sexta-feira, 19 de julho de 2013

EXPLICA MAS NÃO JUSTIFICA


Crônica científica

Há sempre duas maneiras de encarar o noticiário da televisão: a emocional e a racional. O homem intelectualmente mediano tende a olhar as imagens e deixar-se envolver pelos comentários que ultrapassam os simples dados e acrescentam opiniões centradas apenas nas próprias imagens e na emoção que elas carregam e contribuem para o aumento do interesse do telespectador. Ao contrário, quem possui ou busca dados fora da notícia, consegue articular essas imagens com tais conhecimentos e chegar a outros resultados, científicos, que podem contribuir para responder algumas questões e encontrar soluções. Como o percentual de telespectadores que apenas assistem preguiçosamente os noticiários é bem maior do que o dos que analisam e discutem o que vêm e ouvem, forma-se uma "opinião pública" nem sempre compatível com a realidade dos fenômenos mostrados. Dizem os produtores e editores desses noticiários: não é função da televisão educar, mas apenas informar.

Um bom exemplo para ser enfrentado cientificamente é o da violência que é mostrada nas manifestações de rua, nestes dias de protestos e revolta. Temos sempre de nos posicionar contra a violência, porque somos seres intelectuais e temos não apenas a alma  (anima = movimento) dos animais, mas também um ego neural com sua central de memória e processamento, o cérebro. Não se deve, portanto, apoiar a violência entre os homens, porque esta é uma característica dominante nos animais ainda desprovidos de intelecto. Contudo, assim como se justifica matar para não morrer - isto é violência -  não se justifica invadir, quebrar, destruir aleatoriamente, quando se está revoltado contra alguém ou alguma coisa. Isto apenas explica a ocorrência, mas não a justifica. Só o intelectual sabe a diferença entre o que se explica e o que se justifica. O animal não vê essa diferença. Só o intelectual pergunta: por que explica?

Se estamos numa democracia que elege e empossa os eleitos pelo voto livre e individual de cada cidadão e se vivemos num regime no qual os tribunais estão abertos e funcionam cientificamente (não apenas emocionalmente), não há razão para haver revolta popular. Não estamos no caso da Revolução Francesa, feita não apenas porque o povo passava fome e Maria Antonieta o afrontava com brioches. A ciência exige, no entanto, que se pergunte: se assim é, por que ao lado dos intelectuais que protestam pacificamente, estão os animais que invadem, quebram e destroem tudo à sua frente. A resposta é uma só: o que promove a violência, a revolta ainda parcial e freada, no Brasil - esse freio pode falhar e faltar em seguida -  é o cinismo dos eleitos pelo povo, que promovem a corrupção, a doença e a ignorância, para se manterem no poder com a leniência dos tribunais que não fazem justiça ou a retardam a ponto dos autores processuais morrerem antes de verem o fim dos seus processos, que prescrevem.

Em outras palavras: quando a democracia e a justiça funcionam apenas parcialmente, para o preenchimento dos cargos, mas não funcionam para destituir os que não cumprem as promessas de campanha e usam o poder para corromper o próprio povo com esmolas, empregos diretos e tudo o mais que mantenha esse povo ignorante e submisso, subserviente, acomodado, leniente e assim corrompido, é natural que a revolta se instale e se justifique, perante uma democracia e uma justiça mascaradas, restritas apenas ao processo eleitoral, sem a apuração das promessas e posturas nele apresentadas. Como ocorre com a mulher (ou o homem) que promete fidelidade ao homem (ou à mulher) e o (ou a) engana após o casamento, sem possibilidade de anulação do matrimônio. Cientificamente, assim se explica a revolta e até se justifica a violência contra os enganadores. Por isso é que num processo revolucionário - que não cheguemos a ele - suspendem-se os direitos legais e estabelece-se a vontade dos que ainda são animais.

Em resumo, violência não é coisa para intelectuais. Corrupção e infidelidade também não. Quando estas dominam, aquela, ainda que não se justifique, se explica.

Adinoel Motta Maia