sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

ANIMAIS, INTELECTUAIS E SAPIENCIAIS


Crônica científica

   O noticiário da televisão mostrou hoje pela manhã a imagem de um rabo de cobra a balançar na ponta da asa de um avião em voo na Austrália – seu corpo de três metros de comprimento estaria quase todo dentro da asa – feita pela janela, por um passageiro, informando que o animal morreu e que ninguém sabia como entrara ali.

   Procedimento típico dos animais, que têm alma (anima), isto é, movimento, animação, mas não têm intelecto, isto é, inteligência, como ocorre com os homens. É verdade que há muitos homens, com equipamento neural (cérebro) capaz de aplicar a inteligência, mas não a utilizam, exigindo pouco ou quase nada dos seus neurônios e dendritos para a memória e o processamento, principalmente este. Já se tem notícia de seres humanos, meramente animais, que tentam viajar de graça em compartimentos de trem de pouso das aeronaves e ali morrem congelados – o frio é muito grande em altitudes em torno dos dez mil metros.

   Uma coisa é ter o equipamento e outra é saber ou querer utilizá-lo. Embora todos os homens sejam considerados intelectuais, porque estão equipados para isso, podemos classificá-los rigorosa e cientificamente, quanto à utilização do cérebro, em animais, intelectuais e sapienciais. O fato de um homem poder correr não faz dele um corredor, um atleta. Do mesmo modo, o fato de um homem poder pensar, não faz dele um pensador. É necessário utilizar o seu potencial e exercer a atividade específica, para receber a qualificação correspondente, com ou sem informação, com ou sem treinamento, isto é, com ou sem educação. Podemos, assim, ver, no cotidiano das cidades, mas principalmente no campo, que ainda há homens tipicamente animais, que utilizam o cérebro como o fazem os cavalos, os cães e outros mamíferos, apenas para atender as necessidades de sua sobrevivência e da convivência no seu ambiente social, sem qualquer incursão no reino da subjetividade que utiliza e cria símbolos, cultivando-os em relações mais ou menos complexas, que empregam intelecto, inteligência.

   Com o treinamento, pode-se dar ao animal um comportamento diferenciado, ajustando-o ao convívio com o intelectual. Não basta fazer isso com o homem, que é capaz de processar informação e tem, no seu cérebro, uma capacidade gigantesca de acumular dados. Ousamos afirmar que devemos classificar os homens, portanto, quanto à capacidade de memória e à velocidade de processamento de dados, em: animais, intelectuais e sapienciais. Substituiremos por esta, a atual classificação – inferior (educação fundamental), médio (educação operacional) e superior (educação universitária) – assim ampliando-a em função da capacidade utilizada de memória e da velocidade adquirida de processamento de dados.

   Em outras palavras, deixamos aos homens que optam pelo menor esforço e querem apenas fazer sexo, divertir-se, distrair-se, realizar trabalhos braçais, manter relações sociais festivas e familiares, comer e beber além do necessário à sobrevivência e entregar-se ao ócio e ao vício; o direito de manter-se como animais. A todos eles, no entanto, temos de abrir os portões e convidá-los, sem obrigá-los, respeitando o nível dos seus respectivos egos, a educarem-se e utilizarem seus equipamentos neurais, intelectuais, para desenvolver a inteligência, trabalhando com número crescente de dados (memória) e velocidade crescente de processamento, criando e interpretando símbolos cada vez mais complexos e penetrando em reinos como o da lógica e da matemática, para fazer filosofia e ciência, com aplicação tecnológica inovadora. Assim intelectuais, inteligentes, poderão, finalmente, contribuir evolutivamente para aumentar geneticamente sua capacidade de memória e a velocidade de processamento dos dados assim guardados (como fazemos com nossos computadores), até que, tendendo para o infinito essa capacidade e essa velocidade, com um novo cérebro ou algo melhor que ele, possamos dizer que o homem é sapiencial, sapiente. Aí, talvez, já não seja um homem ou esteja pronto para deixar de sê-lo...

Evidentemente, para fazer esse exercício, temos de mexer um pouco na teoria da evolução das espécies, aceitando que esta ocorre por pressão das necessidades psíquicas – reprodução pressionada – dos seres e não por conveniências ambientais. Por outro lado, é também necessário aceitar que temos um ego neural – no cérebro – que morre com sua memória e processamento, ao lado e ligado a outro ego, eterno, meramente psíquico, que acumula dados e cresce em velocidade, ligado vida após vida a corpos físicos, não necessariamente biológicos, podendo ser eletrônicos e eletromecânicos.

Esta também é uma forma de falar em fim do mundo, em juízo final e em Reino de Deus. Estamos escrevendo uma trilogia onde se mostra que Jesus – um ser sapiencial – veio nos dizer isto há dois mil anos. Naquela época, ele lançou pérolas aos porcos e foi ameaçado de morte. Hoje, graças a Ele, já podemos falar sem medo de represálias, porque, afinal, já há muitos sapienciais entre nós, todos vivos.

Adinoel Motta Maia

O primeiro livro da trilogia Nortada, A CRUZ DOS MARES DO MUNDO, já está há um ano nas livrarias; o segundo, A NOITE DOS LIVROS DO MUNDO, está chegando agora em janeiro e o terceiro, A TRILHA DOS SANTOS DO MUNDO, será publicado em março/abril deste ano. Podem ser pedidos às livrarias Saraiva e Cultura, entre outras, pela internet ou diretamente à distribuidora  (www.lojasingular.com.br) do Grupo Ediouro      RJ.