quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

CARNAVAL COM CIDADANIA


Crônica científica

Esta crônica, das sextas-feiras, é antecipada, nesta semana, porque dentro de algumas horas estarei na estrada, fugindo da animalidade - isto é, do inferno - em que se transformou o Carnaval, em Salvador, quando e onde gado humano conduzido por vaqueiros eletrônicos, pode descontrolar-se como num estouro de boiada, comprimindo-se em avalanche horizontal, fomentando tudo o que é proibido para a saúde física e psíquica, sob o estímulo da música, do álcool e de outras coisas... deixando uma sujeira no chão e no ar, que se mistura aos virus importados de todo o mundo, que aqui chegam em aviões de carreira. Minha experiência é a de que, ano após ano, quando volto na quarta-feira de cinzas, a cidade está fedendo.
 
Deixo-a, assim, aos que ainda curtem - como já curti - a animação. Não é esta que me afasta, mas, sim, o seu descontrole, a sua banalização, a sua agressão. Em síntese, a queda da intelectualidade que lhe dava sabor em outra época. Em crônica anterior, referí-me à dança nesse contexto animal e recebi pelo Facebook uma oportuna intervenção, à qual respondi com uma necessária explicação: a dança pode ser puramente animal, sem o componente intelectual que lhe enriquece e a transforma em arte. A dança, no animal, é um poderoso agente promotor da reprodução. Não é por outro motivo que os animais dançam antes do coito e assim seduzem seus parceiros, apenas mostrando o quanto de prazer podem proporcionar com aqueles movimentos. A mãe Natureza determina que a reprodução é função básica de todos os seres, indispensável à evolução das espécies. O Universo, como entidade, tem apenas duas leis gerais - a da atração (amor, gravidade) e a da evolução - causa e efeito que promovem o aumento da complexidade das estruturas de consciência.
 
Desde a luz, partículas evoluem em estruturas de consciência que as organizam em matéria, inicialmente plasma (fogo), depois gases, depois minerais líquidos e sólidos, depois vegetais, depois animais, que conquistaram a inteligência e agora evoluem para a sapiência.  Precisamos de Escola para mostrar como isso é a base de toda a consciência humana. Escola que ensinará também como se brinca no Carnaval, na medida em que apresenta os valores reais da vida. Escola que não prepara o indivíduo apenas para ganhar dinheiro, mas que além de lhe dar cidadania, lhe ensina a ser feliz

Ainda podemos salvar o nosso Carnaval, portanto, se o fizermos com ciência, com informação e raciocínio lógico, com discussão e análise de resultados, como intelectuais. O intelectual é o animal que tem uma estrutura neural - um sistema nervoso - que o capacita a perceber e criar símbolos, como os literários e os matemáticos. Há seres humanos intelectualmente tão pobres, que os podemos nivelar com os seres puramente animais, isto é, apenas com anima - palavra latina que se traduz como alma e que as religiões utilizam para referir-se ao ego eterno que todos os seres têem, mas que, em verdade, é apenas a força produtora do movimento, cujo valor, como nos mostrou Isaac Newton, é função direta da massa e da aceleração nesse movimento (sua segunda lei da dinâmica). Podemos encontrar essa pobreza de intelecto em homens que apesar de terem uma máquina complexa como o cérebro, ninguém os ensina como usá-lo. Por falta de educação, pode-se ter uma Ferrari enferrujando no quintal, sem que se saiba sequer como abrir as portas do carro. Sim, Carnaval também se ensina na Escola.
 
 
Adinoel Motta Maia