Crônica
científica
O
noticiário da televisão mostrou hoje pela manhã a imagem de um rabo de cobra a
balançar na ponta da asa de um avião em voo na Austrália – seu corpo de três
metros de comprimento estaria quase todo dentro da asa – feita pela janela, por
um passageiro, informando que o animal morreu e que ninguém sabia como entrara
ali.
Procedimento típico dos animais, que têm alma (anima), isto é, movimento, animação, mas não têm intelecto, isto é,
inteligência, como ocorre com os homens. É verdade que há muitos homens, com
equipamento neural (cérebro) capaz de aplicar a inteligência, mas não a
utilizam, exigindo pouco ou quase nada dos seus neurônios e dendritos para a
memória e o processamento, principalmente este. Já se tem notícia de seres
humanos, meramente animais, que tentam viajar de graça em compartimentos de
trem de pouso das aeronaves e ali morrem congelados – o frio é muito grande em
altitudes em torno dos dez mil metros.
Uma coisa é
ter o equipamento e outra é saber ou querer utilizá-lo. Embora todos os homens
sejam considerados intelectuais, porque estão equipados para isso, podemos classificá-los
rigorosa e cientificamente, quanto à utilização do cérebro, em animais, intelectuais
e sapienciais. O fato de um homem poder correr
não faz dele um corredor, um atleta. Do mesmo modo, o fato de um homem poder pensar, não faz dele um pensador.
É necessário utilizar o seu potencial e exercer a atividade específica, para
receber a qualificação correspondente, com ou sem informação, com ou sem
treinamento, isto é, com ou sem educação. Podemos, assim, ver, no cotidiano das
cidades, mas principalmente no campo, que ainda há homens tipicamente animais,
que utilizam o cérebro como o fazem os cavalos, os cães e outros mamíferos,
apenas para atender as necessidades de sua sobrevivência e da convivência no
seu ambiente social, sem qualquer incursão no reino da subjetividade que
utiliza e cria símbolos, cultivando-os em relações mais ou menos complexas, que
empregam intelecto, inteligência.
Com o
treinamento, pode-se dar ao animal um comportamento diferenciado, ajustando-o
ao convívio com o intelectual. Não basta fazer isso com o homem, que é capaz de
processar informação e tem, no seu cérebro, uma capacidade gigantesca de
acumular dados. Ousamos afirmar que devemos classificar os homens, portanto,
quanto à capacidade de memória e à velocidade de processamento de dados, em:
animais, intelectuais e sapienciais. Substituiremos por esta, a atual
classificação – inferior (educação fundamental), médio (educação operacional) e
superior (educação universitária) – assim ampliando-a em função da capacidade
utilizada de memória e da velocidade adquirida de processamento de dados.
Em outras
palavras, deixamos aos homens que optam pelo menor esforço e querem apenas
fazer sexo, divertir-se, distrair-se, realizar trabalhos braçais, manter
relações sociais festivas e familiares, comer e beber além do necessário à
sobrevivência e entregar-se ao ócio e ao vício; o direito de manter-se como
animais. A todos eles, no entanto, temos de abrir os portões e convidá-los, sem
obrigá-los, respeitando o nível dos seus respectivos egos, a educarem-se e
utilizarem seus equipamentos neurais, intelectuais, para desenvolver a
inteligência, trabalhando com número crescente de dados (memória) e velocidade
crescente de processamento, criando e interpretando símbolos cada vez mais
complexos e penetrando em reinos como o da lógica e da matemática, para fazer
filosofia e ciência, com aplicação tecnológica inovadora. Assim intelectuais,
inteligentes, poderão, finalmente, contribuir evolutivamente para aumentar
geneticamente sua capacidade de memória e a velocidade de processamento dos
dados assim guardados (como fazemos com nossos computadores), até que, tendendo
para o infinito essa capacidade e essa velocidade, com um novo cérebro ou algo
melhor que ele, possamos dizer que o homem é sapiencial, sapiente. Aí, talvez,
já não seja um homem ou esteja pronto para deixar de sê-lo...
Evidentemente, para fazer esse exercício, temos de
mexer um pouco na teoria da evolução das espécies, aceitando que esta ocorre
por pressão das necessidades psíquicas – reprodução pressionada – dos seres e
não por conveniências ambientais. Por outro lado, é também necessário aceitar
que temos um ego neural – no cérebro – que morre com sua memória e
processamento, ao lado e ligado a outro ego, eterno, meramente psíquico, que
acumula dados e cresce em velocidade, ligado vida após vida a corpos físicos,
não necessariamente biológicos, podendo ser eletrônicos e eletromecânicos.
Esta também é uma forma de falar em fim do mundo, em
juízo final e em Reino de Deus. Estamos escrevendo uma trilogia onde se mostra
que Jesus – um ser sapiencial – veio nos dizer isto há dois mil anos. Naquela
época, ele lançou pérolas aos porcos e foi ameaçado de morte. Hoje, graças a
Ele, já podemos falar sem medo de represálias, porque, afinal, já há muitos
sapienciais entre nós, todos vivos.
Adinoel Motta Maia
O primeiro livro da trilogia Nortada,
A
CRUZ DOS MARES DO MUNDO,
já está há um ano nas livrarias; o segundo, A NOITE DOS LIVROS DO MUNDO, está chegando agora em janeiro e o
terceiro, A TRILHA DOS SANTOS DO MUNDO, será publicado em março/abril
deste ano. Podem ser pedidos às livrarias Saraiva e Cultura, entre outras, pela
internet ou diretamente à distribuidora (www.lojasingular.com.br) do Grupo
Ediouro – RJ.