, ao dizer: "Minha filha não precisa trabalhar nem saber coisa alguma". O que se permitia a elas, no topo da sua sabedoria, era repetir frases feitas - por homens, naturalmente - com a observação e experiência secular ou milenar, de todos os povos, passadas oralmente de uma pessoa para outra. O que justificava essa repetição era justamente a confirmação da experiência, feita inúmeras vezes, com o mesmo resultado, como se exige, hoje, no método científico. Para ser verdade, uma afirmação deve ser testada inúmeras vezes e ter um mesmo resultado, confirmando-a.

As duas frases acima citadas, nas primeiras linhas desta crônica, são mantidas pela sabedoria popular, porque se confirmam no cotidiano das experiências pessoais. São científicas, portanto. Antropólogos e sobretudo, sociólogos, quando zelam por carteirinhas partidárias, ideologicamente comprometidos para servir interesses meramente políticos, costumam negar a validade e importância de frases como essas, vendo nelas uma conotação preconceituosa. Como, no entanto, ver preconceito numa afirmação concebida há séculos e que se verifica a cada dia até hoje, na prática social em todos os povos, sem exceção? Em verdade, qualquer frase pode ter diversas interpretações, a depender da conotação que se empresta a cada palavra, mas cientificamente, cada palavra tem um único e preciso significado, único e preciso daquele símbolo, quando denotativa, isto é, conforme está no dicionário, sem sentido figurativo ou paralelo, sem a imitação dos poetas que as utilizam como metáforas ou quaisquer outras figuras de linguagem. Fria e objetivamente, como é fria e objetiva a realidade imposta pelas leis da Natureza.

Vamos a um exemplo: quem vê o seu filho saindo à noite com um vizinho que usa ou vende drogas não deve afirmar que ele usa ou vende drogas, também. O sentido da frase - "quem com porcos se mistura, farelos come "- é o de que, ao estar junto desse amigo, caso este seja preso ou assassinado na rua, ele também "comerá" os farelos resultantes daquela ação, ou seja, será detido para interrogatório ou receberá uma bala perdida, seja ou não um drogado ou um traficante. Só o fato de se morar ao lado de um traficante de drogas - usando-se o mesmo exemplo - pode trazer consequências danosas. Não estamos discutindo se a pessoa tem alternativa a curto, médio ou longo prazo, para sair daquele convívio. Esta é uma outra questão, que não invalida a frase. Também não estamos a dizer o que cada um deve fazer. O destino de uma pessoa só pode ser determinado por ela própria. Evidentemente, sua vida futura dependerá de suas ações no presente e no passado, mas só depende dela, isto é, do modo como processa os dados que coloca em sua memória, porque, até os fatores externos que podem incidir nos resultados também são frutos de uma decisão sua, anterior. Por isso é que o sofrimento é fundamental para a educação, seja esse sofrimento o dos estudos e trabalhos escolares num dia em que poderia estar na praia, seja o de uma morte prematura, que ensina como proceder numa vida posterior.

Do mesmo modo, a outra frase - "dizes com quem andas, que te direi quem és" - é ainda mais óbvia. Não quer isso dizer que não poderei ter um amigo desportista, se sou um deficiente físico, mas é evidente que não poderei dar a esse amigo as mesmas respostas e fazer-lhe companhia permanente, se não o posso acompanhar nas suas preferências culturais, que, no caso, dependem de aptidão fisiológica. Assim, quem vê o seu filho cercado por mulheres, sabe que ele as aprecia ou as imita, do mesmo modo que um pombo não anda num bando de andorinhas e um tubarão só persegue uma sardinha para a comer. Assim é a Natureza e as pessoas antigas, com pouca ou nenhuma educação na escola, aprendiam no cotidiano de sua vida, guardando suas observações na memória e aceitando o processamento determinado por seus neurônios, à revelia da sua vontade. A lição que se tira de tudo isso é que cada um de nós pensa diferente e é diferente dos outros porque cada indivíduo formata o seu ego com suas experiências diárias, independentemente de cada uma das pessoas à sua volta. É por isso que, ao morrer, alguns vão para o Paraíso e outros permanecem aqui, mantendo-se no Inferno até aprender com o próprio sofrimento, indispensável para a evolução.

Adinoel Motta Maia